Autoria: João Gonçalves (LEEC) e Teresa Nogueira (LEEC)
Entre 6 e 27 de julho, numa confluência entre a tradição e a contemporaneidade, o “Millennium Festival ao Largo” irrompeu novamente pelas ruas de Lisboa, na sua 15.ª edição, infundindo a cidade com uma mistura vibrante de música e dança, animando o largo do Teatro Nacional de São Carlos com uma energia cultural inigualável.
Nascido do desejo de tornar a cultura acessível a todos, o festival tem, desde a sua inauguração, proporcionado a profissionais e amantes das artes um palco onde a expressão artística flui sob o luar do largo de São Carlos. Na perspetiva do próprio evento, “O Festival ao Largo mantém o espírito de partilha e de uma cultura acessível e gratuita a todos”[1], missão que os tem guiado desde a primeira edição. Este ethos reflete uma filosofia que homenageia a rica herança e a contemporaneidade cultural, cultivando um espaço onde o passado, o presente e o futuro convergem.
O Festival ao Largo oferece uma experiência envolvente no universo da música clássica e da ópera, embora não se limite exclusivamente a estes géneros. Nesta edição, o festival contou com obras de grandes compositores, como Johannes Brahms, George Gershwin e Kurt Weil, enquanto também prestou homenagem a icónicas divas como Edith Piaf e Marlene Dietrich. Protagonizado por entidades de renome, tais como a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, a Companhia Nacional de Bailado e o programa Território dos Estúdios Victor Córdon, o festival fez ecoar pelo Largo de São Carlos um mês de cultura acessível e cativante, unindo num palco vibrante tanto estrelas consagradas quanto jovens talentos da dança europeia.
Relatos e Reflexões sobre o Festival
No meio da ampla oferta cultural e, apesar da nossa participação ter sido limitada a apenas algumas datas do festival, conseguimos captar essências que, cremos, espelham o espírito do evento na sua totalidade.
Destacamos assim João Gentil & As Damas de São Carlos, uma Orquestra de Cordas camerística constituída por elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, que marcou este ano presença no festival com um programa dedicado ao tango, interpretando algumas das mais icónicas composições do argentino Astor Piazzolla.
O cenário intimista, pautado por quentes ritmos latinos, foi suficiente para aquecer uma muito fria noite de Lisboa. O ápice desta noite chegou com a execução da música Por Una Cabeza, uma composição que, ao longo das décadas, se entranhou não só na cultura argentina mas também na memória coletiva mundial, frequentemente associada à paixão e à dança envolvente do tango.
Destacamos ainda um dos momentos mais marcantes desta edição, um concerto comemorativo dos 30 anos de existência da Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigido pelo maestro Antonio Pirolli e com a participação especial do pianista português Artur Pizarro. O programa exposto foi o mesmo da primeira apresentação da Orquestra em 1933 — Ode para Orquestra, de Lukas Foss, Rapsódia sobre um tema de Paganini, Op. 43, de Sergei Rachmaninov e a Sinfonia n.º 1 em Dó menor, Op. 68, de Johannes Brahms.
A dramática e expressiva natureza da Ode para Orquestra, reflexo imediato dos tumultos da Segun\ da Guerra Mundial, estabeleceu um contraste acentuado com a virtuosidade da Rapsódia sobre um Tema de Paganini, executada pelo pianista Artur Pizarro, numa magnífica exibição de destreza. O concerto culminou com a execução da imponente Sinfonia de Brahms, uma das mais impactantes obras sinfónicas do repertório clássico.
O Festival ao Largo permanece como um vital catalisador da renovação e expansão do público ao democratizar a cultura erudita, tanto no espaço icónico do largo quanto no domínio digital, oferecendo transmissões via RTP2 e streaming. A 15.ª edição, que celebrou igualmente o trintenário da Orquestra Sinfónica Portuguesa, não só honrou a tradição mas também manteve viva a chama da arte e da cultura.
Referências:
[1] https://www.festivalaolargo.pt/millennium-festival-ao-largo-2023-quem-somos.html