Autoria: João Carranca (LEEC)
Depois de uma dura manhã de aulas ou talvez a caminho de uma também dura tarde de aulas, muitos de nós, ilustres estudantes desta bela instituição, vemo-nos na desafortunada situação de ter de almoçar no Técnico. Talvez tenham que se submeter a este ligeiro martírio várias vezes por semana e talvez não tenham vontade ou possibilidade de gastar 5€ ou mais por almoço. Neste caso, farão então parte do largo grupo cujo primeiro instinto nesta situação é dirigir-se ao Pavilhão de Matemática à procura de uma reconfortante e, mais importante, acessível refeição.
Com o caminho já mais que memorizado, deslocam-se pelas bonitas paisagens do Técnico. Mas algo está claramente diferente do costume. De repente, veem um aglomerado de gente quase à entrada do pavilhão, no lado oposto à entrada da cantina portanto. Será uma fila para onde? Seguem o curioso carreiro de estudantes deprivados de sono e começam a cair na realidade. “Não pode ser certo?”. A primeira fase, naturalmente, é a negação. Mas a verdade é que pode mesmo ser e de facto é. Trata-se mesmo da fila para o social, e sim, dá a volta ao pavilhão.
A segunda fase, portanto, será a de ponderação pragmática. A fila não é particularmente rápida, e por isso a olho conseguem fazer uma estimativa decente de quanto tempo podem esperar ficar em pé à espera de comida. “Será que vale a pena?” é a pergunta óbvia a fazer e suspeito que muitos de vocês, pelo menos da primeira vez, tenham decidido, tal como eu decidi, que não, não valia a pena.
Está portanto na hora da terceira fase: busca por alternativas. Mas rapidamente se apercebem que as filas enormes se replicam em tudo o que é sítio que vos possa oferecer uma alternativa acessível, mesmo que menos completa, de almoço. Sobra-vos, talvez, a cantina de civil ou o bar da AE. 4,45€ ou até 5€ por uma refeição não muito melhor do que aquilo que costumam comer na cantina social provavelmente dói um pouco, a mim pelo menos doeu.
Mas se calhar escolheram um dia particularmente movimentado ou particularmente agitado. Com sorte não se repete, certo? Bem, saberão certamente qual a resposta a esta pergunta. A questão que se coloca é então simples mas infelizmente complexa ao mesmo tempo: onde posso comer uma refeição completa por 2,80€ (ou perto) sem ficar uma hora ou mais numa fila?
Hipótese 1: Evitar a “hora de ponta”. Se o vosso horário vos permitir este tipo de luxo, a melhor maneira de ultrapassar o problema é mesmo ir à cantina fora da “hora de ponta”. Nomeadamente, antes do meio dia ou depois das duas e meia. Inconveniente mas, apesar de tudo, eficaz.
Hipótese 2: Trazer comida de casa. Para muitos de vós, nomeadamente aqueles que têm restrições alimentares ou que não têm mesmo a disponibilidade financeira para comprar refeições regularmente, seja em que cantina for, isto já fará certamente parte do vosso dia à dia independentemente de assim o quererem ou não. A verdade é que trazer comida de casa sai de facto mais barato na esmagadora maioria dos casos. Se as vossas circunstâncias o permitirem, nomeadamente disponibilidade de tempo, e para aqueles que de vocês não são deslocados e por isso à partida não vivem sozinhos, ajuda de familiares, é uma excelente alternativa.
Hipótese 3: Pingo Doce. Se gostarem de sandes e de folhados de qualidade mediana para almoço, o Pingo Doce é uma alternativa razoável. Certamente a menos saudável das cinco opções aqui propostas, tem também como desvantagens o facto de não ser já tão acessível como noutros tempos e, dependendo dos itens em questão (pastelaria por exemplo), também não é fácil fugir às filas.
Hipótese 4: Cidade Universitária. A apenas duas estações de metro podem encontrar a maior concentração de cantinas sociais do país. O problema das filas aproxima-se muito mais à realidade a que muitos de nós estávamos habituados. Se não vos for inconveniente a deslocação e se não tiverem medo de partilhar espaço com estudantes de direito, letras, psicologia e demais áreas, é uma alternativa completamente válida.
Hipótese 5: Kebabs. Os famosos kebabs já estão muitíssimo entranhados na cultura gastronómica do Técnico. São inegavelmente acessíveis, também inegavelmente saborosos mas não constituem propriamente uma refeição completa.
Se não se identificam com nenhuma destas cinco opções, infelizmente creio que a extensão do meu engenho se fica por aqui. Talvez só vos reste o protesto e a queixa.
Mas haverá afinal razão para protesto e queixa? Quem é o culpado pela situação atual? Conseguimos perceber, especialmente aqueles de nós que já por cá andavam antes deste ano, que o estado atual das coisas não é o normal, por isso algo teve que acontecer para chegarmos aqui. A cantina social original fechou para obras há poucos meses e foi substituída pela operação que atualmente tem lugar no Pavilhão de Matemática. Acontece que este espaço tem uma capacidade muito mais reduzida, tanto para alunos como para a cozinha. Deixaram, por exemplo, de haver duas filas, uma delas para vegetariano, o que atualmente obriga quem dela fazia uso a partilhar espaço com os “carnistas”, algo que pode implodir numa guerra social a qualquer momento. Numa nota mais séria, o que dá lugar às atuais enormes filas é o período de espera que existe entre troca de travessas quando uma se esvazia. Na cantina social original, pela diferença de dimensão, o período de substituição era quase inexistente e cada “fornada” bastante maior.
Este resultado não era de todo imprevisível, muito pelo contrário, o que significa que quem tomou decisões neste sentido tinha plena consciência das inconveniências que isso traria aos alunos. Questiono se não teria sido possível, por exemplo, manter parte do antigo espaço da cantina a funcionar durante as obras ou se não existe nenhum espaço em todo o campus, para além do Pavilhão de Matemática, que pudesse ser temporariamente reconvertido de modo a complementar a operação atual. Infelizmente nesta fase a única coisa que podemos de facto fazer é questionar. Apesar de tudo, a data de reabertura da cantina social já renovada não está assim tão longe.
Ou será que está? A abertura do novo social estava planeada para o próximo março mas devido à burocracia de reativar a cantina a meio do ano, só abrirá no inicio do próximo ano letivo. E nesta nota certamente motivadora, termino.