24ª Festa do Cinema Francês 2023

Autoria: Tomás Fonseca (LEIC-A) e Renato Mântua (LEAer)

Nos passados dias 5 a 15 de Outubro, regressou às salas do famoso Cinema São Jorge a Festa do Cinema Francês [1]. O festival contou com inúmeras antestreias e filmes inéditos no país, novas secções como o “PRONTO-A-FILMAR”, dedicado à moda francesa, e a presença de vários convidados. De salientar, ainda, que este ano o festival passou também pelas salas do Cinema NOS Amoreiras (de 17 a 20 de Outubro) e voltará às salas lisboetas com uma passagem pela Cinemateca Portuguesa de 4 a 30 de Novembro. 

Querendo ligar a audiência ao filme, os realizadores tornam-se o veículo perfeito para estabelecer esta conexão. Desta forma, a Festa do Cinema contou com a presença de diretores e escritores de diversos filmes, tais como Valérie Donzelli e Jean-Baptiste Durand, destacando-se a realizadora franco-portuguesa Cristèle Alves Meira. Nascida em Montreuil, França, a realizadora de raízes nacionais veio agora expôr a sua primeira longa-metragem: Alma Viva. Na sua obra, mergulha na perspetiva duma criança que, tal como a autora, visitava a família no verão, quando a sua adorada avó falece. Desta forma, a realizadora explora os sentimentos de pesar e a ideia da morte vista dos olhos duma inocente criança. No entanto, a diretora em foco não se fica por aqui. Para além da sua estreia, mostra ainda diversas curtas-metragens da sua autoria, tais como Campo de Víboras e Sol Branco. Enquanto que algumas das suas obras exploram a mente infantil e a terra predileta de Cristèle, Trás-os-Montes, todas demonstram novamente as suas capacidades artísticas e sensibilidade enquanto realizadora.

 Entre diversas secções, uma das mais promissoras é, certamente, a das antestreias. O acrescido interesse deve-se à sua relevância cultural: estes são os filmes que mostram qual a atualidade do cinema francês. Assim, a Festa trouxe-nos sete filmes que irão estrear nas salas de cinema portuguesas brevemente. Desta forma, destacamos dois filmes, sendo que ambos exploram as vidas de personagens históricas francesas. A primeira obra trata-se de Jean du Barry – A Favorita do Rei, de autoria de Maïwenn, filme este que foi escolhido para a abertura do festival. A história segue a vida da personagem que deu nome ao filme, representada pela própria realizadora, uma mulher do povo que utiliza o seu charme para sair da pobreza, conseguindo conquistar o coração do Rei de França, Louis XV. Apaixonado, o monarca assume-a como a sua amante oficial, trazendo-a para a corte, desafiando todas as hierarquias sociais francesas. O papel de soberano é encarnado por Johnny Depp, que encara o desafio do seu primeiro filme em francês. O segundo filme é Abbé Pierre – Uma Vida de Causas, realizado por Frédéric Tellier. Neste, acompanhamos a vida de Henri Grouès, batizado de Abade Pierre. Começando como membro da Resistência ao nazismo na II Guerra Mundial, esta figura dedicou a sua vida à população empobrecida e sem-abrigo, fundando o Movimento Emaús. Embora Benjamin Lavernhe tenha desempenhado o papel do Abade fenomenalmente, o filme poderia ter explorado mais a relação do sacerdote com as populações mais carenciadas e o impacto que as suas ações tiveram. Tendo o filme uma duração de 135 minutos, este elemento deveria ter sido mais relevante, o que levou a momentos mais tediosos. Ainda assim, esta longa-metragem foi selecionada como a última sessão da Festa no São Jorge que contou com os agradecimentos por parte da equipa de produção do festival, bem como a presença do Presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas.

Uma das sessões de maior relevo que passaram este ano pela festa foi a do ciclo “CINEMA E MEMÓRIA”, com a exibição do filme da cineasta e atriz portuguesa Maria de Medeiros “Capitães de Abril”. O filme, que à data se mantém como a grande produção de ficção baseada nos acontecimentos de Abril de 1974, é um projeto coproduzido por Portugal, Itália, Espanha e França que foca a sua narrativa em apenas 24h, começando pouco antes do início das operações que viriam a derrubar o regime, até à libertação dos presos políticos da prisão de Caxias. A sessão contou não só com a presença da realizadora (que apresentou o filme e esteve à conversa com a jornalista Marta Lança e o assistente de realização João Pedro Ruivo, contando-nos peripécias da realização do filme), como também da Embaixadora francesa em Portugal Hélène Farnaud-Defromont e do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Num discurso prolongado no seu melhor francês, o Presidente referiu a importância da memória do passado e o perigo que traz o seu esquecimento, assim como a ligação dos franceses aos acontecimentos nacionais (com Álvaro Cunhal e Mário Soares ambos a terem estado exilados em Paris, e a primeira visita de um presidente português ao estrangeiro, com Costa Gomes a visitar França em Junho de 1975, consolidando a transição democrática em Portugal aos olhos do mundo).

E, porque Portugal não se faz só de Lisboa, a festa terá um carácter mais nacional, passando pelos quatro cantos do continente. Seguem-se a Lisboa, ainda no mês de Outubro, Almada (de dias 10 a 14), Porto (de 17 a 31), Faro (de 18 a 21), Coimbra (de 18 a 21), Oeiras (de 19 a 28), Lagos (de 25 a 28), Viseu (de 25 a 28), Évora (de 25 a 28) e no mês de Novembro Beja (de dias 7 a 9), antes de regressar a Lisboa para o ciclo de homenagem ao realizador francês Nicolas Philibert. 

Referências:

[1] Festa do Cinema Francês

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