Autoria: Francisco Ferreira (MEIC-T) e Pedro Sousa Silva (LEFT)
Nos dias 31 de março e 1 de abril, ocorreram as eleições para o Conselho Geral e o Senado da UL, que deram a vitória à Lista M dos representantes estudantis, assegurando 11/18 mandatos no Senado, e 4/6 mandatos no CG. Para saber mais sobre as propostas de cada lista, o Diferencial entrevistou os mandatários das três listas de alunos candidatas nestas eleições.
Os candidatos
Candidataram-se as listas D, com o slogan “Democratizar a Universidade” e cuja mandatária é Matilde Lima, a lista M, de slogan “Motiva a Mudança” e em que o mandatário é Diogo Ferreira Leite e a lista V, de slogan “Um Voto na Valorização da Universidade”, com Pedro Monteiro, dirigente da Federação Académica de Lisboa, enquanto mandatário.
A mandatária da lista D, que referiu ter pedido a opinião dos outros membros da sua lista para responder às perguntas, não respondeu a algumas das questões colocadas.
O Senado da Universidade de Lisboa é um órgão apenas consultivo. Mesmo o Conselho Geral, apesar de eleger o Reitor, detém um papel deliberativo relativamente limitado. Assim sendo, porque é que é importante os alunos votarem nestas eleições?
Os mandatários concordam na importância da participação estudantil nestas eleições.
Para Diogo Ferreira Leite, da lista M, o Senado é a “assembleia magna da Universidade de Lisboa” e “é fundamental para os alunos terem uma voz ativa” perto dos órgãos de decisão. Refere ainda que, apesar deste ter oficialmente um papel estatutariamente consultivo, “a equipa reitoral compromete-se a seguir as deliberações tomadas no Senado”, pelo que as decisões que são tomadas “acabam por ser vinculativas”.
Do mesmo modo, Pedro Monteiro, da lista V, reforça a necessidade da participação dos estudantes nestas eleições como forma de fazer chegar a sua voz aos espaços de decisão: “Se os estudantes não participam, não terão, naturalmente, oportunidade de garantir que as suas preocupações são ouvidas” e de garantir que a universidade está a tomar “medidas concretas”.
Matilde Lima, da lista D, também considera importante os alunos votarem nestas eleições, pois “são nestes órgãos que existe alguma representação estudantil, embora pouca, na nossa opinião, e influência direta nas linhas de orientação da UL”.
Os conjuntos de medidas apresentados pelas 3 listas de alunos candidatas a estas eleições são muito semelhantes e partilham várias medidas iguais. O que é que difere e destaca a vossa lista das restantes?
Os candidatos reconhecem a semelhança entre as propostas das 3 listas, o que, segundo Pedro Monteiro, “reflete uma série de problemas transversais”. O mandatário da lista M considera que aquilo que os destaca é “a capacidade de resolver esses problemas”. Refere que a sua lista se destaca por conhecer os desafios dos estudantes e saber como agir para os resolver.
Já Diogo Ferreira Leite reforça as diferenças dos perfis dos seus candidatos, tanto ao nível das diferentes ideologias, mas também dos percursos distintos e a pluralidade na sua origem. “Somos a única lista que tem representação dos estudantes de todas as faculdades da Universidade de Lisboa”, refere. O representante da lista M destaca ainda o facto da sua lista possuir membros que nunca assumiram este tipo de cargos: “[É muito importante] não limitar a representação estudantil aos mesmos de sempre”.
Não obtivemos resposta a esta pergunta por parte da lista D.
Atualmente, estudar na ULisboa é bastante caro. Desde as rendas mais altas do país, às propinas elevadas nos mestrados e passando pelo aumento do preço da refeição social, os encargos financeiros para os estudantes são muito elevados. O que propõe a vossa lista para ajudar os estudantes que se deparam com estas dificuldades?[A]
Novamente, as listas concordam sobre o elevado custo de vida em Lisboa, e no impacto que este tem na vida dos estudantes. Todos propõem medidas como o congelamento das propinas e a diminuição do custo da refeição social.
Diogo Ferreira Leite promete uma postura intransigente perante o aumento do custo de vida: “Seremos contra qualquer aumento no que diz respeito às refeições sociais ou ao aumento das propinas”. Além disso, o representante da lista M propõe a criação de um fundo de emergência social destinado aos estudantes em situações mais vulneráveis e uma revisão geral dos apoios sociais disponíveis.
