Talvez o Romance seja um lugar, talvez seja mesmo no Campo Pequeno

Autoria: Margarida Jardim (MEBiom)

No dia 1 de novembro, teve lugar o concerto dos Fontaines D.C, primeiro da “Romance Tour Europa” e em nome próprio em Portugal. Depois de os ouvir a tocar apenas dois meses antes em Paredes de Coura, dia 1 de Novembro consegui o meu bilhete a muito custo (esgotou) e desfrutei o concerto da melhor banda (provavelmente) da nossa geração.

O entusiasmo era palpável ainda antes de eles entrarem em palco, quando a música das colunas era cantarolada entre conversas (mas também não eram quaisquer músicas, era a “Alison” dos Slowdive e a “Today” dos Smashing Pumpkins). Apesar de ser uma banda de 5 irlandeses nos seus vinte e tais anos, conseguia ver do meu lugar um público de todas as idades. O senhor à minha frente, nos seus sessenta, não se conseguiu manter sentado quando “A Hero’s Death” tocou e entre pedidos de desculpa por me tapar parcialmente a vista, começou a abanar-se todo (dançar, se tiveres 60 anos). Durante 2h30 o público gritou, ouviu e exigiu mais; Sedentos por post-punk, sedentos por uma energia revoltosa e non-chalant que a banda irradia. A cada riff criavam-se pits por toda a multidão que queria sempre mais um moche, e houve até um pequeno fogo posto, que rapidamente foi extinto pelos seguranças, mas que, tenho que dizer, acrescentou à aura do concerto.

Mais de metade do concerto foi dedicado ao último álbum, com intervenções de fan favourites dos outros 3 discos como “Jackie Down the Line”, “Televised Mind”, “Roman Holiday”, “Lucid Dream”, “Nabokov” e “Boys in a Better Land”. Foram estas músicas que mais puxaram o punk e os moches do público. O encore trouxe a “In the Modern World”, a música que mais enriquece ao vivo, a “I Love You” e a “Starburster”, que fez com que toda a gente cantasse e saltasse durante 8 minutos.[1]

Foi o segundo concerto dos Fontaines que vi, conheci-os em Paredes de Coura e desconhecia quase por completo o último álbum. Apesar da setlist ser parecida, comparar os dois concertos é difícil para mim. No entanto, atrevo-me a dizer que Grian Chatten (vocalista) estava mais confortável agora, aliás, até tivemos a honra de o ouvir pronunciar pelo menos 2 frases: “Free Palestine!” e “Lisbon this one ‘s for you” (era a “Favourite”, espero que ele não diga isto a todas)!

Mas o que é que esta banda irlandesa tem para esgotar um dos maiores palcos de portugal a um feriado? Não consigo encontrar a resposta. Fontaines com “A Hero’s Death” chegaram ao segundo lugar no UK Albums Chart. Posteriormente com “Skinty Fia” conseguiram o primeiro lugar no mesmo chart. Finalmente, com “Romance” conseguiram o top 10 em mais de 12 países da Europa.[2] Partilho isto não porque acho que rankings são uma boa métrica para avaliar qualidade de uma música, mas porque me levanta mais dúvidas… como é que numa era onde o individualismo e a media-personality-author reinam, onde o punk e post-punk não são claramente o “go to” das massas e onde se contam o número de bandas que chegam a Top Charts, Fontaines D.C. apresenta tanta consistência? 

É inegável o impacto da banda nos últimos anos. Lançaram o seu primeiro álbum em 2019, Dogrel, e desde cedo tiveram grande aprovação crítica em jornais como NME (New Musical Express), The Times e The Guardian. Em 2020, sai A Hero’s Death, álbum que posteriormente recebeu nomeação para Grammy de melhor álbum de rock. Em 2022 Skinty Fia trouxe um rock mais gótico, declarações de amor à Irlanda e forte crítica política. O tipo de post-punk dos Fontaines D.C., em oposição a outras bandas deste género da atualidade, remete-nos para a melancolia e sentimentos de impotência, esta análise não é puramente fruto da minha mente, mas é em concordância com Stuart Berman para Pitchfork “3”.[3]

O último e quarto álbum Romance é distinto dos últimos três, incorpora elementos de shoegaze, eletrónica e hip-hop sendo um álbum mais “facilmente digerível”, e alguns críticos apontam para uma certa maturidade da banda.A “melhor banda do mundo atualmente”. Não sou eu que digo, é Elton John[4]. E, agora que escrevo isto de cabeça fria, posso até contra-argumentar, mas a Margarida que saiu do concerto às onze da noite, a transpirar por todos os lados, com a voz rouca, não tinha o mínimo de dúvida que fosse verdade.

Referências

[1] Fontaines D.C. Setlist at Sagres Campo Pequeno

[2] Info about charts and release dates/years

[3] Dogreal Album Review Pitchfork

[4] Expresso-“Os Fontaines D.C. são a melhor banda do mundo.” O veredicto de Sir Elton John”

Leave a Reply