Nova abordagem sobre a Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT)

Existem vários debates a serem travados no âmbito da saúde mental, quer seja em termos de tratamentos, quer seja no enquadramento do paciente na sociedade e no perigo (ou não) que poderão representar para a mesma.

Um aspecto crítico para se atingir um consenso, relativamente a estas questões, é perceber em termos fisiológicos tais doenças

A PSPT ocorre após a exposição do indivíduo a uma experiência traumática que gere uma resposta emocional de medo intenso, sentimento de impotência ou horror. Esta trata-se meramente da definição actual. No século 19, por exemplo, os indivíduos que sobreviviam a acidentes de comboio eram diagnosticados com “espinha ferroviária”, pois acreditava-se que a histeria que experienciavam devia-se a uma compressão da coluna vertebral. Durante a primeira guerra mundial, era conhecida como neurose de guerra, coração de soldado ou fadiga de batalha. Só a partir da guerra de Vietname é que esta perturbação começou a ser observada, tendo-lhe sido atribuído o nome Perturbação de Stress Pós-Traumático em 1980.

Muito tem mudado na forma como esta doença é percebida e tratada, embora continue a ser a guerra o grande potenciador da mesma.  Actualmente, na Turquia, 1 em cada 3 refugiados Sírios sofrem de PSPT, sendo também muito prevalente em bairros pobres e violentos, como é o caso de uma cidade em Atlanta, na qual as taxas de incidência de PSPT ultrapassam as dos veteranos.

Quem sofre de PSPT possui um risco maior de desenvolvimento de outros problemas de saúde, tais como diabetes, depressão ou algum tipo de toxicodependência. No contexto geral, é muito mais provável que não possuam trabalho ou que possuam problemas relacionais.

Existe um aspecto crucial que diferencia a PSPT de outras doenças mentais, que é o facto de poder ser modelada em outros mamíferos, uma vez que estes sentem e mostram medo da mesma forma que os humanos. A amígdala, que é a região do cérebro encarregada por orquestrar o medo, lê os sinais de entrada, tais como cheiros e sons, e envia mensagens para outras regiões, que filtram os sinais antes de reagir. Num indivíduo com PSPT, os filtros lutam para distinguir entre as ameaças reais e aquelas que podem ser ignoradas.

Um desenvolvimento recente é a descoberta de marcadores que mostram as diferenças entre os cérebros, genes e até mesmo sangue de pessoas com e sem PSPT. Quando um indivíduo com PSPT vê uma imagem de um rosto assustado, a amígdala mostra uma resposta intensificada e o córtex pré-frontal, que regula o medo, é suprimido. Uma equipa da Harvard Medical School encontra-se a desenvolver um teste sanguíneo para a detecção desta doença.

O tratamento actual consiste em reensinar ao cérebro a resposta ao medo. Existe terapia cognitiva, na qual se ensina aos pacientes a pensar de forma diferente sobre o que aconteceu, terapia de exposição, em que são confrontados com estímulos temidos ou mesmo simulações com realidade virtual, para tornar a terapia de exposição mais eficaz.

Uma equipa da Universidade de Stanford, liderada por Amit Etkin, está a estudar de que forma é que os circuitos cerebrais que controlam o medo podem ser ajustados com o auxílio de ISRS (uma classe de drogas usadas, por exemplo, no tratamento de depressão e ansiedade), ou  com os efeitos da estimulação magnética transcraniana.

Embora o desenvolvimento de novos tratamentos possa ser mais longo que o esperado, o reconhecimento da natureza física da PSPT poderia encorajar os doentes a procurar ajuda mais cedo e a abolir o estigma inerente às doenças mentais.

*Este artigo não segue o novo acordo ortográfico


Artigos relacionados interessantes (em Inglês):

Fontes:


Texto: Maria Sbrancia