A morte do Mar Morto

O icónico lago, situado entre território Israelita, Palestino e Jordano, famoso por fazer pessoas flutuar à sua superfície sem esforço, pode agora vir a ganhar outro significado para o seu nome.

Por variadas razões, alguns lagos do mundo estão a secar drasticamente. No presente caso, as razões são alterações climatéricas e o desvio de água do rio Jordão, que abastece o lago, para água potável e para fornecer indústrias.

No que diz respeito às alterações climatéricas, os Gases de Efeito de Estufa (GEE), emitidos para a atmosfera pelos vários sectores de atividade humana, contribuem para o aquecimento global, o que faz com que a taxa de evaporação de lagos como este supere o caudal de água que os alimenta, pelos rios ou chuvas. Esta descompensação hídrica leva então à redução das suas massas de água, secando assim os lagos.

Há cerca de 3 mil crateras nas margens do Mar Morto, que se estão a multiplicar exponencialmente, segundo ambientalistas, à medida que a massa de água vai secando.

Crê-se que estas valas de grandes proporções estejam a ser formadas pelas águas subterrâneas da região do lago. Com o recuo do mesmo, aglomerados de sal foram deixados para trás no território seco. A consequente dissolução deste sal pelos aquíferos, que o levam de volta para o Mar Morto, cria um desequilíbrio estrutural no solo, que finalmente leva à ruptura do mesmo, aparecendo assim uma cratera.

Em 1980 foi avistada a primeira cratera, 10 anos depois seriam cerca de 40, e 25 anos depois, nos dias de hoje, novas valas aparecem a cada dia.

Isto pode representar perigos para pessoas nesta região, quer para as populações locais, quer para visitantes, que se podem encontrar no local errado à hora errada, aquando da abertura de uma cratera. Existe também a problemática de estes buracos se acumularem, aglomerando-se e tornando-se cada vez maiores, levando a desníveis de terreno tais que causam deslizes de terra. Estes, por sua vez, estão a pôr em risco uma autoestrada israelita que passa à beira do lago.

Esta autoestrada, Route 90, é a mais comprida de Israel, atravessando o país de norte a sul e estendendo-se ao longo de todo o Mar Morto, sendo este troço também por vezes chamado de Autoestrada do Mar Morto. Recentemente, o Ministério do Transporte Israelita viu-se forçado a fechar um troço de 300 metros desta rodovia, ao largo da aldeia-oásis de Ein Gedi, devido a um desnível de 5 centímetros na estrada causado pelo aparecimento das crateras. A estrada estará encerrada até concluírem a construção de uma via alternativa, longe da zona de perigo, o que poderá demorar entre 6 a 12 meses.

Dead Sea
Route 90 na margem do lago.

Este lago e suas margens encontram-se 430 metros abaixo do nível médio das águas do mar, encontrando-se na sua margem da Jordânia o ponto terrestre menos elevado da Terra. As suas referidas propriedades de flutuabilidade são ainda devidas à sua híper-salinidade, estando entre as massas de água mais salinas do mundo, com cerca de 33% de salinidade, dez vezes mais do que as águas dos oceanos, o que lhe confere uma densidade mais elevada que em outras águas, sendo assim a força de impulsão exercida em corpos flutuantes superior ao normal, o que se faz sentir pelos banhistas.

Este é mais um exemplo dos efeitos nefastos da interferência humana com os ciclos da natureza, tanto à escala local, no que diz respeito ao redireccionamento do rio Jordão, como à escala global, no que diz respeito a alterações climatéricas.

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Sinais de perigo na zona das crateras.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Texto: Vasco Abreu