A song of ice and science? [contém spoilers para os mais atrasados]

Para os fãs mais devotos de Game of Thrones, o término de uma temporada é, no mínimo, angustiante. Por isso, para tentar preencher o vazio deixado pela série, os fãs partem em busca de mais conteúdo relacionado com todo este fascinante mundo medieval, onde estações duram anos e, por vezes, se avistam dragões nos céus. Leem todas as teorias propostas para a próxima temporada; visualizam todos os bloopers existentes online e chegam até mesmo a reler os livros para não se esquecerem de nenhum pormenor relevante.

Contudo, a popularidade da série não se restringe apenas a uma pequena comunidade: a febre espalhou-se e alastrou-se para todos os cantos do mundo, tornando-se uma epidemia à escala global. Influenciou (e continua a influenciar!) a cultura pop, a educação, a moda, algumas estratégias de marketing… nem a ciência escapa à Garra Longa de Game of Thrones.

Um dos casos mais caricatos é o batismo de novas espécies animais com nomes inspirados neste mundo medieval. Um grupo de cientistas do Instituto da Ciência e Tecnologia de Okinawa (Japão) descobriu, em 2016, duas novas espécies de formigas, que apresentam espinhos que se assemelham aos dos míticos dragões da série. Pheidole viserion, assim batizada devido à tonalidade creme idêntica à do dragão Viserion e Pheidole drogon, de cor negra tal como Drogon. A juntar a este caso, em 2013 investigadores brasileiros nomearam uma lesma marinha de Tritonia khaleesi, que, alegadamente, é idêntica à mãe dos dragões por apresentar uma lista prateada ao longo do dorso, relembrando as tranças de Daenerys Targaryen. A lista continua, com mais 7 vespas intituladas com os nomes de casas respeitáveis de Westeros.

Também na área da matemática e computação houve influências, neste caso, por parte dos livros. Devido ao número elevado de personagens e ao enredo complexo, dois matemáticos de Macalester College (Minesota, EUA) tiveram uma ideia: criar uma network que liga personagens sempre que os seus nomes aparecem distanciados, no máximo, de 15 palavras um do outro. Desta forma, seria possível compreender a relevância de determinadas personagens e estimar quais as mais importantes na narrativa: sem surpresa, Tyrion Lannister e Jon Snow revelaram-se as mais importantes, seguidos por Sansa Stark e Daenerys Targaryen. Noutro estudo, na Alemanha, desenvolveu-se um algoritmo capaz de prever qual a próxima personagem a morrer. Atenção, Arya Stark é a potencial candidata.

Devido à elevada quantidade de sexo, violência e tensão ao longo dos episódios, foi estudada também a frequência cardíaca dos espetadores para tentar compreender quais as cenas que mais os estimulam. Através de uma aplicação do Apple Watch – Cardiogram – foi possível registar os batimentos cardíacos por minuto dos espetadores e concluir que cenas que envolvem diálogos, com tensão e drama, são muito mais emocionantes do que cenas de sexo, com zombies ou com dragões.

Nem as viagens no tempo por parte de Brandon Stark (ou melhor dizendo, pelo Three-Eyed Raven) são excluídas pela comunidade científica. Aliás, um físico teórico do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA) tentou explicar como é possível que esta personagem consiga viajar no tempo e estar, simultaneamente, em dois locais distintos, em épocas também elas diferentes. Segundo o mesmo, Brandon age sobre um loop causal consistente, uma vez que atua no passado de forma coerente com os acontecimentos vindouros, não alterando o futuro, mas sim moldando o passado de forma a que o futuro aconteça.

Os exemplos são inúmeros. É espantoso como um mundo criado na mente de alguém possa estar a influenciar a sociedade, à escala mundial, não só numa determinada faixa etária, raça ou nação, mas ao longo de todo o espetro profissional, inspirando artistas, professores e cientistas a desenvolver projetos deveras fascinantes e com importante valor social.

Agora, é só esperar pela oitava temporada. Até lá.

Valar Morghulis.


Texto: Beatriz Coelho