O estado atual do desporto académico – Entrevista a Ana Augusto

Autoria: Francisco Ferreira (LEIC-T)

O desporto académico continua a ser um mundo pouco conhecido para além dos atletas que o integram, sendo para o resto da comunidade estudantil evidenciado apenas pelos campos e pavilhões. Para conhecermos um pouco mais deste assunto, o Diferencial sentou-se com Ana Augusto, jogadora de ténis pela AEIST que recentemente foi a Granada participar no Campeonato Universitário Europeu.

Aluna do 2º ano da Licenciatura em Engenharia Biológica, a eborense de 19 anos sempre gostou de praticar desporto, tendo sido uma grande parte da sua vida. Entre natação, capoeira e voleibol, acabou por se fixar no ténis, modalidade que já pratica desde os seus 5 anos.

F: Como é que ouviste falar da equipa de ténis da AEIST?

Ana: Quando entrei no IST, tentei logo informar-me dos clubes que existiam. Acabei por encontrar a equipa de ténis pelo Instagram da AEIST. Quando saiu o anúncio da data das captações, anotei e fui. Sabia que era algo que queria fazer.

F: Existe um campo de ténis para treinos no IST, mas o desporto tem vários tipos de piso. Como é feita a preparação para estas variantes?

Ana: Existem 3 tipos principais de pisos: terra batida, relva e rápido. Este último é o que existe no IST, mas tem uma desvantagem, que é a bola deslizar demasiado. Para treinar, podemos usar tanto o campo de ténis como o de futsal que fica ao lado. Mas cada um deles tem os seus problemas: enquanto o de ténis tem pouco espaço lateral, que nos leva a não arriscar bolas mais cruzadas, o campo de futsal tem algumas linhas apagadas muito escorregadias que fazem tanto atletas com bolas deslizarem. Em suma, não é adequado à prática de ténis. Por outro lado, uma vantagem desses campos é que não temos de pagar para os usar, são nossos para treinar 2 vezes por semana durante 2 horas cada.

Em relação ao equipamento, o calçado e a raquete ficam a cargo do atleta. Mas também é melhor dessa forma: “Desde que estejam dentro do regulamento, podemos escolher o que levamos, o que é bom pois já estamos habituados e podemos treinar com o equipamento que satisfaça as nossas exigências pessoais.” A AE fornece o restante, entre t-shirts, quispos, calças e as próprias bolas usadas nos treinos.

Em termos de eventos, o mais importante é o campeonato anual organizado pela European University Sports Association, que teve lugar em Granada no mês de Julho. A Ana explicou-nos como funciona todo o processo de qualificação:

Ana: “O processo começa pelo Campeonato Nacional Universitário (CNU) de 2022, em que se qualifica diretamente o primeiro lugar. Depois, às restantes, é aberta a possibilidade de se candidatarem. Neste ano, o 1º lugar foi para a Universidade do Porto.Como a UMinho, que ficou em 2º lugar, não quis, a AEIST como restante membro do pódio agarrou a oportunidade e teve sucesso.“

F: E em relação ao público no CNU? Nota-se interesse da comunidade geral?

Ana: Infelizmente, não. Quem estava a assistir aos nossos jogos eram maioritariamente as delegações e o staff do recinto, entre donos de cafés das redondezas e pessoas que trabalham mesmo nos courts.

F: Vamos então passar para Granada, quanto tempo de preparação é necessário para um torneio desta dimensão?

Ana: Nós treinamos todo o ano, mas claro que intensificamos quando a data do evento se aproxima. Houve um problema: como a competição nacional tinha sido adiada para março, o resultado do processo de candidatura saiu já em cima do torneio europeu, reduzindo deste modo o tempo de preparação e trazendo algumas complicações em relação à viagem. Acabámos por ter de a fazer a viagem no carro pessoal do nosso treinador.

F: E os custos? São suportados pelos atletas ou pela organização?

Ana: A AE cobre todos os custos de alojamento, refeições e gasóleo. Também nos foi oferecida a possibilidade de bilhetes de avião para Granada, mas era impraticável. Ficámos com as outras delegações numa residência universitária e também era lá que comíamos. O ambiente era excelente.

F: “E o complexo desportivo? Equivalente ao do IST?

Ana: “Nada a ver. Em Granada (e em outras universidades europeias), o desporto universitário é levado muito a sério. Existiam múltiplos courts e o nível das nossas adversárias também era elevadíssimo. Atrevo-me a dizer que muitas delas estariam agora no circuito WTA, se não tivessem sido afetadas por lesões graves ao crescer. É uma maravilha ver algumas delas jogar.”

Apesar de a qualificação ter sido obtida pela AEIST, a equipa que entrou foi a da ULisboa. Apesar de ser constituída unicamente por atletas da AEIST, a equipa representava toda a Universidade. “Infelizmente, apesar de estarmos a representar toda a comunidade estudantil, existem campos na Cidade Universitária que não podemos usar e acabam por ser usados por atletas já federados. Por vezes, para treinar temos de recorrer a um campo nas Olaias em que o nosso treinador já deu aulas e por simpatia tem acesso.“

F: “ E em relação ao Técnico, como Instituição? Sentes-te apoiada em termos de estatutos e benefícios?

Ana: “Esse é um dos maiores problemas que temos. Existem 2 tipos de professores: os que são extremamente flexíveis e aceitam realizar os MAPs noutra data e os que simplesmente referem a época de recurso. Já tive colegas minhas que foram obrigadas a desistir de competições por terem avaliações. Em termos de estatutos, o que nós temos de estudante-atleta não é muito útil. Apesar de nos conferir um acesso a Época Especial, só podemos usufruir para fazer cadeiras em que chumbamos, não serve para melhorias. Alguns professores ignoram o estatuto e são totalmente inflexíveis a encontrar outras soluções para a avaliação contínua, o que obriga os estudantes a terem de escolher entre os sucessos académico e desportivo.”

F: “Referiste o estatuto de Estudante-Atleta. Qual a diferença para o estatuto de Atleta de Alta Competição?”

Ana: “Enorme. Mas também é difícil de obter no ténis, sendo necessário conseguir pontos WTA (pontos à base de mérito atribuídos pela Women’s Tennis Association)  para o ter, o que é uma tarefa muito difícil. As vantagens incluem melhorias substanciais de média no final do secundário para acesso ao ensino superior e prioridade na escolha de horários e turnos que permitem conciliar muito melhor os estudos com as competições. Seria fantástico se houvesse mais fácil acesso a este tipo de estatuto ou que as vantagens fossem alargadas para todos os estudantes-atletas.”

Finalmente, falámos sobre a perceção que a comunidade académica do IST, num todo, tem do desporto académico. A Ana revelou-nos que ainda tem colegas que ficam surpreendidos quando lhes diz que vai a um torneio, pois nem imaginavam que existiam equipas de ténis no IST. “As pessoas maioritariamente só conhecem as equipas de Râguebi, Voleibol e Futsal. Mas a AEIST tem muito mais equipas a nível coletivo e também individual. Seria bom que fossem mais conhecidas para também sentirmos o apoio em torneios importantes.”

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