Apesar de Pedro Monteiro, da lista V, referir que muitas das medidas que devem ser aplicadas para resolver estes problemas devem ser definidas pelo poder político, defende que a universidade tem um papel fundamental. “É particularmente preocupante porque as rendas em Lisboa rondam os 485 euros, portanto mais de metade do salário mínimo nacional, o que se torna muitas vezes um encargo financeiro insuportável para os estudantes.” – refere o mandatário da lista V. Assim a lista defende o congelamento das propinas, propõe a implementação de tetos no valor das propinas dos 2.º e 3.º ciclos. Defende ainda a atribuição mais rápida de bolsas de estudo de ação social e o aumento do número de camas em residências públicas e uma monitorização das condições de habitabilidade destas.
Matilde Lima, mandatária da lista D, promete defender um “Ensino Superior Gratuito, Público, Democrático e de Qualidade”, através do fim imediato das propinas, taxas e emolumentos, e da expansão do número de residências e cantinas universitárias.
Uma parte considerável das infraestruturas da ULisboa é antiga e/ou encontra-se em más condições. A isto junta-se a falta de espaços de estudo, de bibliotecas, de refeitórios e de outros espaços necessários aos estudantes. O que pensa a vossa lista sobre isso, e que medidas propõe?[B] [C]
Os representantes concordam com o estado de degradação de algumas infraestruturas da universidade. O representante da lista V propõe uma “inspeção periódica e contínua das bibliotecas e espaços de estudo”, bem como fazer um levantamento das fragilidades estruturais de todos os edifícios da ULisboa; ainda sobre os espaços de estudo, defende a sua amplificação e dos seus horários, juntamente com uma aplicação onde é possível verificar a disponibilidade em cada espaço de estudo. Já o mandatário da lista M reforça a necessidade de “verbas específicas para a requalificação das infraestruturas” e do reforço no investimento para a criação de mais espaços de estudo e de convívio.
A Lista D, por sua vez, defende que “o Estado deve assumir as suas responsabilidades e funções sociais, aumentando o seu financiamento para o Ensino Superior”.
Apesar da diversidade de métodos de pedagogia e avaliação entre as escolas da ULisboa, são comuns as queixas dos estudantes relativamente à forma como os conteúdos são lecionados e avaliados. Recentemente, algumas mudanças nestes regimentos têm recebido bastante oposição dos estudantes (como o fim das frequências na FDUL ou o MEPP no IST). Qual a visão da vossa lista sobre estes temas?
Diogo Ferreira Leite pede uma “reforma geral no que diz respeito à capacitação pedagógica do seu corpo docente”, através do aumento do investimento nos programas de formação pedagógica, não só em momentos como as Jornadas Pedagógicas, mas de forma “constante ao longo do ano letivo”. Já Pedro Monteiro reforça que a opinião dos estudantes deve ser a principal prioridade neste assunto, “São os estudantes que lidam com estes métodos diariamente, é portanto fundamental que sejam ouvidos”. Para a Lista V, é necessário garantir que a opinião dos estudantes não seja desprezada.
Também Matilde Lima, da lista D, considera que é essencial envolver mais os estudantes na tomada de decisões nas suas faculdades. “É necessário um aumento da representatividade estudantil para que nas alturas de decisão de mudanças nos regimentos de avaliação, por exemplo, a opinião dos estudantes seja ouvida.”
A ULisboa é composta por 18 escolas, e cerca de 50 mil estudantes. Por vezes, os estudantes sentem pouca ligação à Universidade, e identificam-se apenas com as suas faculdades ou institutos. Esta situação é-vos importante? O que propõem para aumentar a coesão entre as várias escolas e a ligação dos alunos à Universidade?
Todos os mandatários consideraram que a ligação dos alunos à Universidade de Lisboa é um assunto fundamental das suas candidaturas.
Diogo Ferreira Leite reconhece que “na Universidade de Lisboa temos esta realidade de termos dois grandes campi em duas zonas distintas da cidade e um conjunto de outras unidades orgânicas espalhadas pela cidade de Lisboa e pelo município de Oeiras”, sugerindo a dinamização de iniciativas que promovam a ligação entre faculdades, bem como expandir a possibilidade de qualquer aluno realizar cadeiras em várias escola da ULisboa.
