Autoria: Beatriz Dinis (LEAer) e João Dinis Álvares (MEFT)
Ao longo do mês de julho, o Cooljazz tem vindo a decorrer no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. É um festival mas não da maneira que se espera, concentrado em dois ou três dias seguidos: espalha-se pontualmente ao longo do mês. Contou já com Lionel Richie e Filipe Karlsson, cantor português que tem vindo a ganhar popularidade pelo seu estilo anos 80 renovado, no dia 8 de julho e com as primeiras sessões do Cascais Lazy Sundays, que consistem num DJ Set no recinto aos domingos, como um espaço para relaxar ao final da tarde.
O Cooljazz concentra-se, como o próprio nome indica, em jazz, mas também em R&B, soft rock, indie pop, e géneros adjacentes. O recinto em si é acolhedor, pequeno e familiar, com um palco secundário num anfiteatro do parque Marechal Carmona e o principal no Hipódromo.
No passado dia 19 de julho, os noruegueses Kings of Convenience, compostos Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe, retornaram a Portugal, país que dizem ter a paisagem e o público perfeitos para a sua música – tanto que o primeiro concerto após o lançamento do seu último álbum, Peace Or Love, foi nos Açores. O concerto no Cooljazz foi concentrado, maioritariamente, em músicas deste álbum, que demorou cerca de doze anos a ser composto e gravado, tendo o processo de gravação ocorrido nos mais variados pontos da Europa.
Antes da sua atuação, atuaram os Fourward, um quarteto de Braga, e as Golden Slumbers, duas irmãs, Catarina e Margarida Falcão. Durante o seu concerto, confessaram que os Kings of Convenience eram das suas bandas favoritas e que era um sonho poder tocar no mesmo dia que eles. Trouxeram ao palco as músicas que compuseram no seu quarto, na casa da sua mãe, o que criou uma intimidade forte com o público. Seguiram-se os Kings of Convenience, com os quais as Golden Slumbers cantaram ainda duas músicas, conjugando a magia de cada dueto.
Tendo uma plateia bastante dividida, com assentos Gold perto do palco, VIP atrás e público de pé ainda mais para o fundo, Erlend deixou a mensagem, “We would love to come here but next time we want to see everyone standing together”. Porém, esta divisão não impediu que a magia fosse sentida por todos, num ambiente igualmente intimista. Tanto que, no início do concerto, Erlend e Eirik pediram se alguém do público tinha spray repelentes de mosquitos e logo uma senhora se levantou e passou ao segurança o spray.
Mais para o meio do concerto, os Kings of Convenience pediram até que levantassem a barreira que separa normalmente a linha da frente do público do palco em si. À primeira, os seguranças não responderam, mas Erlend deixou claro, “we trust our fans” e logo cederam.
No dia seguinte, foi a vez dos cabeças de cartaz Snarky Puppy tocarem, uma das maiores bandas de jazz fusion de sempre, precedidos pelo trio português B3 e pelo artista Filho da Mãe. Este último, já no palco principal, entrou com uma onda de energia imensa, deixando o público silencioso e seguiu-se da sua apresentação icónica: “Boa noite, sou o Filho da Mãe”, que quebrou o gelo entre o artista e a audiência.
Seguiram-se os Snarky Puppy, tendo o início do concerto sido marcado por um fã levantar um vinil da banda e o líder dos Snarky, Michael League, responder dizendo que aquele vinil era o equivalente ao lucro vindo do Spotify. O concerto foi marcado também pela dedicação da música Belmont do último álbum Empire Central à maior inspiração da banda, Bernard Wright, que chegou a tocar baixo com eles: “He was a source of endless inspiration, an incredible human and generous”. Michael aconselhou ainda que, depois do concerto, o público fosse apreciar um pouco da sua música. Voltando-se para o resto da banda, relembrou: “this whole band would go see him play”.
Não sendo nem a primeira nem a segunda vez que tocavam em Portugal, já tinham tido a oportunidade de colaborar com uma artista portuguesa, Gisela João, tendo produzido o seu álbum Aurora. O concerto continuou e, com uma ovação da parte do público, tiveram de retornar duas vezes ao palco para cantar mais músicas. “I guess that if you guys aren’t leaving, we’re not either”, disse Michael.
O Cooljazz fica, portanto, como um lugar específico onde se pode aproveitar música que não se costuma encaixar no line-up de outros festivais. O recinto adequa-se a toda uma aura mais pacífica.