17ª Festa do Cinema Italiano

Autoria: Margarida Lourenço (LEIC-A) e Beatriz Costa (MEFT)

Poster do 17º festival de cinema italiano [1] : Cartaz Cultural de Lisboa

Entre os dias 12 e 21 de abril, realizou-se a 17º Festa do Cinema Italiano, em Lisboa. Este esteve espalhado por toda a cidade, com sessões no Cinema de São Jorge, UCI El Corte Inglés,  Cine-Teatro Turim e Cinemateca Portuguesa, e continua a marcar presença noutros pontos do país. Este evento não contou apenas com cinema, mas explorou outras vertentes como literatura, música, aprendizagem de italiano, stand-up comedy e espetáculos de magia. Durante estes dez dias, Lisboa pode saborear a verdadeira pizza, cheirar o café “ristretto”, ouvir a “Tarantella”, ver imponentes monumentos e sentir a cultura italiana.

A abertura do festival contou com o sucesso de bilheteira de Itália “C’è ancora domani”. Uma comédia romântica que, num estilo neorrealista pop e commedia all’italiana, explora a narrativa de mulheres em busca de autoafirmação e reflete sobre desafios sociais e pessoais, focando-se na resiliência feminina. O fenómeno superou o blockbusterBarbie” em Itália e não tardou a esgotar salas da capital. Os dias seguintes incluíram algumas surpresas como momentos de perguntas e respostas após algumas sessões, atividades para o público mais jovem, cine-jantares e DJ set. O festival terminou com chave de ouro: a antestreia de “Confidenza” e uma gala de encerramento no Palácio do Grilo. 
Das sessões cinematográficas, destaca-se  “Milano – The inside story”, documentário que narra a história da indústria da moda italiana no mundo, ao longo dos últimos 50 anos. Desde a rivalidade entre Giorgio Armani e Gianni Versace, na década de 70, até à conquista do mercado americano através de Hollywood, passando pela morte do parceiro de Armani durante a crise da SIDA. Todos os mistérios e escândalos da capital da moda revelados através das vozes de um elenco de luxo. Nomes como Tom Ford, Sharon Stone e o próprio Giorgio Armani constam neste repertório. O evento contou com a presença de ambos os produtores, Alan Friedman e Giuseppe Pedersoli, que tomaram o gosto de saciar a curiosidade dos espectadores respondendo a perguntas no final da sessão.

Gianni Versace e modelos.  Fotografia: America Domani

Numa ode à emancipação feminina e ao poder do livre-arbítrio, salienta-se também o reescrever da história bíblica em  “Vangelo Secondo Maria”, onde nos é apresentada uma perspectiva díspar da mulher espectadora e imaculada mãe. Maria é provocadora, desobediente e complexa. Aspira conhecer o mundo, recusando conformar-se aos papéis que lhe são impingidos e enraizados pela incómoda e ancestral realidade da misoginia. O seu desejo de liberdade e busca pelo saber fá-la aperceber-se de que “Eva estava certa, conhecimento não é pecado, é dever”, estabelecendo-se uma analogia entre elas, assim como Eva viola a vontade de Deus e prova o fruto proibido, também Maria, num ato de rebelião quase fatal, decide renunciar ao seu papel enquanto mãe do Salvador. 

Ainda na temática cinematográfica, realça-se “Lo sposo indeciso”, uma comédia que levou todo o auditório às lágrimas de riso. O dia de casamento é muitas vezes pintado como o dia mais perfeito da vida dos noivos, sobretudo no seio de uma família tradicional de Roma, embora nem sempre tudo corra bem. Há problemas que facilmente se resolvem, mas o que fazer quando a chuva é torrencial, a noiva cai das escadas, o noivo não sai da casa de banho e o casamento é enfeitiçado por uma bruxa? Além do filme ser extremamente divertido e repleto de trocadilhos, leva o espectador a uma reflexão final séria sobre o conceito de verdadeiro amor. O amor consegue ser tão complexo que, por vezes, é necessária a ajuda de uma poção mágica para duas pessoas se apaixonarem. Numa dicotomia entre a religião e o ceticismo, a superstição e a ciência e a tradição e a modernidade, Giorgio Amato retrata uma boda um tanto ou quanto italiana onde os noivos não podiam ser mais diferentes.

Ilenia Pastorelli e Gian Marco Tognazzi, lo sposo indeciso. Fotografia: Ciak Magazine

Além de Portugal e Itália serem ambos países do Sul da Europa e, como tal, estarem unidos por diversos fatores, como a gastronomia, a mesma origem linguística e o temperamento latino, há outro aspeto que acentua esta conexão: o 25 de Abril. Este ano, Portugal celebra os cinquenta anos do fim da ditadura e Itália festeja os setenta e nove anos da sua libertação pelas forças aliadas da ocupação nazi. Esta data foi assinalada pelo festival, não só com filmes italianos, mas também com filmes portugueses, longas e curtas metragens, documentários, ficção, grandes clássicos e filmes modernos. Destacam-se ainda alguns dos filmes italianos mais vistos na segunda metade dos anos 70 em Portugal, um país que finalmente era livre de exibir nas salas de cinema vários géneros sem risco de censura.

A festa estende-se por outras zonas do país até ao final do próximo mês, esgotando salas por todo o continente. Seguem-se a esta semana, ainda durante o mês de abril, Aveiro (de 22 a 23) e Setúbal (de 26 a 28). Já no mês de maio a cultura italiana viaja até Coimbra, Funchal e Oeiras (de 2 a 5), Abrantes (de 8 a 15), Sardoal (1 a 29), Almada (de 8 a 29), Porto (de 8 a 12), Figueira da Foz (11 a 13) , Lagos (14 a 17), Évora (de 24 a 26) e Beja (de 28 a 29).

Referências:

[1] – Festival de cinema italiano – site  [Acedido pela última vez a 11/03/2024]

Leave a Reply