“O Segundo Sexo”

Autoria: Madalena Galrinho, MEIC (IST)

On ne naît pas femme, on le devient

Silêncio – vos garanto – um enorme silêncio de granito que recordo dos jardins geométricos e buxo cortado rente, com estátuas recortadas no céu luminoso, ácido;

O corpo, como lugar preferencial da denúncia da opressão das mulheres, excede-se naquilo que representa (…) todas as formas de opressão escondidas e não vencidas. (…) Hábitos de fatos e fitas a formar-nos formas.

“Preocupação constante mata a espontaneidade, a experiência viva é dominada (…) pregam-na ao solo, encerram-na em si mesma.”

“Beleza masculina é indicação de transcendência, o homem sente e se quer como actividade, não se reconhece na imagem parada. A mulher tem a passividade da imanência, feita para deter o olhar (…) A mulher tem de se tornar uma coisa passiva, uma promessa de submissão.”

Travo tenro trevo fica; um silvo. (…)

Mitos desfloramos e desfloradas fomos (…) E não me venham dizer que quem cala consente, quem cala desmente.

Foste tu a culpada de tudo (…); sou homem e tu és provocante, perversa. (…) Eu sou homem minha puta.

Florescemos na sombra (…) Emparedadas flores…

“Conhece a miséria original do corpo. Destina-se à mentira a que se condena, em que lhe é preciso fingir ser objecto. O olhar não penetra, reflecte.

(…)

Percebe que o homem não vive em conformidade com o que diz, como no aborto e na prostituição. Oprimida sexual e economicamente, submetida à arbitrariedade da polícia e a uma humilhante fiscalização médica é vítima da miséria.”

E morreu, por fazer um aborto com um pé de salsa, (…) para elas aprenderem.

 O sangue espesso do silêncio (…)

 “Sobre elas cai, mascarada de fatalidade do destino, a contradição que a sociedade criou entre a fecundidade exigida do ventre da mulher e o lugar negado para as crianças.”

A mãe tem os cabelos caídos e a corda que a suspende do gancho preso ao tecto parece igualmente feita dos seus cabelos. (…)

Limite de mim própria, senhora mãe. Que mulher vós nunca fostes (…) A que dá aos pais todos os direitos de mordaça?… É como se… me gerásseis de culpa.

“A Mulher é limitada a repetir a vida (…) É apenas isto, para sempre. Abandonada a um presente glacial, descobre o tédio.”

Quanta força centrífuga tem a roda, manas. Meu lugar não escolhido é o centro. (…)

 Eterno feminino.

“A arte como o bem que fica por dizer.”

“Presa de conflitos difíceis, a complexidade enriquece-a. Mal integrada no universo, ela consegue vê-lo (…) Quando condenam um povo à imanência é necessário oferecer-lhe uma miragem para a transcendência.”

Onde todos os rios afluem para um mar a limpar, nós poluídas pelos dias e os ditos, rejeitadas de tantos lugares ou deixadas para trás. (…)

Quebremos até ao fundo toda a água onde nos afundamos.

Pelo nada a observar a neblina abrasada que o calor forma à volta do mar. (…)

 O rever das casas e das causas. O revólver das coisas que dormiam.

“Bem sei que a revolta da mulher é a que leva à convulsão em todos os extractos sociais; nada fica de pé, nem relações de classe, nem de grupo, nem individuais, toda a repressão terá de ser desenraizada, e a primeira repressão, aquela em que veio assentar toda a história do género humano, criando o modelo e os mitos das outras repressões, é a do homem e a da mulher.”

Citações dos livros “O Segundo sexo” de Simone de Beauvoir (citações em itálico) e “Novas Cartas Portuguesas” de Maria Isabel Berreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (citações entre aspas)

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