Autoria: Patrícia Curado (MEFT)
O Diferencial esteve à conversa com Peter Suede, estudante do primeiro ano de Engenharia Mecânica no Técnico com uma carreira musical já lançada e dois álbuns em seu nome. Perguntámos-lhe sobre o seu percurso na música e, em troca, recebemos as histórias de um artista que já se afirma nos palcos portugueses do rock.
Pedro Baptista vem de Coimbra e ingressou no mundo da música aos cinco anos. Na Escola de Música São Teotónio, onde a mãe é professora de Formação Musical, deu os primeiros passos ao piano e continuou os estudos até ao fim do secundário. Por volta do oitavo ano, tornou-se guitarrista autodidata, porque “existia uma lá por casa”. Comprou um baixo elétrico e, uns tempos depois, convidou uns amigos da escola a juntarem-se a ele. Foi a primeira vez que sentiu o gosto pela música menos clássica. Aquando da pandemia, decidiu lançar-se no processo criativo e gravou, em casa, uma música da sua autoria: “Na altura tinha gravado com o telemóvel e gostei bastante do processo; do gravar; do criar… até comprei um microfonezinho […] E foi aí que surgiu… Foi desse processo, na pandemia, que fiz o meu primeiro álbum, que saiu em 2022.”
Diferencial: De onde vem “Peter Suede”?
Pedro: Pedro Baptista nunca seria o meu nome de artista. Eu gosto muito do meu nome, mas é um nome que acho que seria difícil associar a uma cara. É um nome que não é exótico e […] depois de escrever em inglês, achei que o nome podia também ser um bocadinho mais para o inglês do que para o português. E acho que a parte do Peter se torna óbvia. A parte do Suede […] surgiu de um brainstorm de palavras que estávamos a fazer. Estava eu, o meu pai e os meus irmãos na altura […] a mandar nomes, palavras, coisas que não precisassem de fazer sentido, mas que soassem bem, que pudessem ficar na cabeça. E saiu Peter Suede. Eu acho que é um nome que, se as pessoas começassem a ouvir várias vezes, podia ficar. Não sei se é a fonética da palavra, mas do ponto de vista do marketing e da comercialização, é um nome apelativo. […]
Fruto de uma educação rigorosa na música, sente que é mais dado ao instrumental do que à letra. Para o primeiro álbum, “escrevia o instrumental e depois olhava para o que é que isso [o] fazia lembrar, tentar escrever uma letra a partir disso.” Para o segundo, Pedro admite que o processo foi diferente. Criou uma história e depois musicou-a. Ao comparar os dois processos, constata que o que surge primeiro “tem mais espaço” para ser desenvolvido. O que vem de acrescento, naturalmente, não terá tantos floreados.
Diferencial: Qual é a tua altura preferida do dia para criar?
Pedro: Acho que nunca tive uma altura preferida. Lembro-me que, efetivamente, à noite tenho muitas ideias. Não quer dizer que tenha ideias todas as noites, mas […] quando não consigo dormir, começam a vir bastantes ideias e eu, para não as perder, vou logo escrever. Nunca gravo porque, enfim, vivo em Coimbra, num apartamento, e tenho vizinhos… não dá muito jeito. Também me lembro de as ter logo ao acordar e dizer “hoje vamos escrever” e escrevi. Também já acordei, disse “hoje vamos escrever” e não escrevi nada. […] Se eu olhar para o segundo álbum, há muitas letras que saíram durante as aulas do secundário, quando, às vezes, não estava tão interessado na aula…
Pedro conta ao Diferencial que o seu primeiro álbum, Snake Skin, foi gravado na editora conimbricense Lux Records. Quando Snake Skin foi lançado, Pedro já estava a trabalhar no álbum vindouro. Perguntámos-lhe sobre o estilo em que começou a criar e diz-nos que “numa caixa grande, [o põe] no rock”.
Ouve muita música e a sua banda preferida é Red Hot Chili Peppers. Conscientemente Pedro constata que a música deles não se traduz diretamente na sua, porque gosta de muitos géneros e procura inspiração em “milhões de estilos”. Sobre as influências nacionais que moldam a sua música, deu-nos nomes como Xutos e Pontapés (“provavelmente a maior banda portuguesa”); aprecia The Legendary Tigerman e Os Quatro e Meia, por serem também de Coimbra. Olha para os últimos especialmente do ponto de vista de carreira, dado que todos os membros da banda têm uma carreira fora da música e “encheram cinquenta e dois concertos no ano passado”.
Diferencial: São essas as passadas que tu queres seguir, ter um emprego? Qual é a ambição?
Pedro: Não sei, é uma pergunta difícil de responder. Eu sei que quero fazer música e tenho a missão de me ir afirmando e de tentar ser mais reconhecido, mas acho que a minha ideia de vir estudar para aqui, para [engenharia] mecânica, […] foi tentar arranjar primeiro estabilidade. A música é um mundo muito variável, muito inquieto, muito inconstante. Uma pessoa pode estar bem agora e daqui a dois anos já ninguém quer saber […] ia acabar como muitos dos músicos atualmente, que é uma coisa de que eu tenho pena. […] É por causa disso que admiro tanto Os Quatro e Meia, que têm tempo para as duas coisas e havendo as duas coisas filtram-se melhor as angústias e as coisas menos boas de cada lado. Acho que foi um bocadinho essa a minha ideia também.
