Mega projeto de Energia Solar no Deserto do Saara

No Sul de Marrocos localiza-se a “porta do deserto” Saara, a cidade de Ouarzazate. O potencial desta cidade tem vindo a ser explorado nos últimos anos através da indústria do cinema, tendo servido de palco para grandes produções conhecidas mundialmente. Aproveitando a localização favorável e o facto de ser uma cidade versátil, está a ser projetado, para o local, o maior campo de Concentração Solar do Mundo, com o objetivo de fornecer eletricidade a 1.1 milhões de Marroquinos em 2018 (100% renovável).

deserto

Este projeto (com um custo estimado em 8 bilhões de euros) é o início daquilo que tem vindo a ser um acumular de ambições para tornar o Deserto do Saara na maior potência mundial de Energia Solar. O projeto envolve a construção de quatro complexos de centrais solares interligados, o que ocupará um espaço correspondente ao da capital do país, Rabat. A primeira fase do projeto, uma central solar com 160MW de capacidade, denominada Noor 1, começou no passado mês de Novembro. É estimada uma produção total de 500MW, suficiente para alimentar um milhão de habitações. No melhor dos cenários, espera-se que alguma da energia produzida possa ser encaminhada para a Europa.

A tecnologia utilizada no projeto, Concentração Solar, tem custos de instalação bastante superiores quando comparados com os da Energia Solar Fotovoltaica. Por outro lado, permite armazenar energia, contrabalançando a desvantagem das energias renováveis dependerem de fontes intermitentes, o que permitirá fornecer energia limpa até durante a noite. De forma resumida, esta tecnologia consiste num conjunto de colectores solares parabólicos (um total de 500 mil, com 12 metros de altura) que atuam como espelhos, refletindo a radiação para tubos recetores posicionados ao longo da linha focal dos mesmos. Nestes tubos circula um fluído que é aquecido pelos raios solares até aproximadamente 450ºC (no caso de se tratar de sais fundidos). Este fluído permite a produção de vapor, uma vez num trocador de calor, e de seguida o vapor produzido é direcionado para uma turbina, onde é gerada a energia elétrica como em qualquer outra central.

Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, que financiou a primeira fase deste projeto, é esperada uma redução das emissões de dióxido de carbono em 250 toneladas por ano, num período de 25 anos. Segundo o Ministro do Ambiente de Marrocos, Hakima el-Haite, 94% da energia do país é proveniente de combustíveis fósseis e é importada, resultando num grande encargo para a economia do país. Este projeto, proveniente do Governo, visa expandir o fornecimento de energias renováveis pelo país, diminuindo desta forma a dependência de outras fontes prejudiciais para o ambiente.

A abertura das centrais Noor 2 e 3 é esperada para 2017. Estimativas apontam para um armazenamento de energia até oito horas, o que significa fornecimento de energia renovável noite e dia.

A demanda de energia global poderia ser satisfeita inteiramente recorrendo à energia solar proveniente do Deserto do Saara, o que torna este local bastante promissor. Apesar de atualmente não haver uma tecnologia global capaz de armazenar energia do dia para a noite, a possibilidade de alimentar energeticamente o planeta inteiro recorrendo apenas ao sol neste deserto é bastante atrativa. O problema é o facto do maior deserto do mundo ser partilhado por onze Nações Africanas, o que significa acordos políticos, conflitos de interesse e também as limitações tecnológicas. O desafio mantém-se, cabe aos Engenheiros futuros procurar soluções para aproveitar a maior quantidade de energia possível que o Sol nos dispõe.


Texto: Rita Feijão