Autoria: João Dinis Álvares (MEFT)
Eis que me proponho a fazer algo um pouco questionável, tentarei contar uma história, ainda não sei bem qual, vai ser uma história curta, de três maneiras diferentes, ou seja, usando três estilos de escrita diferentes. Porquê, talvez o Leitor se questione. Porque sim, respondo-lhe.
Leitor: Mas, repare que faz todo o sentido uma pessoa questionar-se sobre o motivo de um texto, quer dizer, está a fazer perder o tempo do leitor.
Autor: Neste caso, o senhor.
Leitor: Como diz.
O Leitor desaperta o casaco, coloca-o na cadeira, bebe um pouco de água, aclara a garganta.
Leitor: Diga-me lá qual o motivo do texto, então, que tenho mais que fazer, isto uma pessoa tem coisas para tratar, tenho compromissos aos quais não posso falhar, essas coisas, o senhor percebe.
Autor: Pois olhe que agora não sei bem se me apetece responder-lhe a essa pergunta.
Leitor: Então porquê?
Autor: Não sei se gosto da maneira como estamos a falar, falta-lhe algo, uma lentidão.
Leitor: Como assim?
Autor: Sinto que deveria ser de maneira diferente, com mais respeito, algo mútuo.
Leitor: Tentemos, então, caríssimo, mudar o estilo, para que lhe seja mais confortável. Mas despache-se, que os compromissos…
O Autor acenou, sorrindo, e olhou pela janela com um olhar entristecido, talvez cansado, não sabia bem sobre o que ia escrever. A conversa voltou ao início, o Leitor voltou a perguntar qual era o sentido do texto, o Autor uma vez mais voltou a fugir à questão, quase não mantinham contacto entre ambos, talvez estivessem desconfortáveis. Acho que a falta de respeito só aumenta à medida que o caro Autor não se decide sobre o que vai escrever, dizia o Leitor, ao que o Autor respondia, Bom, mas o caro Leitor há-de perceber que nem sempre sabemos sobre o que queremos escrever, às vezes é o que é, não dá para mais.
O Leitor coçou o queixo, bebeu mais um gole de água, ajustou o relógio e ficou a ponderar se se devia levantar e sair daquela cadeira onde lia as palavras do Autor, tinha de ir ter a um certo sítio dentro de pouco tempo, não podia dar muito mais atenção àquelas palavras. Irritado, voltou a perguntar: Já encontrou o seu estilo ou prefere mudar outra vez?, ao que o Autor ponderou silencioso, ainda não sabia bem.
Talvez devêssemos, mas desta vez queria que o Leitor me dissesse se também o quer, ao que o Leitor agora pondera, enquanto lê, e está curioso por saber qual será o próximo estilo e então diz, Sim, vamos a isso.
Que da afirmação pungente,
Do seio da mera incerteza,
Se levante a certa resposta
Que o Leitor tanto preza.
O Autor, entretido agora,
Vira-se para o caro Leitor e diz,
Se calhar, chegou a hora,
De ser quem eu não sou.
Dúvidas se ergueram na mente do Leitor,
As frases e os versos alongavam-se tanto,
Mas quem é o senhor, quem é que eu sou.
Ao que o Autor, em silêncio, se perguntou,
Se o caro Leitor quisesse mesmo saber,
Há já muito tempo teria parado de ler.