O Diferencial foi entrevistar João Jerónimo, membro do Movimento Técnico, de modo a perceber como se rege e o que motiva o movimento político de estudantes ávido de mudança que promete, entre outros, lutar pelo direito a um ensino superior “Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade.”
Quando e por quem foi criado o Movimento Técnico? Fala-me um pouco sobre a motivação que levou à sua criação.
João: O Movimento Técnico foi criado no início do ano lectivo de 2009/2010 por um conjunto de estudantes do Técnico. O objectivo é mobilizar os estudantes do IST para que lutem pelos seus direitos, para que desse modo possamos todos defender e construir esses mesmos direitos. Apesar de o IST ter uma história de participação nas lutas estudantis, nomeadamente na época das lutas contra a ditadura fascista, verifica-se que a Associação de Estudantes se encontra na maior parte das vezes desligada das lutas actuais. Pretendemos mudar isso. Nesse sentido, o Movimento propõe-se fundamentalmente a envolver os estudantes nas decisões que lhes dizem respeito e a dar o exemplo, para que no IST haja um exemplo de luta e de protesto consequente contra as políticas que hoje prejudicam os estudantes.
No vosso manifesto comprometem-se a “mobilizar os estudantes para que reivindiquem o seu direito a um ensino superior Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade”. Na prática, como é que levam a cabo esta tarefa?
João: O Movimento Técnico recorre a todos os meios de que dispõe, desde os mais clássicos, em que conversamos presencialmente com as pessoas, como a distribuição de panfletos, a recolha de assinaturas e a convocação de concentrações, até aos mais tecnológicos, como o recurso ao Facebook. A mobilização dos estudantes é uma tarefa complexa mas muito necessária, pois sem ela não é possível os estudantes defenderem os seus direitos. Procuramos envolver as pessoas sem fazer grandes exigências, pois notamos uma grande dificuldade em conseguir que as pessoas se comprometam. Sabemos que temos muito a ganhar se permitirmos que cada um ajude da maneira que pode. O Movimento Técnico tem participado nos actos eleitorais para os órgãos da AEIST e para os órgãos de gestão do IST, pois vemo-los como espaços de intervenção essenciais, onde poderia ser feito muito mais para envolver os estudantes e tomar posições colectivas pelos seus interesses.
O que é para vocês um ensino superior “Democrático”?
João: O ensino superior de um país democrático tem que ser um sistema capaz de elevar toda a juventude aos mais elevados graus do conhecimento e não um ensino elitista como o que temos actualmente em Portugal. É assim que se consegue contrariar as desigualdades sociais que o próprio sistema económico cria. A maneira de o conseguir torna-se óbvia se olharmos para o que já foi o ensino superior português. Conquistado pelos estudantes, até 1991 tínhamos um ensino superior gratuito, sem propinas, ou seja, sem uma barreira financeira óbvia que impede a igualdade de oportunidades no acesso à educação. Um ensino superior democrático requer ainda que haja bons apoios para quem quer estudar e que as universidades sejam adequadamente financiadas pelo Estado, pois os impostos têm que servir para investir no futuro do país e, actualmente, isso não tem acontecido. Para além disso, é necessário que se re-democratize a gestão do ensino superior, garantindo a participação e o poder de decisão dos estudantes nos órgãos de gestão.
Existe alguma ligação entre o Movimento Técnico e algum outro movimento à escala nacional ou internacional?
João: O Movimento Técnico não está ligado a mais nenhuma organização. Isso não quer dizer que estejamos isolados, nem quer dizer que todas as pessoas que participam no Movimento sejam política e partidariamente neutras. Somos compostos por pessoas variadas com disponibilidades variadas e que podem, obviamente, ter ligação com estudantes de outras faculdades. Somos um espaço de discussão aberto a todos os alunos do IST que desejem reivindicar o seu direito a um ensino Superior Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade. Também os membros do Diferencial estão convidados a aparecer!
Quais são, na tua opinião, os maiores problemas que nós, como alunos, enfrentamos?
João: Na nossa opinião o maior problema é, sem dúvida, os milhares de jovens que gostariam de estudar mas não conseguem suportar os custos. Depois temos os encargos suportados por quem se encontra a estudar, como a necessidade de pagar passes que em alguns casos ascendem aos 100 euros mensais, e a necessidade de comprar materiais para os projectos do curso. Finalmente, há algo que todos sentimos: a degradação geral das condições materiais e humanas do ensino superior, causada pela falta de financiamento. Este último aspecto tem vindo a piorar no IST, com edifícios degradados, fecho de serviços, etc.
Assistimos recentemente a uma alteração da gestão da cantina social de um sistema de concessões para os serviços de acção social. Consideras que esta mudança foi consequência de protestos estudantis? De que forma interveio o Movimento Técnico?
João: Há muitos anos que os estudantes protestavam contra a qualidade vergonhosa que era causada pela gestão privada da cantina. Algum dia o protesto teria de dar resultado e, no semestre passado, o Movimento Técnico foi consistente nos apelos à mobilização, o que teve resultados consequentes e acabou por resolver o problema. Não temos dúvidas nenhumas de que se os estudantes não tivessem agido em protesto contra a situação que existia, ainda hoje comeríamos a mesma comida. E o Movimento incentivou-os para essa acção, por isso estamos orgulhosos do nosso papel. No futuro será igual: ou os estudantes se mobilizam ou corremos o risco de voltar à velha situação.
Como se organiza o Movimento internamente? As reuniões são regulares? Como se processa uma reunião habitual?
João: Procuramos que as nossas reuniões sejam produtivas, mas o mais descontraídas possível. Há normalmente uma ordem de trabalhos que se decide no início. Por vezes escolhe-se alguém para dirigir a reunião, dar a palavra, escrever o resumo, etc, mas o essencial é tornar a reunião produtiva e participada. A nossa intervenção é muito prática, mas sem discutir os temas seria difícil conseguir unir as pessoas. Nas reuniões discutimos as iniciativas que é necessário preparar, sejam a mobilização para uma luta local, para uma manifestação, seja a participação do Movimento nos actos eleitorais, distribuímos tarefas, etc.
Supõe que um aluno do Técnico, ao ler esta entrevista, fica interessado em participar no Movimento. De que modo o pode fazer?
João: As reuniões são geralmente a cada duas semanas, mas não há um dia definido. A melhor maneira é mesmo enviar uma mensagem para a página de Facebook do Movimento, ou para o nosso endereço de e-mail, a perguntar quando será a reunião seguinte (endereços em baixo). Claro que também podem comunicar connosco se nos virem a agir enquanto Movimento Técnico. Temos gosto em que qualquer pessoa apareça nas reuniões, para discutir a acção do Movimento Técnico e o seu possível envolvimento no Movimento.
Mais Informações em:
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- https://www.facebook.com/mov.tecnico
- movimento-unitario-ist@sapo.pt
Entrevista: Miguel Duarte