Autoria: Rita Mendes (LEBiom)
Eles perscrutam os jogos que enleias,
memorizam as passadas tormentas
e lançam o anzol à tua carne, rasgando-te,
realçando as entranhas recalcadas.
Parasitam o teu lar, escondem-se no pó
que de ti se desprende e embaciam
tudo o que se encontra à tua frente.
Basta uma singela faísca para avançarem sem pudor,
regozijam-se em labaredas de fulgor,
num espetáculo de onde só restam as queimaduras,
pintadas nas tuas mãos em dinâmicas gravuras.
Podem tornar-se tudo o que resta de ti
e até a mais leve aragem rasga esse cetim,
com que foste solertemente fabricado.
Invejas o vento que se altera sem razão,
tens pavor de mudar a tua situação
como se dos teus passos eles se reproduzissem,
como se do movimento adviesse a punição.
Quando de ti não emergir qualquer utilidade
desculpar-te-ás com o banal, mascarando a face
de canibal que consome a própria carne.
Dirás que te agrilhoaram com fios de algodão.
Dirás que te roubaram para a podridão.