Hoje em dia, quando ouvimos a palavra ética, pensamos num sistema de valores e de juízos morais que regem, ou deviam reger, as nossas ações individuais ou em sociedade. No entanto, nem sempre assim foi.
A palavra Ética vem do grego êthos, que significa carácter ou natureza moral. Na Grécia Antiga, esta disciplina filosófica surgiu para responder à questão “Como é que o ser humano deve viver?”. Os filósofos procuravam o caminho para viver uma vida feliz, virtuosa e completa. Segundo Sócrates, “uma vida não examinada não vale a pena viver”. De acordo com Aristóteles, o caminho para uma vida feliz e, consequentemente o foco da ética, deve ser viver os prazeres da nossa alma de acordo com a razão. Epicurus admite que o prazer é necessário para se viver uma vida abençoada. Podíamos continuar, podíamos referir aqui todas as correntes defendidas pelos filósofos gregos ou pelos seus sucessores romanos, no entanto o ponto principal já é claro. O foco da Ética no passado era o indivíduo.
Atualmente, a Ética rege grandes decisões da sociedade. As grandes questões éticas são debatidas por comissões de especialistas que nos ajudam a responder às mesmas. Será a eutanásia moralmente condenável? Em casos de gravidezes indesejáveis, a escolha será realmente da mulher? Os animais devem ter direitos? E as máquinas? Muitos de nós podem ter uma resposta evidente para estas questões. Ao mesmo tempo, a maioria de nós discorda nestas questões básicas. As posições que defendemos dependem, obviamente, dos nossos valores individuais, o que nos leva a outra questão: Existirão valores universais? Crenças que são válidas em qualquer lugar, aceites por qualquer cultura? Poderemos admitir que existe um absolutismo moral? Não consigo responder a esta questão, mas talvez o outro lado da moeda seja mais assustador. Será o nosso mundo pautado por um relativismo tal que aquilo que é estritamente proibido numa parte do mundo possa ser aceite noutra? A igualdade de género pertencerá apenas ao ocidente e não aos países árabes? A encarceração de minorias deverá ser condenada quando nos referimos à China, mas consentida quando é executada na fronteira sul dos Estados Unidos da América? Para que servirão, então, as comissões de Ética se na nossa sociedade reinar o relativismo?
Por outro lado, a racionalização destas questões não deve ficar confinada a salas de aristocratas e académicos, cada um de nós deve pensar e considerar cada um destes assuntos e é por isso que vos trazemos esta edição, que além de avaliar assuntos que dizem respeito à sociedade, traz de volta a velha noção grega de como cada um de nós deve viver a nossa vida ou pelo menos de como devemos examiná-la. Convidamo-vos a refletir connosco sobre estes temas.
Carolina Bento