Análise à Primeira Fase de Candidaturas de Mestrado do IST do ano letivo 2025/26

Autoria Beatriz Costa (MEFT), Maria Paixão (LEBiol)

1488 alunos de nacionalidade portuguesa matricularam-se nas 2094 vagas em Mestrados no Instituto Superior Técnico (IST) na primeira fase de candidaturas deste ano letivo, depois de um total de 2168 candidaturas. O Presidente do Instituto Superior Técnico, Rogério Colaço, admite um “aumento na procura e confirmação das inscrições”. O Diferencial analisou os resultados da primeira fase de candidaturas para os estudantes nacionais.

As candidaturas

Todos os anos, perto do início do segundo semestre, abrem as candidaturas aos Mestrados do Técnico, às quais se podem candidatar quaisquer alunos que estejam a concluir a sua Licenciatura e queiram avançar para o 2º ciclo de estudos, desde que, à data da candidatura, tenham concluídos pelo menos 138 créditos, ou que sejam titulares de qualquer grau de licenciado ou equivalente legal, como grau superior estrangeiro, desde que reconhecido pelo Conselho Científico do Técnico [1]. Este concurso não se destina a estudantes considerados internacionais

Após um aluno se candidatar a um ou mais Mestrados, segue-se o processo de colocação. A candidatura do aluno pode ser excluída por incumprimento dos requisitos necessários (como não incluir o CV ou outros documentos necessários). Caso a candidatura seja aceite, o aluno pode ou não ser colocado. Se o aluno for colocado em mais do que um Mestrado, escolhe o que preferir, abdicando, assim, da sua vaga no outro Mestrado. Esta escolha coloca o estudante “embarcado” no seu Mestrado de eleição. Deste modo, o número de estudantes colocados é superior ou igual ao número de estudantes embarcados.

Isto significa também que um aluno pode ser colocado num Mestrado ainda antes de ter concluído todas as disciplinas necessárias para poder ingressar no 2º Ciclo no ano seguinte. Caso o aluno não as consiga finalizar, fica automaticamente sem a vaga conquistada, e perde não só o emolumento de 50 euros por cada candidatura efetuada (ou 100 euros, a partir da terceira candidatura), como os 100 euros da taxa de reserva de vaga, que seriam descontados nas propinas [1]. O impedimento de ingresso no Mestrado aquando de disciplinas não concluídas, foi, no ano passado, apresentado pelo Presidente do IST como um motivo para certos Mestrados terem muito menos candidatos que em anos anteriores.

Findo o processo de embarque dos alunos que pretendem ficar no Mestrado, o Diferencial teve acesso aos dados de candidaturas, colocações e embarque dos estudantes na 1ª fase de acesso aos Mestrados do IST.

A desintegração dos ciclos integrados (os ditos Mestrados Integrados) no IST, à exceção de Arquitetura, determinada pelo Decreto-Lei nº 65/2018 de 16 de agosto, levou a que, pela primeira vez, no passado ano letivo, alunos ingressados no Técnico a partir do ano letivo de 2021/22 tivessem de se candidatar a Mestrados, caso desejassem prosseguir os seus estudos. Em entrevista ao Diferencial, Rogério Colaço apontou as vantagens e desvantagens desta nova burocracia, bem como questões relativas ao processo de Bolonha e suas consequências.

O Processo de Bolonha teve início em 1999 com a assinatura da Declaração de Bolonha por parte de 29 ministros da educação de diferentes países, incluindo Portugal. Os principais objetivos deste processo eram introduzir um sistema de ensino superior de três ciclos, assegurar o reconhecimento mútuo das qualificações e dos períodos de aprendizagem no estrangeiro concluídos noutras universidades (o sistema de ECTS) e aplicar um sistema de garantia da qualidade. Estes objectivos conduziram também à criação do Espaço Europeu de Educação Superior. A criação de um sistema de Ensino Superior a três ciclos deu origem, numa fase inicial, aos Mestrados integrados, em que as antigas Licenciaturas de cinco anos foram convertidas em três anos de Licenciatura (primeiro ciclo) e dois anos de Mestrado (segundo ciclo). A dissolução dos Mestrados Integrados levanta diversas questões relativamente ao impacto na aprendizagem dos estudantes e na sua formação. 

Segundo Rogério Colaço, o novo decreto permite aos estudantes “diversificar a sua formação escolhendo outras áreas de formação a nível de Mestrado”. Além disso, admite que esta mudança pode ser positiva ou negativa, dependendo das intenções de cada estudante e da “sua missão enquanto profissionais de engenharia”. Por um lado, um aluno focado em aprofundar os seus conhecimentos numa área concreta poderá beneficiar em fazer um mestrado de continuidade, mas um estudante interessado numa formação base numa determinada área e com curiosidade em explorar a sua aplicabilidade noutros campos poderá optar por diversificar a sua formação no segundo ciclo. Em última análise, o presidente do IST acredita que este novo paradigma “responsabiliza um bocadinho mais cada um de nós enquanto estudantes, a antecipar aquilo que queremos fazer no futuro para formar as escolhas mais adequadas àquilo que queremos fazer”.

