Mais 107 cientistas homenageadas no 5.º volume do livro “Mulheres na Ciência”

Autoria: Catarina Curado (LMAC)

“Ainda há um longo caminho a percorrer.” Foi com estas palavras que Rosalia Vargas, Presidente da Ciência Viva, encerrou o seu discurso de abertura no lançamento do 5.º volume do livro “Mulheres na Ciência”. O evento teve lugar no Pavilhão do Conhecimento, no passado dia 8 de março, dia Internacional da Mulher, e reuniu dezenas de cientistas portuguesas, homenageadas na obra.

A cerimónia começou com um pequeno discurso da Presidente da Ciência Viva. Rosalia Vargas fez questão de recordar todas as mulheres que integraram a obra mais recente, bem como aquelas que estiveram presentes nos lançamentos anteriores, em 2016, 2019, 2021 e 2023. O 5.º volume do livro “Mulheres na Ciência” reúne mais 107 retratos de investigadoras de diferentes gerações e áreas do conhecimento, destacando a contribuição fundamental das mulheres no campo científico.

 No seu discurso, Rosalia Vargas recordou o momento que a levou a iniciar este projeto. Relata que, há duas décadas, estava a visitar um museu em Boston quando se deparou com um grande poster de uma jovem mulher, com a frase “I am a mathematician” imediatamente abaixo. A Presidente da Ciência Viva revelou que essa imagem a inspirou profundamente, motivando-a a criar um projeto para homenagear as mulheres portuguesas na Ciência. Um dos principais objetivos deste mesmo projeto é aumentar a representação feminina nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), uma vez que, em Portugal, há quase o dobro de homens do que mulheres nestas áreas.

Durante a cerimónia, foi exibido um breve vídeo publicado pelo Financial Times, que traça um panorama histórico da luta das mulheres por direitos fundamentais, como o direito ao voto, e destaca as primeiras mulheres a assumirem cargos de gestão em vários países do mundo. Este vídeo aproveitou ainda a oportunidade para sublinhar as persistentes desigualdades de género no mundo atual, apresentando frases como We may reach Mars before we reach equality.

Para encerrar a sessão de abertura, foram apresentados alguns dados relativos à situação das mulheres cientistas em Portugal, incluindo a diminuição do número de mulheres a ocupar cargos de liderança nos departamentos do Ensino Superior. No entanto, apesar de alguns retrocessos na igualdade de género, Portugal situa-se entre os países europeus líderes no índice de igualdade de género na investigação e na inovação.

A cerimónia prosseguiu com uma conversa entre quatro das 107 cientistas fotografadas para o quinto e mais recente volume do livro. Participaram nesta conversa Ana Isabel Pereira, matemática e vice-coordenadora do Centro de Investigação em Digitalização e Robótica Inteligente, no Instituto Politécnico de Bragança; Paula Gomes, química e investigadora na Universidade do Porto; Teresa Ruão, professora do departamento de Ciências da Comunicação e pró-reitora para a Comunicação Institucional da Universidade do Minho; e Sibila Marques, psicóloga, investigadora e professora no Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE. 

A conversa teve início com questões às cientistas sobre as suas experiências ao serem fotografadas pelos fotógrafos Leonel Castro, Estela Silva e Lara Jacinto. As três falaram sobre como viveram esse momento e sobre a escolha dos locais para as fotografias, procurando imortalizar espaços significativos nos seus percursos académicos e profissionais. Dessa forma, criou-se uma fusão entre a arte e a ciência.

Um dos temas discutidos foi a desigualdade de género no meio académico. As cientistas destacaram que o simples facto de ser notícia quando uma mulher assume um cargo de gestão numa universidade demonstra que ainda há um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade. Algumas entrevistadas refletiram também sobre o impacto da maternidade nas suas carreiras. Ana Isabel Pereira relata que “é evidente no meu percurso académico quando é que eu tive os meus filhos”, defendendo ainda que é essencial garantir oportunidades para que as investigadoras possam recuperar os projetos interrompidos pela maternidade e conciliar a vida profissional e familiar.

Paula Gomes sublinhou as grandes dificuldades que os investigadores portugueses enfrentam, alertando para a falta de estabilidade na carreira científica: “Recrutamos, treinamos e, quando esse investigador já está ótimo para voar e fazer um trabalho excelente, acaba-se a bolsa, acaba-se o contrato, vai-se embora e temos de baralhar tudo e voltar a dar.” A professora da Universidade do Porto acrescenta que a falta de uma estratégia sólida para fortalecer as equipas compromete muito o crescimento de toda a ciência, independentemente do género.

As investigadoras terminaram deixando mensagens inspiradoras para as novas gerações, relembrando que tudo é feito com trabalho, esforço e persistência ao longo do tempo. Encorajaram também a confiança e a resiliência, reforçando a importância de acreditar no próprio valor e lutar pelas nossas paixões, sem permitir que a dúvida se instale.

A cerimónia prosseguiu com a apresentação dos 107 novos retratos do livro “Mulheres na Ciência”, exibidos num curto vídeo, seguindo-se ainda outro momento: a apresentação do projeto BlackBox – Arts & Cognition pela sua fundadora, Carla Fernandes, investigadora no Instituto de Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

A cerimónia terminou com uma fotografia de grupo com todas as mulheres que integraram mais um volume deste projeto.

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