Arlequim

Autoria: Pedro Almeida (LEC)

Pelos olhos noturnos e sombreados

Com uma pele de escamas padronizadas,

Dança o Arlequim pelas ruas da nossa cidade.

Da sua carne teimosa e cansada,

De horas no transe da sua valsa,

Dos pés torturados e deformados

Pelos sapatos da sua profissão,

Dança o Arlequim pelas paredes na nossa faculdade

Todos os dias, liga os candeeiros das ruas

Limpa o chão que pisamos, cansados,

Abre as portas da cidade

E, no seu tempo livre,

Dança o Arlequim pelo direito à ingenuidade.

De braços abertos

Dá amor ao mundo que o fez explorado,

Condenado a uma vida solitária

Transparente ao nosso olhar.

Antes de ligar os candeeiros e limpar o chão,

Antes de calçar os sapatos de palhaço,

Lembra-se ele 

Da vida que o vestiu de camuflado,

Que, desde pequeno,

Escureceu e sombreou os seus olhos,

Para que, no futuro, nada mais pudesse ver.

E hoje,

Pelos olhos noturnos e sombreados

Da sua carne teimosa e cansada

Todos os dias, liga os candeeiros das ruas.

De braços abertos,

Invisível,

Com olhos noturnos e sombreados,

Uma alma camuflada,

Dança o Arlequim pelas ruas da nossa cidade.

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