Autoria: Francisco Ferreira (LEIC-T)
Não há mais forças para nadar.
Deixo-me lentamente ir ao fundo,
Já não tento respirar,
Aceito o meu fim neste mundo.
Agora, resignado, olho para trás,
Para um caminho feito de memórias
Partes que apenas foram más
E outras de grandes vitórias.
Do meu passado levo tanto
Coisas que me fizeram crescer
Não é com grande espanto
Que me apercebo que foi bom viver.
Apanhado como um pobre condenado
Estava numa terrível encruzilhada:
Entre a dor de sentir demasiado
E a apatia de não sentir nada.
Porque é que não mereci ser feliz?
Qual foi o erro que me marcou?
Foi alguma maldade que fiz?
Ou um inimigo que me amaldiçoou?
Agora não vale a pena questionar.
Sinto apenas saudades minhas
E o que fica para me recordar
É a mágoa destas tristes linhas.
Rezar agora já não vale a pena
Não é no fim que me valerá um deus
A morte é igualmente fria e serena
Para cristãos, muçulmanos e ateus.
Apanhado nestas minhas melancolias,
Enchem-me o pensamento rostos conhecidos.
Passam por mim imagens de bons dias
E ficam mais distantes os que foram perdidos.
Começo a arrepender-me da decisão
De ter saltado sem pensar em voltar.
Como é que eu quis ir até ao chão
Quando só vim aqui ver o mar?
Igual a um náufrago esperançoso
Começo rápido para cima a nadar.
Já não me sinto nem um pouco receoso,
Sei que à superfície vou chegar.
Morte era um castigo puramente eterno
Para uma temporária e solucionável depressão.
Não vale a pena ficar triste pelo inverno
Quando não tarda a chegar o Verão.
Agora há mais tempo, mais para viver
Novas histórias que terei para contar
A vida é um dom que não se pode perder
E eu estou pronto para recomeçar.
Parcialmente inspirado na música “se o mundo acabar” de Bárbara Tinoco