14 dias de música além-fronteiras: a digressão da TUIST e da Azeituna pelo Brasil

Autoria: Pedro Lima (MEIC-A)

Atuaram para imigrantes, contaram a sua história e homenagearam as culturas portuguesa e brasileira: foi assim que, de 10 a 24 de outubro, a TUIST e a Azeituna levaram um pouco de Portugal para lá do Atlântico.

A Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico (TUIST) estreou-se oficialmente há 31 anos, na primeira edição do Festival Internacional de Tunas Universitárias do IST, na Alameda. Desde então, consolidou-se como uma instituição com orgulho do seu passado, alicerçada na memória histórica, adquirindo o estatuto de associação. Com cerca de 150 membros, entre novos e antigos, a TUIST reinventa-se respeitando as suas origens, sem nunca menosprezar a inovação que trazem as novas gerações. Presente nos mais importantes festivais internacionais de tunas, arrecadou vários prémios e participou em digressões nacionais e internacionais (Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, entre outros pontos do globo), sendo esta  a primeira vez que passa pelo Brasil. Reconhecida como uma das tunas mais conceituadas em Portugal, a TUIST contagia o público com a sua música e humor, promovendo o nome do Técnico e a cultura da cidade de Lisboa. [1][2]

A Tuna de Ciências da Universidade do Minho, vulgo Azeituna, estreou-se em 1992, nas Monumentais Festas do Enterro da Gata, apadrinhada pela Tuna Universitária do Minho. Sempre com uma visão própria da música, tem atuado em Braga, Guimarães e outros cantos do país e do mundo. Entre os eventos mais marcantes onde marcou presença, destacam-se a EXPO’92 em Sevilha e a Festa Anual do Instituto das Universidades Europeias. Em 2001, cumpriu o sonho de visitar o Brasil, um feito que foi repetido este ano, com a digressão em epígrafe. [3]

Com o intuito de criar um diálogo culturalmente relevante, a TUIST levou ensaiadas 22 músicas para as 7 (principais) atuações da digressão, que teve o apoio da Universidade do Minho, do Técnico, do vereador de Poços de Caldas Marcus Togni, entre outros. O ponto de partida foi o Teatro Ralino Zambotto, no dia 11 de outubro, onde os tunantes fizeram uma interpretação de Cálice, de Chico Buarque. Daqui partiram para a Casa de Portugal de São Paulo, lugar onde foram recebidos por ocasião da homenagem aos seus 89 anos, no evento Noite das Tunas.

No dia que se seguiu, foram tocar e cantar à Casa de Portugal de Campinas, onde participaram na Festa das Tunas, com buffet à disposição. A 13 de outubro, o roteiro levou-os ao Centro Cultural Português de Santos, onde atuaram para cerca de 200 pessoas. Já a 15, marcaram presença na Universidade de São Paulo e, um dia depois, foram a uma reunião com a Diretoria Executiva de Relações Internacionais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Por fim, dirigiram-se ao Espaço Cultural de Urca, em Poços de Caldas, a 18 de outubro.

Ao longo destes 14 dias de música, a TUIST teve a necessidade, como se pôde depreender, de adaptar as suas atuações conforme o contexto em que se encontrava. Isto porque tanto os públicos como os espaços onde a atuação decorria acabavam por influenciar as músicas escolhidas. Em espaços ao livre tocávamos marchas e outras músicas tradicionais de forma a pormos o público a dançar do início ao fim da atuação. Outras atuações davam-nos um palco, onde aí já tínhamos a oportunidade de fazer uma atuação com partes mais sérias, esclarece Miguel Serpa, coordenador musical da TUIST.

TUIST e Azeituna. Fonte: TUIST

Esta seriedade traduziu-se numa oportunidade para contar a história da tuna, além de permitir que se fizessem homenagens ao fado e à música brasileira. Por conseguinte, houve momentos que suscitaram emoções fortes. Ninguém – fossem imigrantes portugueses ou locais – ficou indiferente. “Alguns dos sítios onde atuámos foram casas de Portugal, locais onde se reúnem imigrantes. Estes adoravam sentir um pouco de Portugal outra vez, e vimos algumas lágrimas de saudade caírem ao ouvirem o nosso fado, com músicas como a Valsa Chilena e o Povo que Lavas no Rio, continua Miguel Serpa. A adaptação de obras de compositores latino-americanos é uma tradição que já perdura há muitos anos nas tunas portuguesas e é nesse contexto que os tunantes ensaiaram um arranjo de guitarra portuguesa da Valsa Chilena. Quanto à música Povo que Lavas no Rio, escrita pelo poeta Pedro Homem de Mello e interpretada originalmente pela fadista Amália Rodrigues, esta tem o estatuto inegável de clássico.

Guitarra nas mãos de um tunante. Fonte: TUIST

Em relação à reação dos brasileiros, Serpa discorre: O povo brasileiro ficava em êxtase ao ver as coreografias das nossas pandeiretas. Além disso, um dos momentos da nossa atuação era uma homenagem à música brasileira, em especial com a Um a Zero, mas também a Cálice. Houve razões para estas músicas serem escolhidas. Um a Zero é um instrumental de choro brasileiro, capaz de pôr os ouvintes a dançar. Já a Cálice é uma música que explora a revolta e a censura durante a ditadura brasileira. Os tunantes aproveitaram-na para fazer um paralelo com o 25 de abril, como forma de homenagear os seus 50 anos, uma vez que representa o que o povo português queria naquele tempo.[4]

Entre os momentos musicais que aqui foram descritos, houve ainda espaço para diversão e convívio sem que a música fosse a peça central. E foi nestas alturas que as tunas fortaleceram os seus laços e conheceram mais a fundo a cultura brasileira. Os cocos, bem como outros alimentos e pratos típicos, não puderam faltar.

TUIST e Azeituna a beberem água de coco. Fonte: TUIST

Em jeito de remate, inclui-se abaixo a lista das músicas ensaiadas. A ordem não é representativa.

Vontade de Ser
Se Um Dia Não Houver Luar
La Gitane
Marcha do Caloiro
Auto da Ilusão
Noites de Luar
Valsa Chilena
Povo Que Lavas No Rio
Alfama
Lisboa Não Sejas Francesa
Barco Negro
Um a Zero
Cálice
Vida de Estudante
Guantanamera
Marchas de Lisboa
Marcha Pimba

Músicas extra:
Marcha do Centenário
Esta Lisboa Que eu Amo
Dou-me ao Mar
Boa Nova
Amélia do Olhos doces

Referências:

[1] Historial (TUIST) [Acedido pela última vez a 20/11/2024]

[2] TUIST – Tuna Univ. do Instituto Superior Técnico [Acedido pela última vez a 20/11/2024]

[3] Azeituna – Tuna de Ciências da Universidade do Minho [Acedido pela última vez a 20/11/2024]

[4] TUIST – Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico de Lisboa em Itatiba em sua 1ª apresentação [Acedido pela última vez a 20/11/2024]

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