Autoria: João Carranca (LEEC), João Dinis Álvares (MEFT)
Entre os dias 5 e 23 de agosto, a Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico (TUIST) fez uma tour pela Alemanha, na região de Bayreuth, a convite do 73º Festival de Jovens Artistas da cidade homónima. Já tinham participado neste evento em 2013 quando fizeram 20 anos de existência. Este ano, foram celebrar os 30.
É costume a TUIST fazer uma digressão durante o verão, para além de outras ao longo do ano, mais pequenas. Também a tuna foi influenciada pelo Covid, tendo sido difícil voltar a conseguir fazer uma grande digressão desde então: “A última foi antes do Covid-19, em 2018, quando fomos a França.” Porém, antes disso, recordou Eduardo Santos, atual presidente da Tuna, “já fomos ao Peru, à Holanda, a Itália, já fomos a Nova Iorque e mais um ou outro país”.
Esta mais recente digressão, na Alemanha, foi diferente da de Itália. “Em Itália, por exemplo, tivemos uma digressão que foi muito à base de irmos para lá e combinarmos certas atuações em restaurantes, hotéis, passeando de cidade em cidade, fazer atuações de rua, ou seja, era uma coisa que não estava associada a nenhum evento grande, mas arranjávamos atuações para pagarmos a digressão e fazer algum dinheiro, mas também para nos divertirmos e passearmos um bocado.” Fazendo o contraponto com o festival a que foram este verão na Alemanha, já é um tipo de digressão diferente: “muitas vezes são festivais de música de jovens artistas ou de música mais jovem e muitas vezes não existem grupos como o nosso. Mesmo este ano, nós éramos um pouco o grupo fora da caixa lá no meio.”
Sobre como surgiu esta ideia de ir à Alemanha, Diogo Araújo, vice-presidente da TUIST, disse que era algo simbólico voltar à cidade onde a tuna tinha sido tão feliz 10 anos antes, quando estavam a celebrar o seu vigésimo aniversário: “quando viram que nós estávamos interessados, ficaram também super interessados” e as coisas começaram a organizar-se.
Apesar de o festival ter o nome da cidade de Bayreuth, “o festival é muito completo, no sentido em que, quase todos os dias, tínhamos atuações em outras cidades ou vilazinhas à volta de Bayreuth […] e estávamos sempre a passear, sempre a ver cidades diferentes e vilas diferentes, mas também interagimos muito com os outros grupos que lá estavam, havia essa dinâmica de conhecer os grupos de outros países e também de [vontade dos outros grupos de] conhecer o nosso.” O festival chega ainda a ter uma parte em que é suposto vários grupos se juntarem e criarem algo em conjunto, mas infelizmente este ano este projeto era mais dedicado ao estilo barroco, que não é de todo o tipo de música que a TUIST se versa. O facto de ser estilo barroco explica também a existência de várias Orquestras Jovens presentes com quem interagiram, havendo uma grande diversidade, não só em estilos de música como a nível de nacionalidades.
A ida a um festival, no entanto, exige uma certa preparação e isso foi não só um esforço dos membros ativos da TUIST, atualmente, como também contaram com ajuda de membros que já tinham estado na Alemanha há dez anos. Sobre a dinâmica da tuna, Eduardo foi claro: “Se estás cá uma vez, ficas para sempre.” Isto acaba por se tornar fulcral em organizações de eventos maiores da tuna, por exemplo o Festival de Tunas, sendo a TUIST a organizadora, onde trazem tunas de todo o país e várias de fora, sendo valiosa a opinião de pessoas mais experientes. Para além disso, numa digressão de 17 dias como a que fizeram durante agosto, “é muito tempo que nós passamos, são 24 horas juntos e não encontras isso em [quase] mais nenhum grupo. Mesmo que haja pessoas de que não gostas, a bem ou a mal, tu tens de viver com aquelas pessoas e vais fazer coisas divertidas com elas, vai haver momentos em que se calhar te vais chatear com elas, mas tudo isso faz-se bem.”
Voltando ao festival em si, havia grupos de vários países, como a Grécia, a Rússia, os Estados Unidos, etc., e cada grupo era diferente, havia uma violinista americana, grupos de percussão apenas, pianos a quatro mãos, um coro grego, “e é esta partilha de cultura que faz com que o festival seja muito interessante.”
“Num espaço de 15 dias, tivemos 9 concertos. [Nos concertos], nós tentávamos mostrar um bocadinho da cultura portuguesa e da música portuguesa. Nós somos uma tuna que é muito ligada ao fado e [por isso] tivemos momentos com guitarra portuguesa, com músicas de fado bastante conhecidas a nível nacional, não só fado de Lisboa mas também de Coimbra. Tocámos outras mais animadas que a tuna costuma tocar, as serenatas e esse tipo de coisas assim mais românticas, mais elegantes.” Eduardo e Diogo recordaram ainda que, no final das atuações, tinham muitas senhoras a irem ter com a tuna dizer que a energia que eles traziam faziam-nas voltar aos anos da sua juventude. “A maneira como éramos recebidos, era o brilho nos olhos de quando passávamos pela primeira vez.”
O facto de a maior parte dos públicos para que tocaram não terem noção do contexto académico em que se insere o traje e o conceito de uma tuna, enaltecia ainda mais essa sensação de espetáculo.
