Dia de luta – Até quando o muro vai aumentar?

Autoria: Matilde Garcia (LEFT)

O passado dia 23 de Março de 2023 foi marcado por uma onda de manifestações estudantis com ações em vários pontos do país, que, em Lisboa, começou na Faculdade de Belas-Artes e, passando pelo Palácio de São Bento, acabou na Lapa.

Face ao contínuo aumento do custo de vida e da dificuldade de acesso e permanência no ensino superior, os estudantes saíram à rua em defesa de um ensino público democrático, gratuito e de qualidade.

Foi expressado pelos manifestantes que as propinas, taxas e emolumentos associados ao ensino superior constituem um muro que tem vindo a crescer nos últimos anos e que exclui milhares de estudantes daquele que é um dos seus direitos fundamentais – a educação. Aliado ao aumento exorbitante dos preços das rendas que se tem vindo a observar, a inflação e o aumento do custo de vida, o acréscimo do preço do prato social e a falta de uma ação social capaz de suportar todos estes custos têm vindo a impossibilitar muita gente de conseguir ter acesso ao ensino superior a que têm direito, de acordo com a Constituição da República.

Fotografia: Beatriz Dinis

E porque “A educação é um direito, e sem ela nada feito”, esta manifestação contou com o apoio de mais de 20 associações estudantis pelo país fora, e com a participação de centenas de estudantes em várias zonas do país, como Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Castelo Branco, Guimarães, Coimbra, Évora e Faro. Foi exigido o fim ao subfinanciamento do ensino superior, um reforço na ação social, apoio psicológico e a melhoria das condições materiais e infraestruturas nas instituições de ensino e nas insuficientes residências estudantis.

Foram recolhidos os testemunhos de alguns estudantes presentes nesta manifestação:  Margarida, do ISCTE, estava em luta com um cartaz que lia “Residências Universitárias entre 700 e 1000€? Não há moedas”, no seguimento das novas residências estudantis, cuja inauguração, apadrinhada por Carlos Moedas, contou com a presença da reitora da sua faculdade [1]; a Beatriz, membro da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que, assim como tantos outros, é estudante deslocada, considera que o maior desafio que teve de enfrentar foi “sem dúvida, arranjar um teto em Lisboa“. Teve que esperar um ano para ter lugar numa residência pública e afirma que “a associação de estudantes está do lado dos estudantes, é uma associação de estudantes para estudantes”, sublinhando a importância da participação das associações na luta estudantil.

Numa altura em que se assiste, também na nossa instituição ao declínio das condições e à mercantilização do ensino – com, por exemplo, a falta de acesso a prato social e/ou outras refeições acessíveis aos estudantes – é fulcral a mobilização do corpo estudantil para assegurarmos aquilo a que temos direito.

Conseguimos, assim, compreender a importância da luta dos estudantes que, marcada pelos eventos de 24 de Março de 1962 de combate ao regime ditatorial do Estado Novo, continua e continuará até que o Ensino Superior em Portugal seja de qualidade e acessível a toda a gente.

Fotografia: Beatriz Dinis

Referências

[1] Residências universitárias

2 comentários

  1. A Beatriz poderá verificar de que forma a FLUL trata “A Educação e a Paz” da 1.a médica de «La Sapienza» e do seu advogado Mohandas Gandhi:
    https://www.gandhiforchildren.org/gandhi-spoke-montessori-london/
    https://archive.org/details/absorbentmind031961mbp/page/n445/mode/2up
    O “Gandhismo” terminou em Dez/1961, quando o Dr. Jawaharlal Nehru perceu a paciência com o Prof. António Oliveira Salazar. Isso perturbou ainda mais a paz em Lisboa.

    Portugal tem um Primeiro-Ministro com passaporte indiano,

    e em 27/Março, este Professor,

    retornará o contacto com o “viver moçambicanamente”.

    A partir de que idade um estudante em Lisboa pode participar na sua alimentação

    e estagiar na construção da nova escola-residência?

    https://classroomofhope.org/block-schools/
    https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/antigo-edificio-do-ministerio-da-educacao-que-seria-convertido-em-alojamento-universitario-esta-fechado-ha-cinco-anos

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