Realidade pré-ERASMUS

Autoria: Beatriz Costa (MEFT)

ERASMUS é uma oportunidade única e inesquecível. Se, por um lado, está cheio de aspetos positivos, não deixa de ser verdade que nem sempre tudo é perfeito. Assim, os alunos do Técnico responderam a algumas questões para saber como estão a ser os preparativos para a sua grande mudança.

Ao contrário do que se possa pensar, quando nos matriculamos numa universidade pela primeira vez, não é necessário fazer-se todo o percurso académico na mesma instituição. Geralmente, estas disponibilizam acordos de mobilidade que permitem que os alunos, tal como o próprio nome indica, “se movam” ou, por outras palavras, incentivam a exploração de novas realidades, asseguram novos desafios e, sobretudo, fomentam o crescimento individual.

Vários são os acordos oferecidos pelo Instituto Superior Técnico (IST), desde nacionais (Almeida Garrett) a internacionais, dentro da Europa (ERASMUS+, Athens, etc.) ou em qualquer outra parte do mundo (SMILE). Estes podem ainda dividir-se em estudos de Duplo Grau, cursos intensivos e extensivos e até mesmo programas dedicados a estágios [1]. Dentro desta vasta coleção de possibilidades, este artigo focar-se-á na vida de ERASMUS, já que se trata do tipo de mobilidade mais comum e mais conhecido no mundo estudantil.

O programa ERASMUS é, sem dúvida, uma experiência única, visto que os seus integrantes voltam diferentes, tanto em termos escolares, sociais e até mesmo pessoais. Desenvolvem-se novas perceções, criam-se laços, nascem ideias e, consequentemente, formam-se pessoas com uma visão mais ampla e inovadora. Originalmente criado em 1987 pela União Europeia, este programa procura incentivar a mobilidade de universitários, fomentar a cooperação entre instituições e promover uma Europa mais unida. Deve o seu nome ao filósofo renascentista holandês Desiderius Erasmus de Roterdão e, coincidentemente, funciona como um acrónimo para European Community Action Scheme for Mobility of University Students (Esquema de Ação da Comunidade Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários) [2]. Para saber como se estão a preparar para embarcar nesta aventura, alguns alunos do IST de diferentes cursos (MEFT, LEIC, MEIC-T e MEMec) e com diferentes destinos (Argentina, Itália, Eslovénia e Alemanha) foram submetidos a um inquérito. Este está dividido em duas partes, pré e pós mobilidade, que serão retratadas individualmente, de forma a compreender se as expectativas foram devidamente concretizadas.

Alguns dos principais impulsionadores deste programa são os estudantes que constituem a Erasmus Students Network (ESN), espalhados pelas mais diversas universidades europeias. Esta organização foi criada em 1989 nos Países Baixos, apenas dois anos depois do primeiro programa ERASMUS, com a finalidade de recolher a opinião geral dos participantes e melhorar a experiência de estudos internacionais a cada ano [3].  De acordo com as respostas, trata-se de um grupo já conhecido mesmo por aqueles que ainda estão por iniciar a sua mobilidade. Acima de tudo, aqueles que pertencem ao ESN estão sempre dispostos a prestar ajuda e, certamente, estarão igualmente disponíveis para os estudantes do IST, assim que estes chegarem à sua universidade de acolhimento. Além do ESN, por vezes existem outras associações que colaboram com alunos internacionais e procuram melhorar a sua estadia.

Infelizmente, ERASMUS ainda é erradamente visto como uma forma de passar férias. Contrariamente àquilo que se possa pensar, existem vários problemas e até alguns impedimentos, sobretudo a nível burocrático, que começam mesmo antes da partida para um novo destino. Aliás, provavelmente, os bilhetes de avião e de comboio são os últimos e os mais fáceis de serem tratados. Antes disso, todas as ideias, planos e equivalências a cadeiras têm de ser passados de mão em mão e milhares de emails devem ser enviados para os coordenadores de mobilidade das universidades de partida e de chegada, para o grupo de mobilidade e para outras potenciais entidades, até que tudo esteja em ordem. Um exemplo burocrático que causou alguns problemas aos inquiridos foi o Learning Agreement, um documento que é responsável por garantir a transparência do processo de transferência e tenta assegurar a aquisição de equivalências no final da mobilidade [2]. Curiosamente, em muitos casos, este pode ser alterado já durante a estadia, o que torna o processo ainda mais complexo e pode provocar algum desencorajamento e stress. Para além de assuntos administrativos, os testes e a performance académica destacam-se como uma das principais preocupações comparativamente a outros problemas, como solidão, saudade ou dificuldade de socialização e adaptação, embora estes não sejam inteiramente descartados.

Ainda que possam existir obstáculos a ultrapassar, isso não diminui o entusiasmo dos alunos, pois, aquando da decisão do país que os iria acolher, estes apresentaram um claro interesse na exploração de uma nova cultura. Definitivamente, não esquecem os seus deveres académicos, já que, quando questionados sobre o que os levou a escolher o local em causa, as respostas dividem-se entre a parte cultural e social, mas também a académica. Relativamente à parte estudantil, a escolha da universidade foi sobretudo determinada pelo seu ranking a nível mundial, bem como o seu contexto histórico e científico, revelando que ERASMUS é igualmente uma oportunidade de aquisição de conhecimento em entidades prestigiadas. Em termos de expectativas fora do contexto escolar, todos partilham a mesma curiosidade pela descoberta de uma nova realidade e de um novo país, bem como a criação de novos contactos. Além disto, os inquiridos voltam a mostrar a sua ponderação, típica dos alunos do IST, no que toca à sua organização académica, visto que a escolha do semestre também teve alguma influência na sua decisão final. Segundo as respostas, a diferença entre semestres pode comprometer a calendarização dos estudos e limitar o número de acordos disponíveis nos quais se possa estar interessado.

No que toca à habitação, o questionário leva a concluir que é mais fácil encontrar casa no estrangeiro do que em Portugal, sobretudo quando feito de forma atempada. Este tópico revelou o atraso nacional em relação à facilidade em arranjar alojamento. Destaca-se, igualmente, a preferência por residências em vez de quartos ou apartamentos, algo que em Portugal é impensável no quadro da habitação atual, onde os quartos existentes não se mostram suficientes para alojar os estudantes portugueses.

Finalmente, apesar de tudo e, salvo algumas exceções, os alunos parecem ter uma atitude extremamente otimista sobre os desafios que irão encontrar e querem tentar estabelecer diferenças entre a exigência do IST e a de outras universidades. Desejamos uma boa viagem e boa sorte para aquilo que os espera. Afinal de contas, trata-se de uma oportunidade única que nos deixa eternas memórias.

Referências:

[1] Programas de Mobilidade – Técnico Lisboa [Acedido pela última vez a 11/03/2024]

[2] History – Erasmus Student Network [Acedido pela última vez a 11/03/2024]

[3] Erasmus to Erasmus+: history, funding and future – European Commission [Acedido pela última vez a 11/03/2024]

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