Autoria: Sofia Calado (MEEC), Tiago Fernandes (MEEC)
Realizaste uma candidatura a um mestrado no Instituto Superior Técnico (IST) para o ano letivo de 2024/25? O Diferencial analisou os resultados da 1ª fase de candidaturas, que foram disponibilizados no final de abril.
No ano letivo de 2021/22, o IST implementou a reestruturação do modelo de ensino, designada de Modelo de Ensino e Práticas Pedagógicas (MEPP), em resposta à desintegração dos ciclos integrados, determinada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto. Consequentemente, os cursos de Mestrados Integrados no IST, à exceção de Arquitetura, passaram a dividir-se em 1º ciclo, que manteve as propinas de 697€ (o valor máximo no caso das licenciaturas), e em 2º ciclo, cujas propinas subiram para 825€. Os sucessivos Orçamentos de Estado desde 2022 não permitiram que o valor fixado para as propinas ultrapassasse o fixado nessa altura e manter-se-ão para o ano letivo de 2024/25.
Com as mudanças de funcionamento, os estudantes que ingressaram no IST a partir de 2021/2022 e que tenham o 1º ciclo concluído no final do ano letivo 2023/24, tiveram pela primeira vez de se candidatar a um ou mais mestrados, numa das 3 possíveis fases de candidatura, caso desejassem ingressar no 2º ciclo no ano de 2024/25. Todo o processo ficou previsto no Regulamento de Ingresso no 2.º ciclo do IST, que foi aprovado no dia 8 de fevereiro de 2024 (Despacho do Presidente do IST n.º 1601/2024), onde estão definidos os critérios de seleção de forma universal, para garantir a igualdade nas oportunidades de acesso.
De acordo com a informação a que o Diferencial teve acesso, o processo contou com 1413 alunos candidatos às 2067 vagas de mestrado oferecidas pelo IST. O número total de candidaturas foi de 1736, com uma média de 1.2 candidaturas por cada aluno.
O cálculo da classificação de candidatura é feito da seguinte forma:
C = 180 x (0.3 x A + 0.3 x N/5 + 0.4 x MFC/200) + B
A afinidade, A, é um coeficiente entre 0 e 1 que diz respeito à coerência entre o curso frequentado e aquele a que se candidata. A natureza, N, assume valores de 1 a 5 conforme a qualidade do curso de origem. Já MFC é a média final de curso e B é uma bonificação de até 20 pontos.
A bonificação soma 0 ≤ Bax ≤ 3, relativo às atividades extracurriculares certificadas, ao mínimo entre Buci = 17 e um parâmetro penalizador dos percursos com número de matrículas no 1º ciclo superior a 3.
Os números de alunos em anos recentes, no entanto, mostram que o fim dos mestrados integrados terá levado a uma retenção de alunos no 1º ciclo, com um aumento correspondente a 15% dos alunos em licenciatura.
Para além disto, a bonificação não foi atribuída na sua totalidade a alunos que, concluindo a sua licenciatura em 3 anos, se tinham inscrito anteriormente noutro curso e posteriormente realizaram transferência.
Outro fator a ter em conta é a proporção de alunos internos que se candidataram aos mestrados relativamente aos alunos de outras instituições. Dos 1413 candidatos, 988 eram alunos do IST e 425 alunos de outras instituições. Muitos dos mestrados do IST continuarão a ser maioritariamente frequentados por quem já fez a licenciatura na instituição.
O número de candidaturas foi, em proporção ao número de vagas, bastante maior em certos mestrados. Destaca-se o mestrado em Engenharia Informática e de Computadores da Alameda, que apresentou 294 candidaturas para as suas 200 vagas. No mesmo sentido, o mestrado em Engenharia e Ciência de Dados teve uma grande popularidade com 83 candidaturas para as suas reduzidas 25 vagas. Porém, na grande maioria dos mestrados o número de candidaturas foi significativamente inferior ao número de vagas. Em mestrados históricos, como o de Engenharia Civil, Engenharia Geológica e de Minas ou Engenharia Química, as taxas de ocupação foram apenas de 36%, 11% e 58%.
Quando questionado acerca dos resultados das candidaturas de mestrado e se havia diferenças em relação ao ano anterior, o presidente do IST diz que “a diferença em relação ao ano anterior é abissal” visto que “este é o primeiro ano em que todos têm de se candidatar”. Rogério Colaço refere ainda que já chamou à atenção das coordenações dos cursos acerca de uma “preocupação determinante e prioritária para o Técnico”, sendo esta o facto de que, até este ano, os estudantes podiam realizar unidades curriculares que tinham menores eficiências formativas e que eram mais difíceis de fazer com aproveitamento ao longo dos 5 anos. Por exemplo, teoricamente, um aluno do IST, até agora, poderia estar no segundo ano de mestrado e a realizar uma UC de primeiro ano de licenciatura, com a única restrição de não poder realizar a dissertação de mestrado. Doravante, isto não vai ser possível.
Deste modo, o presidente avisa que é necessário que as coordenações e presidentes de departamentos estejam conscientes desta nova realidade, pois ela vai ter um impacto real na produção de estudantes para o segundo ciclo, caso certas unidades curriculares tenham taxas de aprovação muito baixas. As cadeiras destacadas foram as de Matemática e Física por serem UC transversais a todos os cursos do IST, e por isso envolvendo um número muito alargado de estudantes do primeiro ciclo. O presidente apresenta este motivo como uma das possíveis razões de certos mestrados terem muito menos candidatos.
Realça-se que o número de candidaturas foi superior ao número de vagas em apenas 8 dos 32 mestrados disponíveis no IST, o que pode ser uma estatística preocupante, mostrando que o Técnico está a ter dificuldades em conseguir atrair mais alunos para as suas ofertas pós-licenciatura.
Para os estudantes ainda interessados em enveredar num mestrado, o período de candidaturas da 2ª fase para o ano letivo de 2024/2025 irá decorrer de 11 de junho a 5 de julho.
Referências:
[1] https://dre.tretas.org/dre/3435133/decreto-lei-65-2018-de-16-de-agosto
[2] https://tecnico.ulisboa.pt/files/2024/02/regulamento-de-ingresso-no-2.–ciclo-8.fev_.2024.pdf