Autoria: Beatriz Dinis (LEAer), Miguel Laurito (LEE), Tomás Vieira (LEMec)
Na quarta-feira, dia 9 de outubro, pelas 17h30, aproximadamente duzentos estudantes universitários concentraram-se à frente da atual sede do governo, no edifício da Caixa Geral de Depósitos. A manifestação, sob o lema: “Aumentar? Só a Luta!”, foi organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL) e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Faculdade Nova de Lisboa (AEFCSH) com o objetivo de mostrar ao atual governo, liderado por Luís Montenegro (PSD), o descontentamento face às dificuldades que os estudantes enfrentam.
Entre gritos e cânticos encontramos exigências subjacentes: o fim da propina, alojamento acessível e um apelo geral à maior ação social pelas universidades. Munidos de cartazes, bandeiras e cravos, pediam pelo fim das barreiras do acesso ao ensino superior, exigindo “mais abril” nas suas faculdades e, aos discursos, juntou-se a “Grândola” que, de braços dados, os jovens utilizaram como hino da sua luta.
Tardando o final da concentração, os presidentes da AEFLUL e AEFCSH foram recebidos por uma adjunta do Governo, concretizando a entrega do apelo, documento que enumerava as exigências e motivos da manifestação.
No decorrer da manifestação, o Diferencial conseguiu entrevistar a presidente da AEFLUL , Marta Boavida, uma das organizadoras e oradoras do evento.
Diferencial: Qual é o motivo fundamental para que a AEFLUL e a AEFCSH convoquem esta manifestação, assinada ainda por outras associações de estudantes?
Marta Boavida: O ponto chave foi a ameaça do Governo, o anúncio meio disfarçado de que iam descongelar as propinas e isto só significa o seu aumento. Nós vemos isso como o governo a tentar mandar barro à parede, a ver se cola ou não. Obviamente, para mostrar que isto não cola, os estudantes tiveram que começar a sair à rua. […] Fomos publicando notas de imprensa e fazendo comunicados.
Relatou ainda a tentativa falhada de entrega de uma carta aberta em Conselho de Ministros, bem como o confronto com o Ministro da Educação, Ciência e Inovação no Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA), pintando a ideia de obstinação por parte do órgão político. No entanto: “É a saída à rua, a luta na rua, que vai sempre fazer com que as mudanças aconteçam. É aí que se vê os estudantes, efetivamente, a dizerem que não querem nem o aumento da propina, nem a propina em si”.
Diferencial: Qual seria a resposta ideal do Governo perante esta carta aberta?
Marta: A resposta ideal do governo seria financiar o próprio Ensino Superior e não o deixar nas mãos das fundações, não o deixar nas mãos da propina.
Segundo Marta, quando confrontado por estudantes no ENDA, o ministro encarregue da pasta do Ensino Superior afirmou que a propina era um modo de financiamento, um passo para autonomia das Instituições de Ensino Superior (IES). Chegando mesmo a decretar que a propina não era impedimento ao acesso aos estudos superiores.
“Sabemos que com este Governo será muito difícil atingir isto [o fim da propina], mas a luta está aqui para apontar que é esse o caminho que os estudantes querem.” Foi também frisado que o passo atrás de não aumentar a propina foi o resultado da pressão deste movimento.
Diferencial: Maioritariamente, vemos aqui as duas faculdades de ciências sociais, quer sejam da Nova ou Universidade de Lisboa. Qual é a razão que consegues encontrar para isto? Achas que há algum problema de comunicação nas outras?
Marta: Sobretudo, eu acho que nas nossas faculdades esta dinâmica de fomentar o movimento associativo, de lhe dar importância, já está muito patente. Nas outras, ainda se vê muito desprezo pelo movimento associativo, a malta está assoberbada com trabalho, com aulas, com testes. Às vezes, por mais que queiram estar envolvidos, têm que trabalhar e estudar ao mesmo tempo, têm não sei quantos testes naquelas semanas ou não sei quantos trabalhos para fazer.
Diferencial: Sentes que as Associações de Estudantes (AE), neste momento, fazem o seu trabalho de representar os estudantes e de zelar pelos seus direitos em geral?
Marta: Acho que não… Há poucas que se preocupam em ir conversar com os estudantes, em reconhecer os seus problemas cara a cara. Sentimos muito que, às vezes, ao falar com outras AE, a posição é “não sei se isso é exatamente assim, faltam-nos estudos, faltam-nos os dados”, ou seja, não há um contacto efetivo e direto com os estudantes.
Diferencial: O que consideras que, para o Governo atual, deverá ser a prioridade?
Marta: “Creio que para o Governo atual será o alojamento estudantil, até porque já foi muito lançado por eles, mas a resposta lançada são parcerias com o Inatel e com pousadas da juventude.” Argumentando que estas soluções temporárias não resolvem o problema estrutural: “Apenas, mais uma vez, o Estado a financiar empresas privadas.”
Nisto, acrescenta que tudo se resume a um subfinanciamento, sugerindo: “Se calhar os 3 mil milhões de euros que ficaram por gastar do Orçamento de Estado anterior poderiam ir ao cuidado das escolas.”
Diferencial: Caso o apelo não seja bem sucedido, o Governo não responder, o que é que se espera como respostas da vossa parte?
Marta: “A luta continua sempre, nunca vamos dizer que acabou e que já não é preciso lutar. Quer venha ou não a resposta. Não conseguimos adiantar o que faremos, mas continuaremos a lutar nas nossas faculdades, a falar com os estudantes, a ir ao ENDA, a ir aos locais mais institucionais e aos menos institucionais.”
Termina por relembrar que em março, no Dia Nacional do Estudante, se realizam, e realizarão, grandes demonstrações de luta em prol dos estudantes.