Autoria: Alice Brazete, LEBiom
Olho para trás do caminho estreito
e vejo a minha casa
Ela era grande e amarela
Nela vivia eu e os meus sonhos
Passei tempos e tempos na casa,
aconchegada pelo familiar
Vivia dias iguais, e noites tranquilas
Não sabia que gostava
Mas gostava muito da minha casa
A minha casa viu transformar-me
nas mil personagens que já fui nesta história
Ela esperou e cultivou-me cuidadosamente
Alimentou-me de segurança e afeto
E regou-me todos os dias ao deitar
com um beijo na testa de boa noite
Na minha casa eu fui ganhando forma,
usei-a como molde e fiz uma cópia imperfeita
Cresci para fora das mãos que me construíram calmamente
E de repente, tornei-me gente
Serei eu alguém?
Hoje caminho para longe da minha casa,
por uma estrada de terra cheia de pedras
Larguei a mão que me segurou durante tanto tempo
para vaguear por entre outras casas,
por entre personagens
Observo agora as minhas mãos, perfeitamente vazias, enquanto sigo em frente
sentindo as pontas afiadas a espetarem-se nos meus pés a cada passo
Visito casas de todos os tipos
Umas grandes e vistosas
Outras pequenas e humildes
Já vi de tudo, já tentei de tudo,
mas nenhuma casa é a minha casa
E quando me aproximo, à cautela, e tento abrir a porta
A casa encolhe e afasta-se até desaparecer
Continuo infinitamente em busca de mim