Após a atuação da TUIST do primeiro dia, o presidente da câmara de uma cidade não muito longe perguntou-lhes se podiam vir tocar à sua cidade e eles acederam: “foi um bocadinho fora do festival e estávamos a tocar, acabámos a atuação e nós tínhamos combinado que ia passar uma marcha e depois uma banda e quando a banda começasse a aparecer nós íamos parar a nossa atuação. […] Quando parámos, do nada, [aparece] toda a gente trajada a rigor com os fatos tradicionais deles e vinha um barril gigante de cerveja a ser carregado por cavalos. Eles fazem aquilo há centenas de anos e nem durante o Covid parou. […] Quando chegámos [ao final da marcha], onde eles tinham uma cerimónia, ia o presidente da câmara com um martelo abrir o barril e servia toda a gente e faziam um brinde. E ali eles fizeram um brinde connosco. E sentimo-nos honrados, foi só connosco aquele brinde.”
“E depois estivemos o resto da noite toda, nós a cantar com eles, foi uma grande festa. […] Nós acabámos de dar o concerto e, de repente, vemos o público todo com umas folhinhas e começam a cantar uma música para nós.”
“Aquilo [na Alemanha] foi assim. Nós saíamos do palco quando acabávamos, o público batia sempre imensas palmas e nós [voltávamos e] ficávamos lá para receber as palmas, a sorrir, que é uma coisa à qual nas nossas atuações em Portugal não estamos habituados. Não estávamos habituados a tantas palmas e, da primeira vez que aquilo aconteceu, ficámos ali um bocadinho constrangidos. Acabámos por ficar para mais duas músicas.”
Existe um certo contraste entre a forma como foram recebidos na Alemanha e aquilo a que estavam habituados em Portugal: “Não é que em Portugal não sejas bem recebido, mas a cultura é diferente e para além disso as pessoas já estão habituadas às Tunas”. “Lá [na Alemanha], éramos uma espécie de rockstars”.
O conceito de Tuna é, aliás, algo bastante exótico na maioria dos países: “[A Tuna] é uma coisa tradicional de Portugal e Espanha.” “Começou em Espanha e eventualmente veio para Portugal. Depois disso, espalhou-se para os países de língua espanhola, em particular a América Latina.”
“O que nós fazemos é quase folclore. […] Uma vez, um casal perguntou-nos como é que cantávamos e tocávamos instrumentos ao mesmo tempo, algo que para nós é normal e super simples de entender, mas para eles ou era orquestra ou era coro, os dois ao mesmo parecia impossível.”
A TUIST tinha uma apresentação planeada para os públicos alemães: “Tínhamos uma apresentação toda bem feita em alemão, algo um bocadinho solene, em que explicávamos o que era a Tuna.”
“Tínhamos a sorte de ter um rapaz no grupo que sabia falar alemão e lembro-me bem que as pessoas não estavam nada à espera que [nos] apresentássemos em alemão, mais nenhum grupo fazia isso.”
Sobre as experiências mais marcantes da tour, a TUIST destaca também as interações com outros grupos, nomeadamente um grupo grego: “No primeiro dia, nós estávamos na cantina a tocar umas músicas entre nós, tínhamos acabado de jantar, quando chegou o grupo grego e começaram a dançar e cantar connosco ao ponto de se atrasarem para um ensaio. Teve que voltar o chefe de grupo quase uma hora depois para os vir buscar.”
A TUIST, ao contrário da maioria dos grupos presentes, não tinha o equivalente a um chefe de grupo, maestro, mestre ou orientador: “Acordávamos às 8 da manhã por nossa própria vontade, quase que nos obrigávamos uns aos outros a sair da cama para termos a certeza que fazíamos boas atuações.”
Os lugares das atuações variaram bastante ao longo do tempo: “Houve muitas atuações em sítios organizados, geralmente tínhamos sempre palco. Uma vez atuámos numa igreja e houve uma energia incrível. Houve vezes que não tivemos palco e fomos atuar em casas privadas, mas geralmente eram casas muito grandes em que se juntavam as pessoas todas da vila ou estávamos a atuar. Eram espaços muito bonitos, muito bem arranjados, acabam por ser espetáculos mais intimistas.”
“Em Portugal, geralmente os espaços em que atuamos são diferentes. Muitas vezes atuamos para organizações que vêm de fora e querem conhecer melhor a cultura portuguesa. Também fazemos casamentos e alguns eventos privados mas não na mesma escala [que na Alemanha]. Os eventos maiores que fazemos são por exemplo durante os Santos Populares ou os festivais de Tunas em que não só atuamos como geralmente fazemos parte da organização. Não há tanto essa possibilidade de ter estas atuações mais intimistas.”
Algo que também foi surpreendente foi encontrar quem ainda se lembrasse ou tivesse mesmo visto as atuações da TUIST uma década antes aquando do seu vigésimo aniversário: “Uma senhora chegou ao pé de nós e mostrou-nos um autocolante dos 20 anos, depois começámos a mostrar vídeos que tínhamos dessa época, foi espetacular.”
Sobre se voltam Bayreuth para o ano que vem, não há ainda certezas: “Por um lado temos muitas opções, já recebemos convites e tínhamos o objetivo de tentar ir ao Brasil para o ano. Por outro lado era giro dar algum tempo de intervalo, para podermos ter mais novos membros a ir lá pela primeira vez”
Os ensaios da TUIST são abertos a todos os estudantes do IST e ocorrem às terças e quintas às 18h no FA3 na Alameda.
Deixamos ainda aqui a setlist da Tuna, enquanto estiveram na Alemanha:
Vida de Estudante
Lisboa Não Sejas Francesa
Dou-me ao Mar
Se Um Dia Não Houver Luar
Amélia dos Olhos Doces
Paredes Meias Com Armandinho e Nunes
Vontade de Ser
Verdes Anos
Povo Que Lavas No Rio
Barco Negro
Guantanamera
Marcha do Caloiro
Marcha do Centenário
Marchas de Lisboa