Pedro tem os pés bem assentes na terra quando pensa na fama e no sucesso que quer atingir. Percorre o caminho passo a passo, mas já tem intenções de se fazer ouvir lá fora: foi essa uma das razões pela qual começou a cantar em inglês.
Diferencial: Como é que defines o sucesso como artista?
Pedro: Para mim, sucesso é dar um concerto como dei no mês passado [em abril] e a sala estar composta e as pessoas estarem a gostar do concerto. Isso, para mim, é sucesso. É sucesso crescer e ser reconhecido. É sucesso tocar para uma multidão num festival. É sucesso chegar a prémios altos e a palcos grandes. São vários níveis de sucesso.
Sendo estudante deslocado, Pedro demorou algum tempo a criar uma rotina. Afinal, está numa cidade nova e num ambiente diferente do do secundário. Hoje, já com a rotina bem estabelecida, divide os seus dias em duas partes: dedica as manhãs a tratar dos assuntos relacionados com a música, nomeadamente a treinar e a mandar emails para marcar concertos – “Passa muito por procurar salas, pessoas, eventualmente festivais” – e depois de almoço dedica-se aos assuntos académicos.
Diferencial: O que é que escreves nos e-mails que mandas às organizações de festivais?
Pedro: Começo sempre com uma saudação. Há muitos e-mails que não têm resposta e eu pensei assim… O que falta é dizer “espero que este e-mail o encontre bem”. Não faz diferença nenhuma, mas passei a escrever isso. [Continuo com ] “o meu nome é Pedro Baptista, nome artístico Peter Suede, sou de Coimbra. Acabei de lançar o meu segundo álbum…” […]
Sonha em tocar no Altice Arena, “é a maior sala do país, portanto tem de ser um objetivo de qualquer um”, e também na sala da Fundação Calouste Gulbenkian, um espaço que aprecia muito, embora seja de um registo muito diferente. Já bem lançado, Pedro teve oito concertos em 2023 e esteve no Bota, em Lisboa, no passado dia 20 de Abril, a apresentar, pela primeira vez, o seu segundo álbum. Atuará no festival Epicentro em Coimbra a 22 de junho e no festival RockVão em Lorvão, no dia 31 de agosto.
Diferencial: Quem são os teus maiores apoiantes?
Pedro: As primeiras pessoas a saber são sempre os meus pais, os meus irmãos e a minha namorada. É sempre o primeiro grupo. Sabem sempre no dia e em primeira mão.
Durante a conversa, Pedro oferece-nos um CD, o seu segundo álbum, Street Hotel.
A história de Street Hotel começou na Figueira da Foz, quando o músico reparou na placa do Grande Hotel da Figueira. Por ser um dos letreiros de que mais gostava, a ideia de chamar a um álbum “hotel” começou a fomentar-se. “Achei que hotel seria uma coisa muito elitista” e daí a ideia partiu para um hotel de rua, onde todas as classes sociais e todas as experiências coubessem (“como se o hotel fosse a cidade”). A complementar esta ideia, a capa do álbum transmite uma ideia de contraste, já que mostra simultaneamente um lado mais degradado, decadente, com o qual se relacionam a droga e a prostituição, e um lado mais vivo, dinâmico e, quiçá, rico, como são as viagens com amigos e as saídas à noite.
Diferencial: Falaste em temáticas urbanas com as quais muitas pessoas se podem relacionar, como experiências à noite, e falaste também de drogas e prostituição…
Pedro: Acho que esta minha ideia veio de um concerto que eu dei lá em Coimbra, na zona da Baixa. Eu estava à janela e, antes do concerto começar, estava a olhar para a rua. A Baixa de Coimbra é uma zona em que não vive praticamente ninguém; tem muito pouca habitação. Há cerca de cinquenta anos, era a zona mais movimentada da cidade, onde viviam mais pessoas e pessoas de todas as classes sociais. Havia de tudo. Neste momento, é uma zona em que não vive praticamente ninguém […] e não existe movimento à noite. O movimento que existe é quase exclusivo de tráfico de drogas. Tudo muito às claras, sem haver grande discriminação. Foi aí que me inspirei na música Downtown Drugs.
O segundo álbum nasceu, assim, de temáticas urbanas. Começou a ser projetado durante o seu décimo segundo ano e foi lançado a 26 de março de 2024. Nas palavras de Peter Suede, Street Hotel é um álbum “mais urbano, elaborado e maduro do que o primeiro” e já está disponível em todas as plataformas digitais. Os concertos futuros serão divulgados no Instagram (@petersuede) e Facebook do artista. Por agora, Peter Suede preocupa-se com a sua divulgação em concertos e ainda não pensa no que há de vir.