Neste segundo ano em que todos, à exceção dos alunos de Arquitetura, tiveram de se candidatar, houve mais alunos colocados, para um número de vagas ligeiramente superior (2094 comparativamente a 2067 do ano passado). O número de colocados passou de 1413, no ano letivo de 2024/25, para 1958, no ano letivo de 2025/26, correspondendo a um aumento de 38,6% para um aumento de cerca de 1% no número de vagas.

Método de seriação

O cálculo da classificação de candidatura é feito da seguinte forma [1]:

C = 180 x (0.3 x A + 0.3 x N/5 + 0.4 x MFC/200) + B

A afinidade, A, é um coeficiente entre 0 e 1 que diz respeito à coerência entre o curso frequentado e aquele a que se candidata. A natureza, N, assume valores de 1 a 5 conforme a qualidade do curso da faculdade de origem. Já MFC é a média final de curso e B é uma bonificação de até 20 pontos. A bonificação soma 0 ≤ Bax ≤ 3, relativo às atividades extracurriculares certificadas, ao mínimo entre Buci = 17 e um parâmetro penalizador dos percursos com número de matrículas, nm, no 1º ciclo superior a 3.

O número de vagas dos chamados cursos de continuidade é calculado através do número de candidatos do ano anterior majorado em 10%, permitindo que os estudantes de continuidade consigam entrar no curso, existindo ainda vagas para outros candidatos, até ao limite de vagas aprovadas pela A3ES (Agência De Avaliação E Acreditação Do Ensino Superior). Quanto aos Mestrados sem equivalente de Licenciatura, o número de vagas é determinado conforme a avaliação da A3ES, baseada no corpo docente necessário e infraestruturas disponíveis para o bom funcionamento dos cursos. É o caso do Mestrado em Engenharia e Ciência de Dados, que apesar de bastante concorrido (contou com 76 candidaturas para apenas 25 vagas disponíveis), está limitado à capacidade da Instituição.

Origem por curso

Os Mestrados com maior número de vagas correspondem a Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Engenharia Informática e de Computadores, na Alameda, e Engenharia Mecânica, com 231, 200 e 192 vagas, respetivamente. Já com um menor número de vagas disponíveis, apresentam-se o Mestrado Integrado em Arquitetura, com apenas 5 vagas, e o Mestrado em Proteção e Segurança Radiológica, com 12 vagas. 

Dos 32 Mestrados, 10 preencheram a totalidade de vagas disponíveis, não apresentando vagas para a 2ª fase de candidaturas, mais dois que no ano letivo passado. Este ano, Engenharia Aeroespacial, Engenharia Biomédica e Engenharia Farmacêutica preencheram a totalidade do número de vagas, o que não aconteceu no ano passado. Pelo contrário, Bioengenharia e Medicina Regenerativa e de Precisão, que havia preenchido totalmente as suas vagas, não conseguiu fazê-lo este ano. Alguns cursos têm ainda quase a totalidade das vagas disponíveis, como Engenharia Eletrónica, com 33 vagas disponíveis em 36, ou Arquitetura, e Proteção e Segurança Radiológica, com apenas 1 vaga ocupada das 5 e 12 disponíveis, respetivamente.

Gráfico 1: Taxas de colocação

Quanto à percentagem de embarcados, ou seja, aqueles que realmente confirmaram o seu lugar através da matrícula, apenas 12 Mestrados (37,5%) preencheram mais de 90% das vagas disponíveis, sendo que 13 Mestrados não superaram os 50% de alunos embarcados face ao número de vagas disponível. Os cursos com uma menor taxa de ocupação nesta fase foram Engenharia Geológica e de Minas (22%), Arquitetura (20%), Engenharia do Ambiente (18%) e Engenharia Eletrónica, e Proteção e Segurança Radiológica, ambos com apenas 8% de embarcados.

Gráficos 2 e 3: Distribuição de colocados (laranja) nos vários cursos para o número de vagas (azul). Distribuição de embarcados (laranja) nos vários cursos para o número de vagas (azul)

Importa referir que, destes cursos com baixo embarque de estudantes do IST, apenas Engenharia Eletrónica conta com Licenciatura equivalente. Apesar disso, apenas 1 dos seus 3 alunos matriculados na 1ª fase provêm dessa Licenciatura. 16 dos alunos desta Licenciatura migraram para outros Mestrados no IST, tendo a maioria (11 alunos) migrado para Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. 

