Autoria: Pedro Ruas (MEC)
No passado dia 27 de janeiro, o Grupo de Cantares Tradicionais do Instituto Superior Técnico (GCTIST) apresentou, no anfiteatro Abreu Faro, o tradicional evento “Cantares de Janeiras”. O Diferencial aproveitou este contexto para conhecer um pouco melhor o núcleo, a sua composição e como desenvolvem a sua atividade.
As janeiras já são um evento tradicional do GCTIST que se realiza todos os anos, desde a criação do núcleo em fevereiro de 2001. No anfiteatro Abreu Faro, o grupo atuou algumas das tradicionais canções alusivas à época dos reis, num espetáculo que durou, sensivelmente, uma hora. A acompanhar o coro das vozes dos 14 elementos presentes, ouviram-se também diversos instrumentos, nomeadamente guitarra acústica, bandolim, cavaquinhos, ferrinhos, acordeão e bombo. Abraçando as tradições de Norte a Sul do país, o GCTIST contou com a presença de vários funcionários do IST, do infantário do IST e de membros do Conselho de Gestão, entre os quais o próprio presidente Rogério Colaço.
O GCTIST, constituído por pessoal docente, não docente e alunos, tem como missão “preservar e salvaguardar a Música Tradicional Portuguesa”, procurando promover e divulgar os elementos inerentes a esta, recorrendo maioritariamente aos habituais cantares. Em conversa com Ana Paula Falcão, professora auxiliar no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Ambiente e do Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos, e um dos membros deste núcleo, percebeu-se o entusiasmo que os membros têm em prol do grupo: alguns dos elementos, ainda que reformados, continuam a marcar presença assídua, tanto nos ensaios – uma vez por semana, no piso 4 do pavilhão de Minas – como na própria atuação do dia 27.
A história do GCTIST, no entanto, não tem associada logo à partida o termo associação. Fundado em fevereiro de 2001, começou por ser um grupo “informal” de pessoal docente e não docente, que se juntava esporadicamente para celebrar as mais variadas tradições, numa tentativa de não apenas difundir a cultura portuguesa dos vários cantos do país mas também de continuar a estabelecer uma ligação próxima por parte dos membros integrantes, que estariam longe das suas terras de origem. Só passados 16 anos, em 2017, é que este grupo garantiu o estatuto associativo, nascendo assim o GCTIST enquanto associação.
Ao todo, são 18 membros que constituem este grupo, 4 dos quais são alunos. Santiago Bilbao, aluno de 5º ano do Mestrado Bolonha em Engenharia Geológica e de Minas, ingressou no grupo em 2021, incentivado por outros colegas que já tinham conhecimento da atividade do núcleo, e pela própria docente Ana Paula Falcão, com quem chegou a ter aulas. Tentando dar continuidade ao seu associativismo, que, segundo ele, sempre o acompanhou no seu percurso académico, é um dos membros estudantes com maior longevidade no GCTIST, e, apesar de não frequentar, aos dias de hoje, tantos ensaios e performances quanto gostaria, mantém uma forte ligação com todos os membros do grupo: “Acima de tudo, é um conjunto de pessoas muito amáveis. São hospitaleiros, fazem-te sentir bem-vindo assim que entras e estão sempre dispostos a aprender, quer sejas um membro novo ou antigo. É uma espécie de pequena família e isso sempre foi algo que eu valorizei neste núcleo. Não há propriamente esta noção de hierarquia, que se calhar está presente em muitos grupos associativos pelo Técnico fora”, revela Santiago. Com o papel de guitarra clássica, Santiago chegou a tocar em vários eventos, nomeadamente janeiras, assim como uma performance para a Fundação Inatel.
Quando questionado acerca do possível apelo que este núcleo pode ter, em detrimento de outros mais “populares” ou mais divulgados, Santiago providenciou uma resposta bastante clara, que vai em linha com os objetivos do grupo aquando da sua formação, acima mencionados: “No fundo, qualquer pessoa que se interesse por música tradicional portuguesa, extra fado principalmente, encontra no GCTIST uma forma de se conectar com este meio. Para além disso, como aliás se pôde ver no espetáculo das janeiras, o GCTIST vai ao encontro de cantares e canções presentes em todo o país, permitindo assim a muitas pessoas continuar a preservar as tradições que trouxeram com elas quando vieram para o Técnico”. Menciona ainda que, ao contrário de muitos núcleos, o GCTIST sempre foi uma atividade facilmente conciliada com os estudos, nunca tendo sentido a pressão de comparecer aos ensaios quando não lhe fosse conveniente.
Ainda sobre a atividade do GCTIST, Ana Paula Falcão revela-nos que, para além do evento anual das janeiras, nas atividades mais recentes conta-se a organização da celebração dos 50 anos do 25 de abril, juntamente com a participação das três tunas do IST, e a participação na gravação do single “Vai chatear o Camões” da dupla Vossemecê, composto pela artista Matilde Almeida na voz e por Martim Broa na guitarra.

A atividade do núcleo, em si, não é propriamente regular; no entanto, Ana Paula revela-nos que, a pedido de diversas freguesias, municípios e organismos de Ação Social, pelo menos uma vez por mês, o grupo atua em várias localidades, um pouco por todo o país, numa ação de “pro-bono“, onde procuram responder às mais diversas comunidades, ao mesmo tempo que espalham um pouco do que o Técnico tem para oferecer. Com várias solicitações dentro e fora da universidade, vão respondendo aos pedidos exteriores à comunidade académica do Técnico, pedidos estes que têm vindo a ser cada vez mais frequentes, segundo nos revela a professora (foram convidados a atuar pelo Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis, em 2024, por exemplo).
No que diz respeito aos apoios por parte do Técnico, Ana Paula afirma que, cada vez mais, o Técnico tem vindo a apoiar este núcleo, seja em termos de exposição ou em custos associados ao transporte. O GCTIST tem, no entanto, uma ambição maior, que ficou clara durante o espetáculo: Ana Paula Falcão, nos intervalos entre canções, ia interagindo com o público presente, explicando um pouco o funcionamento do grupo e dando algum contexto à escolha das canções apresentadas. Já perto do fim, desafiou o presidente e os membros do Conselho de Gestão a incentivarem e a estimularem a atividade do núcleo, com o desejo de gravar um novo álbum de canções. Não querendo depender apenas dos apoios que o Técnico consegue oferecer, a docente revela que, ainda este ano, vão ser feitas tentativas mais “sérias” para a obtenção de patrocínios, principalmente vocacionados para fora do campus.
O próprio presidente Rogério Colaço foi convidado a intervir, também na parte final do espetáculo. Notavelmente entusiasmado pela performance, o presidente do IST partilhou algumas palavras de apreço ao grupo, que considera ser indispensável para a cultura académica, saudando a tradição que se vai mantendo viva durante a atividade do mesmo.
Não havendo tempo para mais, deu-se por encerrada a atuação do GCTIST. Na agenda, como referido, não existem eventos marcados nos próximos tempos. No entanto, “todos são bem-vindos” à sala de ensaios do grupo, para experienciar, em primeira mão, alguns dos costumes nacionais que este núcleo, com certeza, preservará ao longo da sua existência.