Um mar de gente, de tradição e de esforço: Entrevista à TFIST

Autoria: Ana d’Oliveira (Antropologia – ISCTE) e Pedro Ruas (MEC)

A Tuna Feminina do Instituto Superior Técnico (TFIST) é uma das três principais tunas universitárias do IST, com mais de 30 anos de história. Sendo o mês de março o palco do Dia Internacional da Mulher e do Dia Nacional do Estudante, o Diferencial procurou saber mais acerca da sua história, funcionamento e o que torna as tunantes do IST a TFIST. 

Tudo começou, segundo Francisca Ordaz, atual presidente da TFIST, em 1994: um grupo de amigas, na altura estudantes no IST, frequentaram um festival de tunas universitárias, onde se aperceberam da existência da TunaMaria (Tuna Feminina da NOVA FCT), que se estreou justamente neste evento. Após este reparo, não perderam tempo. Uns dias depois apresentaram a ideia na Associação de Estudantes e, uns meses mais tarde, viria a nascer a TFIST. A fundação do grupo nasceu ali, no entanto, a génese e a “identidade” desta tuna começa a ser delineada em 1998, quando realizaram o seu primeiro festival, com temáticas direcionadas ao mar e à vida marítima, enquadrado no evento da Expo 98. Esta identidade, imortalizada no símbolo da TFIST, acabou por atravessar as várias gerações da tuna, até aos dias de hoje, ainda que também atuem alguns temas portugueses mais conhecidos, fora desta temática.

As fundadoras da TFIST, segundo a presidente, são ainda bastante ativas na atividade do núcleo, relembrando o espetáculo comemorativo dos 30 anos da TFIST, realizado no ano passado, onde reuniram “mais de 100 pessoas”, entre várias gerações: “pessoas que inclusive vieram de fora do país para marcar presença! Foi uma emoção muito marcante, com muita gente a ajudar e a garantir que o espetáculo corria da melhor maneira possível”. Para além de todo o trabalho feito para ajudar em espetáculos ou atuações pontuais, Francisca refere também que estes momentos de reunião entre as várias gerações da TFIST servem para recordar histórias e tradições antigas, assim como alguns dos valores da tuna, transversais ao longo do tempo. 

No que diz respeito às diferenças entre a TFIST e a TUIST (Tuna Universitária do IST),  Francisca aponta que, em termos organizacionais, ambas são semelhantes, com os respectivos cargos hierárquicos: “protos”, “caloiras” e “veteranas”, definidos de forma similar. Contudo, a presidente sublinha a capacidade metódica que caracteriza a tuna feminina: “vamos sempre ter a nossa maneira de fazer as coisas, e nesse aspecto somos super organizadas. […] As coisas têm de estar bem definidas, não somos muito de improviso, e isso faz muito parte da nossa identidade, também como instituição. [Isso] traduz-se, inerentemente, na estrutura organizacional”. Acima de tudo, Francisca vê na TUIST um espírito de cooperação significativo, fruto dos inúmeros convívios nos eventos de ambas as tunas que já tiveram ao longo do tempo.

Ao ser questionada acerca de eventuais diferenças de tratamento em relação à TUIST, Francisca afirma que compreende o facto da TUIST ter uma maior exposição “pelo simples facto de ter mais público, na maioria dos casos”. Reforça que “não tem a ver com a TUIST em específico, mas mais com o mundo das tunas em Portugal. […] Se tens mais público, tens mais bilhetes vendidos e mais mediatismo, o que acaba por trazer mais visibilidade para a instituição”, relembrando que se trata de uma experiência partilhada pelas tunas femininas em Portugal.  

Mais focada na TFIST e na atratividade que esta pode ter em relação às restantes tunas, Francisca vê no grupo um “porto seguro”, bastante unido e coeso. Ao ser questionada, mais concretamente, acerca da sua experiência pessoal, comentou a sua primeira interação com a TFIST e porque decidiu entrar: “Na altura do COVID decidi mudar de campus e, quando entrei na Alameda, no terceiro ano, estava sempre sozinha […]. Depois, no segundo semestre, fiz grupo com uma rapariga que estava na TFIST e, num dia, acabei por estar em convívio com outro membro da tuna, estavam a tocar uma música e aí eu pensei ‘Ok, quero’. E fui. Fiquei rendida.”

Francisca Ordaz numa atuação. Fotografia: As FANS

Apesar do testemunho ser de há cerca de três anos, Francisca Ordaz, aluna de 5º ano do Mestrado em Engenharia Informática e de Computadores, é já a presidente da TFIST, ainda que há apenas um mês. Toca guitarra clássica nas atuações e lidera um grupo de cerca de 40 membros ativos, fora os restantes que ajudam em eventos excecionais. Em relação à sua visão da TFIST, Francisca vê, acima de tudo, uma ambição de alcançar quaisquer objetivos a que se proponham. Relembra um episódio de uma atuação que ocorreu em França, onde alguns membros fizeram o sacrifício de ir de carrinha, para que todos os instrumentos chegassem em condições e atempadamente. Para além desta perseverança, a presidente realça a entreajuda presente no núcleo, que chega a acolher membros que não estejam propriamente ligados ao meio musical e incentiva-os ativamente a pegar num instrumento e começar a tocar.

Quanto aos planos futuros, nomeadamente acerca da questão de um novo álbum, Francisca revela que “não tem sido muito fácil, a nível de recursos, conseguir efetivamente gravar um álbum. Ainda o queremos fazer, porque já temos mais músicas que gostaríamos que ficassem gravadas”. Até porque, segundo revela a presidente, os esforços parecem estar direcionados para a nova edição do festival da TFIST, Expedição, que se  irá realizar no 1º semestre de 2025/2026, em local a anunciar e afirma que “vai ser uma boa festa para a malta vir!”.

Assim, quando faltar tradição, que não falte a TFIST, uma família em que, entre ensaios e atuações, cada membro leva consigo não apenas melodias, mas também histórias e laços que perduram muito além dos tempos de estudante. 

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