Autoria: David Berenguer Pestana (LEFT)
Grupo independente com uma energia de eleição: Quem são os Nuclear Vision Portugal? Diante da crise ambiental, e das exigências energéticas crescentes, qual o papel da energia nuclear num futuro mais sustentável? E como a defende esta iniciativa?
Fundado em 2023 por quatro estudantes de Engenharia Física Tecnológica no Instituto Superior Técnico – André Feliciano, Diana Lamy, Miguel Melfe e Rodrigo Casimiro – o Nuclear Vision Portugal é um grupo ativista que defende a utilização da energia nuclear em Portugal e no mundo, afirmando o seu papel essencial no combate às alterações climáticas através de uma transição energética.
“O grupo surgiu após o contacto com um ativista norte-americano de passagem por Portugal, que, numa simples conversa, nos despertou o interesse por esta energia; percebemos que, apesar da importância, ela era pouco discutida e frequentemente mal compreendida no país. Sentimos, por isso, a necessidade de informar e esclarecer que a energia nuclear é uma alternativa viável e segura na transição energética”, explicam os fundadores. Atualmente, são mais de 36 membros ativos e um grupo de whatsapp, que conta com mais de 100 pessoas, que acompanha regularmente as suas atividades.
Quando questionados relativamente à natureza desta energia, responde Rodrigo Casimiro: “a energia nuclear é a única fonte não-fóssil capaz de garantir uma produção estável e contínua de eletricidade, independentemente das condições meteorológicas e da altura do ano. O seu principal contributo seria a descarbonização profunda do sistema energético global, ao substituir os combustíveis fósseis por uma fonte limpa, segura e eficiente. Em Portugal, além de permitir essa descarbonização, pode reforçar significativamente a independência energética do país, reduzindo a dependência de importações – que é muita – e aumentando a resiliência do sistema elétrico”.
No que diz respeito à segurança desta energia – por muitos temida – sobretudo pelos acidentes nucleares de Chernobyl e Fukushima, André recorda que “devido aos seus rigorosos protocolos de segurança, como sistemas de contenção robustos e redundâncias, tem uma das menores taxas de mortalidade de entre todas as fontes de energia. Pelo contrário, de acordo com Harvard, os combustíveis fósseis são responsáveis pela morte de quase nove milhões de pessoas por ano devido à poluição do ar e outros impactos ambientais. Os acidentes nucleares são extremamente raros e incentivaram melhorias contínuas na segurança. Além disso, os resíduos nucleares são armazenados e tratados de maneira controlada, geralmente em locais isolados até se tornarem estáveis, sendo que há também técnicas de reprocessamento e reutilização.”
Rodrigo Casimiro refere ainda: “esta energia distingue-se de outras também sustentáveis” e que se torna especialmente valiosa para a estabilidade da rede elétrica. “Ocupa muito menos espaço do que outras fontes verdes para gerar a mesma quantidade de energia, o que contribui para a preservação de habitats naturais. Por exemplo, um hectare de uma central nuclear gera a mesma quantidade de eletricidade que cerca de 36 hectares de painéis solares. Além disso, tem emissões de carbono extremamente baixas ao longo do seu ciclo de vida, comparáveis às da energia solar e eólica.”
Munidos de ambos conhecimento e curiosidade, este grupo tem promovido a energia nuclear através de diversas iniciativas. “Organizamos conferências e roundtables com especialistas portugueses e internacionais, bem como demonstrações públicas, onde dialogamos diretamente com o público, contando também com a presença de outros ativistas e profissionais do setor. Além disso, realizámos apresentações, workshops e visitas a faculdades. Também marcámos presença em eventos internacionais, como a COP28, a New York Climate Week e ainda numa manifestação em Barcelona contra o encerramento das centrais nucleares espanholas”.
As ambições do grupo são fortes. Afirmam que o seu principal objetivo é “levar a discussão sobre energia nuclear ao maior número de pessoas possível, incluindo ao Parlamento, sem nos associarmos a qualquer cor política. Estamos abertos a colaborar com investigadores, empresas e entidades governamentais, especialmente aquelas ligadas ao ambiente, energia e sustentabilidade. Embora ainda não tenhamos colaborações formais, mantemos contacto com diversas entidades e profissionais da área, incluindo a WePlanet Portugal, investigadores do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) e membros da Ordem dos Engenheiros”. Acreditam que estas ligações e eventuais parcerias com especialistas e organizações relevantes ajudá-los-ão a tornar o debate mais informado, construtivo e acessível.
Deixam ainda mensagens aos políticos: “Ouçam a ciência, olhem para os dados e permitam que o debate aconteça. A transição energética exige todas as soluções disponíveis – ignorar a energia nuclear é desprezar uma ferramenta essencial para um futuro mais sustentável.” E, finalmente, aos estudantes, pedem: “Ajudem-nos a mudar o mundo para melhor. Questionem, aprendam, expliquem. O futuro da energia precisa de vozes informadas, críticas, e corajosas, e a mudança começa com cada um de nós. Por um futuro mais verde, repensa nuclear.”