Autoria: João Dinis Álvares (MEFT) e Beatriz Dinis (LEAer)
O Super Bock Super Rock está de volta à Praia do Meco. Após uma mudança à última da hora no ano passado, devido ao perigo de incêndio, que fez com que este se passasse a realizar no Altice Arena a dois dias do início, o Meco volta a ser o palco de um dos maiores festivais de música em Portugal.
O primeiro dia começou com dois DJ’s, Calua e Nitry, no palco LG, seguidos dos Tara Perdida, banda de renome do punk português. Pouco antes do concerto, o Diferencial esteve à conversa com a banda, e quisemos saber um pouco mais sobre o novo álbum Vida Punk, no qual Rui Costa, conhecido como Ruka, se estreia como vocalista. Desde a formação do grupo, em 1995, que ocupava a posição de guitarrista. No entanto, após a morte do ex-vocalista João Ribas, Ruka encarrega-se agora também de dar voz aos êxitos da banda. Vida Punk, contam os Tara Perdida, é uma regravação de vários dos temas mais conhecidos da sua banda e “surge na sequência de apresentar o Rui como vocalista”, referiu Tiago Silva, conhecido como Ganso, contando também com uma novidade, a música Bairro de Alvalade, em honra ao bairro “que os viu crescer”.
Durante a entrevista, relembraram os tempos em que atuaram no Técnico, onde tiveram alguns dos maiores públicos. Ganso lembra-se de como o presidente da Associação de Estudantes da altura chegou até ao camarote deles quase a chorar de alegria pela quantidade de bilhetes que tinham vendido no dia dos Tara Perdida: catorze mil bilhetes. Filipe Sousa, baixista, mencionou que ele próprio chegou a estudar no Técnico e sentia que, na altura, ninguém da faculdade apreciava muito punk, ideia que foi mudando com o tempo à medida que foram atuando no Técnico.
Fazendo uma retrospetiva para a cena do punk nos anos 90 em Portugal, a banda concordou que as coisas não são como eram dantes. “Na altura, não havia internet”, disse Ruka. Ganso corroborou: “saías da escola ou do trabalho e ias para o café e ficavas lá até à hora de jantar, com o pessoal”. Porém, nem tudo foi para pior: “hoje em dia, para promoção é muito melhor. Na altura, imprimíamos os posters A4 e íamos colá-los no Bairro Alto, que era uma espécie de rede social que toda a gente visitava durante o fim-de-semana. Passavam milhares e milhares de pessoas lá.”
Para as novidades da música, havia a Blitz que saía todas as terças e era nesse dia que se sabia tudo o que se estava a passar. “Se uma pessoa aparecesse na Blitz, já era gente”, recordou Ruka. Porém, realçou, mesmo que não aparecesse na Blitz, o que importa é que “tenha atitude e sentimento. E pode ser tudo torto. Mas não há stress, as coisas têm de ter um lado humano.”
Já no final da entrevista, recordam ainda uma das edições do festival do Ermal, onde partilharam o cartaz com artistas como os Nickelback, os Slipknot e outros músicos de renome mundial. Recordam que, enquanto voltavam para Braga, onde iriam dormir, ouviram na rádio que, durante o concerto de Nickelback, foram arremessadas pedras para o palco e que os culpados talvez fossem os fãs de Tara Perdida. Chegou-se a dizer que teriam sido os próprios Tara Perdida a incitar os fãs. “Na altura, rimo-nos porque sabíamos que não era verdade”, disse Ganso. Mas acabou por ter sido esse momento de controvérsia que os elevou em termos de popularidade a nível nacional.
Quando questionados sobre o efeito da pandemia na banda, Ruka resumiu: “a gente não tinha vontade para fazer nada”. Filipe chegou a mencionar que tinham marcado onze concertos, numa altura em que parecia já ser possível as bandas começarem a voltar aos palcos, e todos foram cancelados. “Não havia vontade de fazer nada.”
Quanto à mensagem que querem deixar com este novo álbum, a resposta foi imediata: “Venham-nos ver ao vivo.” E a explosão de energia do concerto que se seguiu esclareceu o que esta resposta queria dizer.
Seguiu-se a atuação de Legendary Tigerman no palco principal, onde estreou várias músicas do seu novo álbum que será lançado em setembro deste ano, Zeitgeist. Este álbum conta com vários convidados: Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves dos Best Youth (canção “New Love”), Sean Riley e Ray (“Bright Lights, Big City”), Delila Paz dos The Last Internationale, Anna Prior dos Metronomy e Sarah Rebecca. O concerto foi um palco para trazer uma nova aura a Legendary Tigerman, sem perder a sua característica sensualidade inebriante: cheio de groove e estreias, é algo que dificilmente se conseguirá repetir.
Os cabeças de cartaz, The Offspring e Franz Ferdinand, que foram os que atraíram mais público, cumpriram com o esperado. Com bastante interação com o público e constantes agradecimentos aos dezoito mil espectadores, ambas as bandas ficaram impressionadas com a quantidade de pessoas no recinto. No palco Pull & Bear, Black Country New Road estrearam-se em Portugal com o seu último álbum, Ants From Up There, e outras músicas mais conhecidas da banda, cujo repertório emocionou os muitos fãs, que vieram de vários pontos do país para os ver.
Espalhados pelo palco, foi um concerto retratado pela casualidade característica da banda, que conquistou também aqueles que ainda não os conheciam.
Após algumas alterações de horários, a seguir à atuação dos The Offspring, Father John Misty voltou uma vez mais a tocar em terras portuguesas, não esquecendo o arrastar característico da sua voz. Provou que é um artista que consegue dar um espetáculo personalizado e que é muito procurado nos palcos portugueses. Importa ainda realçar a atuação da artista 070 Shake que, quase sozinha no palco, conseguiu trazer a irreverência da sua música e mostrar carinho ao seu público, assinando várias coisas dos fãs na linha da frente.
Continuaremos a acompanhar o festival nos próximos dias!