Autoria: João Carranca (LEEC), João Dinis Álvares (MEFT), Matilde Sardinha (LEEC)
O Técnico Innovation Center (TIC) é o edifício que vai voltar a dar vida à antiga Gare do Arco do Cego, perto da entrada do metro do Saldanha. É um espaço construído para servir de ligação entre o Técnico e o resto da população, mas não só. Vem também resolver um grande problema que os alunos do Técnico têm vindo a sentir, cada vez mais com maior intensidade. Será inaugurado dia 18 de outubro, às 10h30 da manhã.
No passado dia 11, a Direção do Diferencial reuniu com o professor e presidente do Técnico Rogério Colaço para falar sobre o novo edifício perto do Jardim do Arco do Cego, o TIC, naquela que é a primeira parte de uma entrevista que aborda vários temas decisivos para os estudantes.
O TIC contará com 4500 m2 divididos em quatro espaços. A primeira zona, logo à entrada, estará aberta a toda a população. Servirá de ponte entre a comunidade de Lisboa e aquilo que é feito no Técnico: pelos seus estudantes, centros de investigação e departamentos. Será um espaço de exposições cujo o primeiro ocupante depois da inauguração será a exposição “110 anos, 110 histórias” que irá contar com os 110 objetos abordados ao longo do podcast do mesmo nome. Ao lado desta zona, haverá uma cafetaria com uma esplanada com vista para o Arco do Cego.
A segunda zona, atrás da zona de exposições, será um espaço multiusos com uma capacidade de 800 lugares que contrasta com a atual sala com a maior capacidade no Técnico: o Centro de Congressos, no Pavilhão de Civil, que tem apenas 300 lugares. O espaço é dinâmico, tendo a capacidade de receber eventos de grande dimensão, mas também outros mais pequenos. Estes eventos poderão ser organizados por centros de investigação ou empresas que terão de solicitar a reserva do espaço ao Técnico.
A terceira zona, e talvez a de maior interesse para os nossos leitores, será uma mezzanine com 1000 m2, possível devido ao elevado pé direito da antiga Gare. “Este será o maior espaço de estudo 24 horas do país, com 800 lugares”, exclusivo para os alunos da Universidade de Lisboa. Para comparação, o outro espaço de estudo 24 horas em funcionamento na ULisboa, o Caleidoscópio, tem apenas 175 lugares. A sala de estudo contará com vidros que assegurarão o isolamento acústico relativamente aos outros espaços, ao mesmo tempo que permite a entrada de luz e uma vista sobre o espaço de exposições. Para aceder a este espaço de estudo, será necessário o cartão do Técnico ou da Universidade de Lisboa para poder passar pelos torniquetes. Rogério Colaço acredita que o TIC vai resolver o grande problema que existe atualmente em relação à falta de lugares de estudo de que toda a comunidade se queixa.
Finalmente, completamente separado dos restantes espaços, existirá um quartel dos bombeiros com 800 m2. A cedência deste espaço aos bombeiros por parte do Técnico foi a contrapartida que a Câmara Municipal de Lisboa exigiu para que o direito de superfície fosse concedido. O presidente fez notar que este espaço estará isolado e não terá qualquer interferência nas atividades dos restantes espaços. Haverá também, em frente ao TIC, uma escultura de Bordalo Pinheiro.
Para que esta obra fosse possível, contribuiu o trabalho de vários investigadores, professores e bolseiros do Técnico tanto da área da engenharia como da arquitetura. O TIC tratou-se então de um projeto “in-house” que desafiou engenheiros e arquitetos do Técnico a reconstruir a gare do Arco do Cego, “mantendo as suas características clássicas, tal como a estrutura metálica, mas trazendo modernidade e funcionalidade ao espaço”.
Rogério Colaço afirma que um espaço tão grande vai permitir intervenções em “várias salas de aula que não estão em boas condições”. “Neste momento, não conseguimos porque as pessoas estão a ter aulas e não temos nenhuma sala que possa ser fechada por seis meses. E não é possível compactar mais os horários.”
O telhado estará equipado com painéis solares triangulares, compostos por uma parte em vidro que permite a entrada de luz por cima. Para além destes painéis, no teto do TIC haverão painéis acústicos que retirarão qualquer reverberação que aconteceria naturalmente numa Gare.
Em termos de orçamento, já com IVA, o valor total da obra é de cerca de 13 milhões de euros, dois milhões abaixo dos 15 inicialmente previstos. “Este projeto foi todo construído sem um único cêntimo da dotação do orçamento de Estado para o Instituto Superior Técnico, não há um centavo de propinas, não há um centavo de receitas dos centros de investigação.” O TIC foi construído com “três componentes: uma componente foram doações de instituições, pessoas, empresas; a Fidelidade deu um montante mais significativo, que não me autorizam a dizer, mas é muito significativo. Fizeram uma doação benemérita, sem nenhuma contrapartida. […] Depois, a CCDR* de Lisboa e Vale do Tejo, […] que deu cerca de 40%. Para o que faltava, foi feito um empréstimo pela Associação para o Desenvolvimento do Instituto Superior Técnico [ADIST]”. Como instituição pública, o Técnico por si só não poderia pedir um empréstimo, pelo que a obra do Arco do Cego, o TIC, está oficialmente em nome da ADIST, uma instituição irmã do Técnico, que não gere dinheiro público. Desta forma, “permitiu construir todo o Técnico Innovation Center sem colocar em causa nenhum financiamento para o funcionamento do Instituto Superior Técnico.”
Ainda sobre o orçamento, o presidente Rogério Colaço acrescentou que, se a obra não estivesse terminada até ao final de 2023, os 4 milhões da CCDR desapareceriam, uma vez que estão alocados para a obra, este ano. Felizmente, a obra estará terminada antes do final do ano e será inaugurada no dia 18 de outubro de 2023, às 10h30, exatamente dois anos depois do início da obra do TIC. “Tivemos sorte do empreiteiro ser excelente, mas fizemos um acompanhamento próximo, foi um trabalho muito cooperativo.”
Quando questionado sobre as maiores dificuldades que enfrentou durante a execução do projeto, Rogério Colaço refere as primeiras semanas da guerra na Ucrânia: “uma semana depois da guerra ter começado, as fábricas boicotaram a venda de matérias primas, houve uma quebra de stock, pensei que não íamos conseguir cumprir os prazos”. Fala também das complicações burocráticas associadas a grandes projetos públicos como “licenças que não podem ser emitidas sem outras licenças” que provocaram atrasos incontornáveis. O presidente lembra um caso particular antes do início da obra: “Em setembro de 2021, estávamos a negociar o empréstimo com o banco e foi-nos pedido um documento assinado pelo presidente da câmara a declarar que a cedência do direito de superfície era feita ao Técnico. Demorou séculos e atrasou significativamente os trabalhos”.
O TIC será um importante acrescento à estrutura do IST e da própria ULisboa com potencial para alterar significativamente a dinâmica do Jardim do Arco do Cego. O espaço 24h em particular pode mesmo mudar a rotina de muitos alunos que hoje se vêem confrontados com a falta de espaços de estudo de qualidade no campus e que não têm mais alternativas.
Para mais informações, existe também a página dedicada ao TIC.
*CCDR = Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional