Autoria: Camila Costa
Amor revela-se em quem,
De singelo julgamento,
Sabe domar o desdém
Que o outro de si tem
Ao olhar o pensamento.
O amado, pois que amando,
Cria em barco flagelado
Teto de oceano brando,
Ser comandado e comando
Do outro a si igualado.
Dessa dança em duplo ato
Fusão sabe separar
Estritos passos; cada tato
É tão ternamente lato,
Tal abraço de luar…
Saia clara em rodopio,
Um festejo que desperta…
Por que não vem todo o rio
Ao sereno mundo esguio
Dessa doce paixão certa?
Norte ventoso da vida,
Calcário que jaz em mágoa…
Latente pulso, ferida,
Pó de estalagmite erguida,
Eco, soluço, dura água…
No amor lhes provar cura…?
É mentira dolorosa…
Que coisa há que menos dura
Que um pedaço de ternura
Que o próprio de si não prosa?
Amar, então, que sentido?
Êxtase sem ser eterno?
Tudo à vida prometido –
Modo de ideal retido
Dentro passar a ser externo.