Pedro Monteiro refere que, apesar de “cada uma das faculdades e dos institutos deve ter uma identidade própria e deve preservar a sua autonomia”, é fundamental dinamizar iniciativas entre faculdades diferentes, de modo a aumentar a ligação entre alunos de diferentes unidades orgânicas. Sugere também o reforço da integração académica dos estudantes não só nas suas faculdades, mas também na ULisboa como um todo.
Nos últimos anos, a razão entre os salários dos jovens com ensino superior e o resto da população tem diminuído. Parece que uma licenciatura ou um mestrado é cada vez menos atrativo no mercado de trabalho e cada vez um pior investimento. Que propõe a vossa lista fazer para aumentar a empregabilidade dos diplomados da ULisboa, melhorar a valorização dos seus cursos e garantir que o investimento numa formação superior continue a ser uma aposta vantajosa para os estudantes?[D]
Segundo Pedro Monteiro, “este tema da empregabilidade é especialmente preocupante, para a Universidade [de Lisboa] e para o país”. O mandatário da lista V propõe a criação de gabinetes de apoio ao desenvolvimento de carreira, “ajustados à necessidade dos estudantes de cada escola”, que atualmente apenas existem na Faculdade de Direito e no ISEG, em todas as unidades orgânicas da ULisboa. Propõe também a criação de um portal unificado com ofertas de estágios e de emprego especialmente direcionadas para a comunidade estudantil da ULisboa, bem como a realização de inquéritos às empresas onde estagiam os estudantes para, através das respostas, ser possível “avaliar o nível de satisfação das próprias empresas relativamente às competências que a Universidade de Lisboa transmite aos seus estudantes”.
Já Diogo Ferreira Leite começa por referir que a lista M acredita que a função do Ensino Superior é fazer os estudantes “subir na vida”, pelo que reforça a importância de apostar na interligação entre as empresas e os estudantes que estão a acabar o curso, bem como a implementação de protocolos com empresas e entidades empregadoras para facilitar a transição entre o Ensino Superior e o mercado de trabalho. Propõem também a criação de gabinetes de apoio à empregabilidade em todas as unidades orgânicas.
Comparando com outras universidades no estrangeiro, a ULisboa continua a ser pouco competitiva. Na vossa ótica, qual é a causa desta situação, e o que deve ser feito para tornar aproximar a ULisboa dos seus pares no resto do mundo?[E]
“A Universidade de Lisboa tem feito um caminho de se ir tornando uma referência europeia no conhecimento” – começa por reconhecer o mandatário da lista M. Contudo, admite que ainda existe muito por fazer e que o caminho para tornar a ULisboa mais competitiva internacionalmente passa essencialmente pela capacitação pedagógica do corpo docente, garantindo que os métodos de ensino estão ao nível dos pares na Europa e no resto do Mundo, e pela interligação com o mercado de trabalho.
Já o representante da lista V diz que para que a ULisboa se aproxime mais dos seus pares internacionais é necessário agir em várias dimensões: “seja na dimensão da ação social, seja na dimensão do alojamento estudantil e na construção de residências, seja na dimensão das infraestruturas, com a ampliação da rede de bibliotecas, da rede de espaços de estudo, seja na melhoria da qualidade de ensino e na inovação pedagógica […]”. Refere que é também fundamental reforçar a qualidade da investigação dentro da universidade e que o papel do estudante deve ser sempre central. Contudo, defende que tornar a universidade mais competitiva no panorama internacional só faz sentido se beneficiar “o bem estar dos estudantes”.
É frequente as listas apresentarem medidas muito ambiciosas, mas que depois acabam por nunca se concretizar. Mais ainda, é comum as listas eleitas “desaparecerem” e perderem contacto com os alunos após as eleições. Como pretendem fazer seguir em frente as vossas propostas e como podem garantir manter o contacto com os alunos após as eleições?
