Por mais vezes
que escreva o teu nome,
não há como me fartar.
Seja no caderno,
em folhas soltas,
na secretária
ou mesmo na pele.
Com diferentes tintas,
em diferentes tamanhos
e com caligrafias distintas:
nunca me farto do teu nome.
Mas o teu nome
não nasceu só para ser escrito:
ele existe para ser lido,
e tantas vezes o tenho lido!
E recitado,
e declamado,
e gritado.
Em murmúrios
e em voz alta,
gritando a plenos pulmões
para que todo o mundo saiba
que o nome é teu
e que é teu aquele nome!
Porque é só teu o teu nome,
e de mais ninguém.
Como se tivesse sido criado
no momento em que nasceste,
fruto da necessidade
de inventar um nome
mais belo do que qualquer outro
e meritório de te designar.
Como se tivesse sido criado
há tempos imemoriais
e de seguida guardado,
com cuidado,
numa gavetinha
e fechado à chave,
sem nunca ter sido
por ninguém usado,
esperando pela tua chegada
para enfim o estreares
e o reclamares como teu.
Assim,
quando escrevo o teu nome e desenho,
uma a uma,
as suas letras no meu caderno,
não é uma palavra aquilo que retrato:
és tu.
As curvas que delineio
são as do teu corpo,
os traços com que registo cada letra
são os do teu rosto.
O vigor com que traço os “t”s
é a tua força, o teu calor.
O carinho com que pontuo os “i”s
é a tua calma, o teu candor.
Escrevo o teu nome,
o meu papel vira tela e,
guiado pelo teu rosto
(que trago gravado na memória),
pinto nela com cada letra
um novo e eterno
retrato teu.
– João Reis