Entrevista Rodrigo do Ó – Presidente Cessante da AEIST

Entrevista ao Presidente cessante da AEIST, em Abril de 2016

 

Uma das principais decisões da direção da AEIST este ano foi publicar na Assembleia Geral de Alunos (AGA) o valor do passivo da AEIST, 415.000€. Qual é o contexto desta dívida? Há quanto tempo começou a ser contraída?

Apesar de termos tido uma perspetiva totalmente diferente da tida anteriormente, eu consigo compreender que, em ocasiões passadas, não se tenha exposto abertamente esta situação, visto ser chocante e fraturante termos chegado a este ponto. No entanto, achámos, tendo em conta o passivo existente, que os estudantes iam compreender pelo menos o porquê da associação não conseguir fazer o mesmo tipo de atividades que fazia antigamente.

Não consigo precisar quando é que esta dívida começou a ser contraída, em grande parte porque foi gerida durante muito tempo. Houve bastante tempo para agir, contudo, era, e é, precisa abertura por parte das várias direções para se perceber que há mudanças a fazer e tendo mandatos tão curtos, de um ano ou dois, torna-se difícil realizar mudanças profundas. Se se for gerindo, vai-se acumulando sempre mais, embora tenham ocorrido flutuações entre crescimento e mitigação de dívida. Para estas flutuações terminarem seria necessária, durante uma série de anos, a existência de uma política, não digo de contingência, mas de responsabilidade e sustentabilidade. Acho que a maneira real como se tem de olhar para uma associação de estudantes é, por um lado, numa perspectiva empresarial e, por outro, numa perspectiva de associação. E a parte empresarial, com todas as actividades correntes, tem de ser no mínimo sustentável e, preferencialmente, lucrativa, de modo a financiar a perspetiva da associação.

 

-Na estrutura da AEIST o Conselho Fiscal (CF), que supostamente deve confirmar e dar o seu parecer sobre os relatórios de contas, não resultou. Não se deveria ponderar uma correção da estrutura da AEIST? Porque é o CF não foi eficaz ao longo deste tempo?

O que eu penso é que não deve haver um acerto à estrutura mas sim um acerto de mentalidades, mais concretamente de como nós gerimos a situação. Analisando a situação de forma simples, o CF recebe o plano de actividades e orçamento no início do ano e, no fim, pede o relatório das respetivas atividades e despesas. No entanto, há muitas medidas tomadas que não têm necessariamente repercussões imediatamente visíveis. Desta forma, há coisas que podem passar despercebidas ao CF ou à direção.

Uma sugestão que deixo aqui, para aqueles que vierem a seguir, é a realização de relatórios de contas trimestrais, de modo a melhor se compreender a evolução durante os mandatos.

 

Outro problema que também pode ser identificado é que, sendo o CF eleito democraticamente, ser recorrente existirem listas com candidaturas paralelas à presidência e aos órgãos de controlo, o que pode retirar alguma imparcialidade ao CF. Não há também a possibilidade de alterar a forma de eleição? Elegendo o cargo num regime menos transitório ou com imparcialidade mais definida, recorrendo, por exemplo, ao Conselho de Gestão do Técnico (CG)?

Antes de responder, discordo completamente que o CG tenha algo a ver com a AEIST e acho que tem de ser uma máxima, que algumas vezes tem sido esquecida, o facto de a AEIST ser completamente independente do CG para que, assim, possa defender bem os direitos dos alunos.

Quanto à questão das candidaturas paralelas, não acho que isso seja necessariamente um problema, pois não implica que não exista profissionalismo. De facto, a minha lista de CF foi constituída por pessoas que já tinham pertencido a mandatos anteriores, enquanto a minha lista de direção era composta por 95% de pessoas novas, não foi uma lista de continuidade. A candidatura para o CF era constituída por pessoas do mandato anterior e de outras abrangências do técnico, com perspetiva de querer nesse órgão pessoas que não tivessem problemas em questionar-me. Não quer isto dizer que não aconteça tomar-se uma decisão errada, visto estarmos tão envolvidos no meio em que estamos a trabalhar.

Sim, essa responsabilidade também não é só de quem se está a candidatar mas, deve ser responsabilidade dos alunos ou da estrutura democrática…

Sim, se houvessem mais listas, mas isto remete para outro problema que é a participação dos estudantes na vida associativa ou governativa, que é mais preocupante.

 

Continuando no âmbito financeiro da AEIST, na AGA deste ano foram referidos os balanços dos 2 últimos anos letivos, sendo estes negativos, de 150 mil euros em 2014 e 40 mil euros em 2015. Este ano, já se consegue dizer se em Maio o balanço será positivo?

Existiram várias nuances em 2014 devido ao projecto Copypoint, que teve um investimento grande, mas não foi essa a única razão. Estamos a falar de uma situação de crise económica e a AEIST é sustentada por apoios do IPDJ, da CML e do Técnico, que também tiveram as suas estruturas reduzidas e cujos apoios foram cortados. Julgo ter sido uma das nossas principais vulnerabilidades.

