Coelho Branco Coelho Vermelho – um espetáculo sempre diferente

Autor: Manuel Botelho (LEFT)

Como pode um artista transcender o tempo e o espaço? Fazer-se ouvir, mesmo quando morto? A primeira resposta será: uma gravação, algo que fique e que dure ou que possa ser copiado. No entanto há outras maneiras, mais interativas, com ou sem recurso a tecnologias, modernas pelo menos. Com este objetivo, e mais alguns, Coelho Branco Coelho Vermelho surge como obra-prima de Nassim Soleimanpour.

Como conceito principal do espetáculo, o ator entra em palco com um envelope, o seu conteúdo é o guião da peça, cujo texto não lhe é conhecido. Assim, esta peça pode apenas ser representada uma vez por cada ator que a tal se proponha. O texto é depois lido ao público na altura do espetáculo. A partir daí, o autor da peça conduz o ator e toda a plateia por uma coletânea de pseudo experiências sociais, histórias e afins, que, embora de conteúdo relativamente simples e fácil de compreender, tentam-nos a questionar assuntos de uma índole moral e social profunda.

O próprio formato da peça obriga-nos a ver uma dualidade no trabalho do ator: entre ele mesmo (não só como ator, mas também como encenador) e o escritor. Os erros e melhorias realizadas no momento por cada ator tendem a alterar a peça, tornando-a única para cada atuação. Assim, podemos observar ao momento esta distribuição de funções que acontece, normalmente, nos bastidores e em ensaios.

Por fim, nunca é demais analisar a situação do guionista aquando da altura da formulação da peça. Em 2010, Nassim Soleimanpour estava proibido de sair do seu país, por recusa de fazer o serviço militar num estado autoritário-mas-não-assumido, o Irão. A impossibilidade de viajar mais longe, de sair daquele espaço a que estava confinado, fê-lo pensar e obrigou-o a viajar de outras maneiras. Tudo isto sem perder o sentido humor, presente ao longo de toda a peça.[1]

Para terminar, embora alguns destes tópicos sejam debatidos na própria peça, há muito mais para ver e analisar. Por isso, a partir de dia 1 de outubro, no Teatro Maria Matos, escolham bem o vosso ator (no caso do autor deste texto, a possibilidade de assistir a uma interpretação de Miguel Guilherme) e preparem-se para uma hora e meia de risos e não só! 

Referências:

[1] – Nassim Soleimanpour põe intérpretes a descobrir um texto em palco – Público

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