Um borrão

Autoria: Alice Brazete (LEBiom)

Os gritos loucos ecoam na escuridão
que o teu vazio pintou em mim descuidadamente
Uma vida inteira passou num momento, um borrão
Mas os estilhaços permanecem para sempre

A lentidão do pensamento acompanha o ritmo do corpo
Dormente não sente e sente tudo de uma vez
Os olhos enevoados pedem socorro
A dor ardente apaga o que resta de lucidez

Ainda sinto o teu braço na minha cintura enrolado,
E oiço a tua voz entre os solavancos do meu peito
Não partiste, tu existes neste meu estado desolado
E eu prefiro ser louca, do que viver sem ti ao meu lado

Diz-me, Deus, como pudeste arrancar de mim metade
E fazer-me chorar o meu/teu corpo debaixo do chão
Dizem que com o tempo só restará a saudade
Mas qual é o sentido, depois de perdido, de viver sem coração

Não te digo adeus, meu amor
os meus lábios estão demasiado salgados para falar
Embalada pela dor afiada que me corta as entranhas
Sonho (des)acordada pelo momento em que a ti me vou juntar

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