Diogo Ferreira Leite começa por referir que, no mandato anterior, a lista a que pertencia nunca faltou a nenhuma reunião do Senado ou do Conselho Geral, “intervimos em todas as reuniões e tivemos sempre posições favoráveis aos interesses dos estudantes”. Contudo, reconhece que a comunidade estudantil desconhece muito do trabalho que se faz nestes órgãos, pelo que se compromete a criar meios de comunicação ou da lista, ou em conjunto com os representantes de outras listas, de modo a que os estudantes consigam saber quais os temas discutidos e quais os posicionamentos dos estudantes. Sublinha mais uma vez que a lista será sempre contra o aumento das propinas de qualquer ciclo de estudos, tanto para estudantes nacionais como internacionais, mas que irão ter outras prioridades como “garantir que até ao final do nosso mandato cada unidade orgânica da Universidade de Lisboa tem um gabinete de apoio psicológico em funcionamento, abrir o processo de eleição de reitor à comunidade estudantil […]”.
Já Pedro Monteiro refere que a sua lista apresenta propostas ambiciosas porque “os problemas da comunidade estudantil são, no mínimo, desafiantes e problemas desafiantes exigem propostas ambiciosas”, mas que como o mundo académico é um meio dinâmico, as propostas da sua lista podem necessitar de ser alteradas, e por isso, manter o contacto com a comunidade estudantil é fundamental. Neste sentido, o mandatário da lista V reforça a capacidade da sua lista de ouvir os estudantes e da sua experiência na representação da comunidade estudantil: “esta capacidade é algo que os elementos da lista V têm já treinado ao longo do tempo […]”.
As eleições
De acordo com os resultados provisórios publicados no site da Universidade de Lisboa, a lista M obteve 11 mandatos, a lista V obteve 6 e a lista D um único mandato no Senado. Já no CG, a lista M conquistou 4 mandatos, com a lista V a conseguir 2 e a lista D a ficar de fora deste órgão.
Dos 488 votos para o Senado registados no campus da Alameda, 258 foram para a lista M, 156 para a lista V e 51 para a lista D, com ainda 19 votos em branco e 4 nulos. Para o CG registaram-se 487 votos, dos quais 253 foram para a lista M, 157 para a lista V e 55 para a lista D, sendo os números de votos brancos e nulos iguais aos registados na eleição para o Senado.
Já no campus do Taguspark, houve 66 votos validamente expressos para o Senado: 32 para a lista M, 22 para a lista V e 12 para a lista D (houve também 6 votos em branco e 7 nulos). Relativamente ao CGl, a lista M conquistou 33 votos, a lista V obteve 22 votos e à lista D couberam 13 votos. Comparativamente ao Senado, este órgão teve menos um voto em branco e menos um nulo.
No panorama geral da universidade, a lista M obteve 2791 votos para o Senado e 2803 para o CG. Já a lista V ficou com 1776 votos para o Senado e 1756 para o CG. Em último lugar ficou a lista D, com 328 votos para o Senado e 321 para o CG.
No caso das eleições dos Professores e Investigadores, as listas para o Senado são únicas para cada faculdade, ao contrário dos estudantes que têm listas gerais para a Universidade. Importa também destacar que, enquanto todas as outras faculdades contavam com apenas uma lista candidata, no IST apresentaram-se 3 a votos. No IST, a vencedora foi a lista T, que conquistou 4 dos 8 mandatos possíveis do Senado, ficando as outras duas listas (M e P) com 2 mandatos cada uma. A abstenção foi de 49% no Instituto Superior Técnico. .
Já para o CG, em que as listas são comuns a toda a Universidade, a Lista A foi a vencedora com 11 mandatos, tendo a lista U ficado com os restantes 7. No IST, a lista A teve 181 votos e a lista U teve 135 votos. A abstenção geral foi de 66,2%.
Por fim, pela lista U dos representantes dos trabalhadores não-docentes (única candidata no IST), foi eleito o funcionário Norberto Bravo para o Senado. A abstenção foi de 63,2%. Para o mandato no CG, foi eleita pela lista U (comum a toda a Universidade de Lisboa, distinta da lista candidata ao Senado) a funcionária Ana Cristina Murteira. A abstenção geral foi de 45,4%.
Referências:
[A]- Rendas descem em Lisboa mas continuam entre as mais caras da Europa
[B]- Defeitos na tubagem levam a queda de água no piso -2 da Torre Sul
[C]- Alagamentos na Residência Manuel da Maia
[D]- Diferença Salarial entre jovens com Ensino Superior e Secundário cai para metade