Para A.

Autoria: Pedro Lima (LEIC-A)

As flores que na vela se tornam cinza

E o selo pelos lábios dado ao mundo.

Assim nos devoramos, dizem os olhos,

Mas estes fecham querendo a noite.

É um arrastar de ondas, sinto a maresia

Do toque que nos assombra.

No nosso riso há um ressoar líquido,

É a nado síncrono que fugimos

Da depressão do abismo.

Os segundos extraviados no próprio tempo,

Como as corolas e tudo o que parecemos,

Ardendo.

Mas delas só ficam as cinzas,

A intensidade presa a ferros

E o véu lascivo perdurando.

Sem de novo me aventurar nas ondas, 

Ainda sinto os teus dedos no meu cabelo

E o que em tempos foi o nosso selo.

Esforço-me por que a água me escute,

Os pés por si avançando,

Mas logo me detenho ao pensamento

De que posso voltar a ver-te.

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