De outras migrações entre cursos destaca-se a mudança dos alunos de Licenciatura de Engenharia Física e Tecnológica para os Mestrados de Matemática Aplicada e Computação (7 alunos) e para Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (16 alunos). Além disso, destacam-se também mudanças dos alunos das Licenciaturas de Engenharia Biológica para os Mestrados em Engenharia Biomédica (6 alunos) e  Engenharia e Gestão Industrial (7 alunos), e de Engenharia Mecânica para os Mestrados em Engenharia e Gestão Industrial (9 alunos) e Engenharia Aeroespacial (7 alunos). Engenharia e Gestão Industrial destaca-se por ter atraído 53 alunos que não frequentaram a Licenciatura equivalente (LEGI), perfazendo 54% dos alunos embarcados, tendo atraído alunos principalmente das Licenciaturas de Engenharia Biológica, Química, Mecânica, e Eletrotécnica e de Computadores. 

Gráfico 4: Percentagem de alunos matriculados que frequentam Licenciatura equivalente

Origem por país

Até ao momento, 95% dos alunos embarcados são de nacionalidade portuguesa. Os restantes 5% entraram através do concurso internacional, sendo 3% provenientes de países europeus – maioritariamente de Itália (14 alunos matriculados) e Alemanha (8 alunos matriculados) – e 2% oriundos de fora da Europa — entre os quais se destacam a China, com 11 estudantes matriculados, e vários países lusófonos, como o Brasil (12 estudantes matriculados) e os PALOP (4 estudantes matriculados) O curso com o maior número de estudantes internacionais é Engenharia Informática e de Computadores na Alameda (13 alunos), mas 3 dos 6 alunos embarcados de Engenharia Geológica e de Minas são internacionais.

Origem por instituição

Quanto à origem dos candidatos, 59,9% provêm do Instituto Superior Técnico (1400 alunos), seguindo-se 6,8% da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, 6,7% da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa e 4,6% do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Os restantes 22% são provenientes de outras universidades. Relativamente aos embarcados, a percentagem de alunos do IST sobe para 67,9% do número total.

Os embarcados que transitam da FCUL entraram principalmente em Biotecnologia (23 alunos), Engenharia Informática e de Computadores, na Alameda, e Engenharia Biomédica (16 alunos cada). Já os alunos da NOVA FCT distribuíram-se principalmente pelos cursos de Engenharia Informática e de Computadores, Engenharia e Gestão Industrial, Engenharia Mecânica (13 alunos cada) e Engenharia Aeroespacial (12 alunos). Os alunos oriundos do ISEL entraram maioritariamente em Engenharia Mecânica (15 alunos) e Engenharia Informática e de Computadores, no Taguspark (11 alunos).

No que toca à passagem do estatuto de candidato a embarcado, apenas os alunos do IP Porto (3 alunos) embarcaram na sua totalidade e nenhum aluno da Universidade Católica Portuguesa (UCP) foi embarcado. 

Rogério Colaço reconhece que tem havido um escape de talento do IST aquando das novas regras de ingresso no 2º Ciclo de estudos. No entanto, afirma estar tranquilo acerca deste facto, dado que considera que também tem havido entrada simétrica de talento vinda de outras faculdades, e que os fluxos de saída e entrada de alunos estão, por isso, equilibrados. Afirma ainda que o Técnico como instituição “percebeu, mais que nunca, que se quer atrair e manter talento, tem de ser ainda melhor”.

Com mais alunos provenientes de outras instituições destacam-se Biotecnologia e Segurança de Informação e Direito no Ciberespaço, nos quais 100% dos alunos concluíram o 1º Ciclo de estudos noutra instituição. Para além destes dois, destacam-se outros dez cursos com um embarque de mais de 50% de alunos externos ao IST. Assim, 37,5% dos cursos de 2º Ciclo são compostos maioritariamente por estudantes novos no Técnico.  

Gráfico 5: Comparação de percentagem de candidaturas e embarcados de alunos de diferentes universidades

Conclusões

Este ano, as vagas que transitaram para a 2ª fase corresponderam a 59% do número de vagas no ano passado, passando de 923 para 542 lugares disponíveis em 22 cursos diferentes. Destacam-se os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, e Engenharia Física Tecnológica, que ficaram, respetivamente, com 78, 69 e 68 vagas por completar, o que corresponde a 53.8%, 29.9% e 57.6% das vagas disponíveis para estes cursos. É de notar que, embora sejam esperadas algumas alterações nas percentagens de candidaturas e embarcados, a 1ª fase é um bom indicativo para os resultados finais relativos aos estudantes que irão integrar os Mestrados no Instituto Superior Técnico.

A segunda fase irá decorrer de 16 de junho a 11 de julho (às 17h) e os resultados serão publicados dia 28 de julho. A terceira fase, caso ainda existam vagas por preencher, ainda não tem datas anunciadas.

Referências: 

[1] – Acesso a Mestrado no IST

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