Enquanto o ano não acabar efectivamente, não te posso avançar se vamos ter lucro ou não, nem te consigo adiantar valores. Mas posso avançar-te que ainda estamos com resultado positivo e abatemos 20% do nosso passivo, o que já é bastante bom. Nesta cadência, ainda vamos demorar 4 anos até estarmos completamente sustentáveis.

 

A piscina da AEIST, tinha sido encerrada em fevereiro de 2015, o vosso plano é reabilitar a piscina fazendo uma parceria com o técnico? Qual é esse plano?

A piscina foi encerrada na altura por uma questão de segurança, mas foi nos entregue no inicio do mandato já com capacidade  de ser aberta, a decisão de não a abrir foi minha. Mesmo na altura em que a piscina funcionava em pleno, tínhamos prejuízos mensais a rondar os 6 mil euros. As dimensões da piscina tornaram-se uma limitação, só tem 4 pistas de 25 metros de comprimento, e tornam-na inviável, porque a piscina costumava estar cheia. Como não é possível expandir a piscina e abriu muita concorrência recentemente à nossa volta, que pratica preços muitos baixos, é difícil mantermos o nosso género de mercado. A hipótese alternativa, que seria renovar um pavilhão de 1937 para condições exuberantes, para se poderem aplicar preços mais altos, implicaria uma exuberância de dinheiro também, que não é oportuna.

Depois de tomada esta decisão, surgiu a necessidade de revermos o que podemos fazer com a piscina, tivemos reuniões com o CG do Técnico e com a reitoria da Universidade de Lisboa. Há várias possibilidades a ser discutidas e vamos analisar em breve, com arquitetos indicados pelo Técnico e com o vice-presidente da Gestão de Espaços do IST, outros usos possíveis para o pavilhão.

 

Outro assunto, apresentado no plano de actividades da vossa candidatura e também no discurso de tomada de posse, é o vosso objectivo de “mudar o paradigma de desinteresse da nossa geração”, como aproximar a AEIST dos alunos. Como avalias o teu trabalho, ou como é a tua antevisão de como consegues acabar o ano, relativamente a este assunto?

A mudança do paradigma de desinteresse não é um processo que se resolva de um ano para o outro. Não há uma alavanca mágica que se possa puxar para resolver o problema.

Considero que tem havido mais abertura este ano, pelo menos dentro dos membros da AEIST e dentro da própria direção, à qual até dei um pequeno mote para que fossem capazes de saberem eles próprios, por convivência, quais são os problemas dos alunos do técnico e não se fecharem no edifício da associação, ao inverso do que se via no passado. Eu não consegui sair tantas vezes como queria, mas uns “sacanas” ainda conseguiram umas fotografias minhas a estudar no Aquário [Risos], porque é verdade, eu estudo. Não tenho muito tempo para o fazer, mas estudo.

Contudo, é complicado a AEIST credibilizar-se perante os alunos se não consegue ter noção dos seus problemas, o que só consegue com contacto permanente. É um traço comum haver muitas queixas entre colegas, mas não é vulgar entenderem que se levarem essa queixa à associação o resultado pode ser diferente e que não cai em ouvidos moucos. O problema é este distanciamento entre o aluno, os seus problemas e a associação como estrutura. Acho que se as pessoas compreenderem melhor a Associação dos Estudantes acabará por haver uma maior afluência a esta, com a intenção de ajudar os outros.

 

A direção atual foi eleita com cerca de 700 votos, numa faculdade de 12.000 alunos, o que demonstra que não há essa concretização de interesse. Onde é que isso pode ser corrigido? Mas, em consciência de que é difícil ser a AEIST a ter de se corrigir sozinha, sendo só um lado da questão. Qual é o sentido de resolução do problema?

Isto é parte de um problema muito maior que não podemos ver como algo específico do Técnico, pois atinge a nossa geração a nível nacional. É um panorama de descrédito dos jovens nas estruturas representativas e governativas. Não acreditam que sejam capazes de realmente os representar ou ajudar a resolver problemas; o que vem desde cima: governo, autarquias, por aí a baixo. O que acontece é, em concordância com essa perspectiva que já têm de outras instituições, olham para a associação da mesma forma.

Mas na nossa perspectiva interna, cabe-nos a nós tentar fechar este gap, encontrarmos os problemas dos alunos, demonstrar-lhes que os conseguimos resolver e que não caiu do céu. Várias vezes a AEIST resolve problemas em conjunto com o Técnico, no entanto, é o Técnico quem lança a notícia de como foi corrigido e de como vai passar a funcionar, o que agrada os alunos, mas depois ficam com a ideia que a resolução foi ação exclusiva do CG, quando foi a AEIST a pressionar e a queixar-se das situações. Não nos damos a conhecer como queríamos.


Entrevista: João Santos