Autoria: Gonçalo Nunes (MEIC) e Patrícia Marques (MECD)
Numa entrevista ao Diferencial, a atual direção da HackerSchool partilha a sua opinião sobre o software e hardware livre e dá a conhecer o espírito hacker. João Rodrigues, Francisco Carvalho e José Lopes explicam as dificuldades logísticas e de imagem que um núcleo estudantil focado em engenharia enfrenta, quando deparado com limitação de recursos e reconhecimento por parte da comunidade académica. Explicam ainda a instabilidade relativa à permanência da HackerSchool na atual sala no Instituto Superior Técnico.
João Rodrigues, aluno de Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e atual presidente da HackerSchool, apresenta um “núcleo onde as pessoas se juntam para fazer projetos de engenharia num ambiente relaxado, muito multidisciplinar”, ideia que o vice-presidente, Francisco Carvalho, reforça: “o que nós queremos é fomentar a aprendizagem e o gosto pela eletrónica”. Confessam que a valorização dada ao conhecimento learn by doing acima de resultados concretos e produtos finais dificulta a exposição do seu trabalho face a outros núcleos estudantis do Técnico, que “têm um impacto visual grande“. Contudo, pretendem manter uma “comunidade mais virada para os membros”.
Rapidamente se marcou a distinção entre o conceito de hacker e a perceção popular do mesmo enquanto “perito” de cibersegurança. “Ser hacker é ser revolucionário, é inovar na questão de tecnologia. É puxar para a frente. É pensar fora da caixa. É encontrar os atalhos”, comenta João Rodrigues. Reconhece que o estereótipo afeta a imagem externa da HackerSchool: “pensam nos hackers russos, na cibersegurança de tal forma que, até quando estamos a fazer eventos para fora, no nosso placard pomos um papel a dizer que não é cibersegurança”.
Dentro da comunidade do Técnico, não é segredo que muitos dos hackers do núcleo são defensores de um ambiente tecnológico em que predomina software e hardware livre. Creem que se encontra totalmente interligado com a visão dos membros de partilha de conhecimento, defendendo um “desenvolvimento descentralizado”. Interrogados quanto à predominância de software e hardware proprietário, afirmam que se deve à conveniência: “a maior parte do software desenvolvido é direcionado para Windows” e, acrescenta João Rodrigues, que a maioria dos utilizadores desconhece que se pode “«devolver» o sistema operativo ao comprar um computador e obter reembolso”. Neste contexto, a direção reforça que a HackerSchool é “completamente apolítica, não somos anarquistas” e que é um ambiente inclusivo, esclarecendo, num tom jocoso, que não são “as FP-25 do software open source”.
À data da entrevista, a direção da HackerSchool confessou que, apesar de estar a utilizar há vários anos uma sala do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC), o grupo se encontrava sob stress e “em modo de guerrilha”, sendo instável a permanência do núcleo no espaço: “precisamos de uma sala e de apoio de um professor”. A situação precária está relacionada com constrangimentos na utilização do espaço e tem raízes já prévias ao ano letivo 2022/23, sendo uma das grandes preocupações atuais do grupo estudantil: “ficarmos sem sala é matar a HackerSchool”. Após a entrevista, o Diferencial apurou a situação atual com os entrevistados, que dizem ter “tudo empacotado” e que preveem um novo espaço para o núcleo numa outra sala do DEEC “o mais tardar em maio”.