Autoria: António Luciano (MEMec)
Fez-se uma harpa nas cordas do arco,
No irreprimível tremer das mãos,
Inventou-se a custo um dedilhar solene e envergonhado,
Que embala o olhar desencontrado,
Onde como pôde,
Faz esconderijo um coração fraco.
Anseiam-se as pausas do silêncio,
Para que no vazio da oportunidade não irrompam questões,
E se mantenha com virtual cerimónia,
A mais pura integridade que o momento pode conter.
E na exigida ausência das palavras,
Se olvide a razão que é a morte do dever,
Essa que faz sentir um frio a morder amiúde,
Como uma garra retrátil,
Que golpeia e imediatamente se dissimula,
Tão intangível, como o que ondula na malha das bandeiras,
A silvar uma voz para os seus símbolos.
Enquanto a vigília continua.
Na antemanhã vê-se o fumo que tinge o horizonte,
Tendo já antes pintado o sabor a enxofre no cerrar dos lábios,
E aquele silêncio ritmado, quase pessoal,
Perde-se abafado, num rugir uníssono
Do trotar das escadarias,
No acordar impróprio de berros,
No estridir gelado do impacto dos metais.
E assim, sob uma voraz impaciência,
Tudo assume a sua posição,
Tudo é submergido em expectativa.
E onde o ruído até recentemente dominava
Faz-se novamente silêncio, um silêncio sacral.
No apoio do encosto,
Com o possível e insuficiente conforto do cruzar dos braços sobre o peito.
Mira-se o Horizonte.
Enquanto a vigília continua.