III- The Black – Imminence (uma crítica um pouco mais séria, mas não muito, continuo a dizer coisas sem sentido)

Autoria: Ângela Rodrigues (LEFT) 

No dia 12 de abril, os suecos Imminence lançaram o seu 5º álbum, “The Black”, gravado pela banda, após a desfiliação à Arising Empire, produzido por Eddie Berg e Harald Barrett, respetivamente vocalista e guitarrista, e Henrik Udd, que também esteve envolvido na produção dos dois álbuns anteriores.

Para os tontinhos que desconhecem esta banda, aconselho a procurarem “Imminence” no vosso motor de busca preferencial (ou noutro qualquer). Não vos peço isto para que mais pessoas conheçam a banda ou para aumentar a probabilidade de uma futura tour passar por Portugal. Isso também é importante, mas desta vez só vos quero mostrar como as aparências podem iludir, pelo que só quero que vejam os elementos da banda. Irão certamente deparar-se com quatro ou cinco homens; se tomarem alguma atenção, poderão reparar que um deles terá camisa e suspensórios, que também poderá surgir com blazer, e que outro terá um ar mais hippie, como se tivesse saído de um retiro espiritual. 

Tendo em conta factos verídicos, mas também a minha imaginação fértil, a banda, conhecida pelo sua sonoridade metalcore/violincore (não fomos nós a cunhar o termo, já lemos isto algures, não nos lembramos onde, pelo que as referências terão de ficar [1]), surgiu assim: Os pais de Eddie Berg queriam que o filho tivesse a melhor educação possível, tendo-o inscrito em aulas de violino aos quatro anos. Quando cresceu e começou o secundário, os sonhos dos pais queriam levá-lo a ponderar uma carreira na música clássica, falando-lhe da prestigiada Academia de Música de Malmö, mas Berg, adolescente revoltado, queria formar uma banda com o amigo Harald Barrett. Os pais acederam a este pedido, disponibilizando até a sua garagem para os dois ensaiarem, pensando que se tratava de uma dupla de cordas clássica; mal eles sabiam que era uma banda de metal. (Eddie Berg, diz-me, daqui o que é que poderia ser verdade? Esperemos que não seja necessário pagar direitos de autor pela utilização desta expressão, esta redação é subfinanciada).

Passando para aquela parte em que eu finjo que sei o que estou a dizer e uso termos que li algures, após algumas críticas a Heaven in Hiding fruto da comparação de Imminence aos britânicos Architects, os suecos trazem-nos o que pode ser considerado o seu álbum mais completo, com uma sonoridade mais distinta e pesada, em que cada faixa é pensada ao ínfimo detalhe para encaixar com as outras.

Se podia começar uma dissertação de faixa a faixa como fiz anteriormente, podia. Mas se vou fazer isto de um modo mais profissional, para ser mais fiel ao que tento imitar, vou.

Após muitas audições do álbum, podemos dividi-lo em 3 partes: Fim da Vida, Passagem pelo Paraíso e Chegada ao Inferno e Morte Final. 

Inicialmente, com as faixas “Come Hell or High Water” e “Desolation”, é quase possível imaginar uma personagem dividida entre um cenário fatalista, a que parece ser impossível fugir (“We’re sheep to the slaughter/ We don’t get much longer”), e um de desespero esperançoso (“Promise me it’s not the end/ Searching for a light in the dead of the night”).

Com “Heaven Shall Burn”, o som inicial, que se assemelha a um abrir de portas, e a violinada de Berg (que é o equivalente a uma guitarrada, mas com um violino) introduzem o Paraíso, podendo a antítese indiciar que a passagem da personagem por aqui será breve, como parece indicar o tema “Beyond the Pale”, nas passagens “I feel the devil inside/ What if death could set me free”. (Aparte: Sim, isto podia ser só introspetivo, mas preciso de corroborar a minha hipótese. Fim do aparte). 

À medida que progredimos no álbum, o ambiente mais sombrio adensa-se, comprovado tanto pela composição lírica, como pela instrumental, fruto da mestria dos já referidos Berg e Barrett, e dos seus companheiros Alex Arnoldsson, Peter Hanström e Christian Höijer.

Em “Death by a Thousand Cuts”, a nossa personagem imaginada, talvez com recurso ao videoclipe da música, continua o seu caminho cada vez mais difícil e sofrido (“I can’t go on like this”), como se fosse vítima da forma de tortura originada no império chinês. Os últimos versos (por exemplo, “I keep waiting for death to take me”) parecem culminar com a disforia da personagem e o encerrar de uma era.

Na nova era (não estou a falar da Taylor Swift), o trabalho instrumental, a par da agressividade vocal de Berg, introduzem a última parte do álbum, onde talvez possamos compreender o que é o tal “the black” tão realçado ao longo de todas as faixas. A sequência “Come What May” e “Cul-de-Sac” é crucial para levar o ouvinte a compreender o que se segue: uma viagem por uma ausência de vontade, de esperança (“Darkness rising”), em que a personagem que acompanhamos se sente presa (o que pode ser realçado pelo verso “This is a prison” e pelo som de correntes a serem arrastadas) a um beco sem saída: o destino fatídico que parece ter sido finalmente aceite.

Como podem já ter reparado, também nesta parte, os suecos decidiram aplicar os seus conhecimentos das aulas de francês para nomear algumas das músicas, as três que são apenas instrumentais (eles não tinham conhecimentos suficientes de francês para escrever três músicas inteiras).

As últimas cinco músicas constituem muito provavelmente a parte mais bonita de todo o “The Black”. Ao mesmo tempo que chegamos aos portões do inferno (“Staring down into the gates of the hell”), somos assolados pela raiva de alguém que se apercebe que está a ser a pouco e pouco consumido pela escuridão e que decide lutar uma última vez, dando tudo na sua “Call of the Void” (em francês “L’appel du Vide”). Esta última esperança dá lugar a uma conformação, “Darkness consumes my fate/ Death is a constant“, e a raiva é substituída por uma aceitação num refrão agora não gritado, que se arrasta, como se tentasse embalar e confortar o ouvinte e a personagem criada, até sermos totalmente consumidos pelo “the black”.

Os Imminence costumam utilizar a expressão “From Sweden with love”, mas arriscaria a dizer que este álbum é da Suécia com dramatismo, desespero, mágoa, dor e tragédia… Isto não é um álbum, é uma experiência. E a mestria com que isto é feito, por Odin (aqui gostamos de aplicar mitologia nórdica, estão a ver, sempre a ligar tudo, como os Imminence). 

Pois, é isto que acontece quando se confia em homens suecos, com suspensórios e cabelos compridos. 

PS: Uma vez que uma série de bandas achou por bem lançar álbuns em 2024 e não consigo escrever sobre todos, destaco ainda: Avralize – Freaks, Linkin Park – Papercuts (Singles Collection 2000-2023) e Northlane – Mirror’s Edge EP.

Referências:

[1] – As vozes (constantemente consultadas, podem variar consoante o dia da consulta)

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