Tomás Mello Breyner, também conhecido por Pequeno Buda, foi um dos oradores do TEDxISTAlameda e encontrou na meditação um método para aprender a viver em harmonia com as cirscunstâncias da vida. Tem a sua própria escola de yoga e é responsável por um projecto que pretende implementar a meditação diárias nas escolas.
Pela tua talk, ficámos com a ideia de que tens uma visão “naturalista” da religião. Defines-te como panteísta ou simplesmente pensas na natureza como uma manifestação do divino?
Eu penso no divino como um todo, não só como a natureza; mas a natureza também pode ser um todo. Para mim tudo é divino – tudo o que está dentro de nós e à nossa volta -, Deus está em todo o lado. Não me identifico com nenhuma religião e identifico-me com todas. Gosto um pouco de todas, porque acho que todas falam exactamente o mesmo. Depois existem as guerras porque alguns dizem “O meu Deus é melhor”, “Com o meu chegas lá mais rápido do que com o teu”, etc.
Ficámos curiosos quando disseste que devíamos aceitar (a palavra utilizada foi até embrace) as coisas que nos acontecem, independentemente de serem boas ou más. Como é que se pode lidar e aceitar de forma “passiva” as coisas más que nos acontecem?
Eu gosto de acreditar que tudo é bom. Quando digo bom, não entro no dualismo bom/mau; as coisas são o que são. O que para uma pessoa é mau, para outra pode ser bom, o que nos leva logo a concluir que as coisas não são boas nem más por si só. Se tu classificas uma coisa como boa, e outra pessoa classifica essa mesma coisa como má, quem é que tem razão? As experiências são apenas experiências que existem. Depois a classificação entre bom ou mau já é uma coisa mental que parte de nós, mas, na sua verdadeira essência, as coisas não são boas nem más; são apenas coisas.
Trabalhas principalmente com crianças. O facto de haver uma certa ingenuidade da parte delas e, portanto, inconsciência relativamente a este dualismo bom/mau, é uma mais-valia?
Nós não vamos tão a fundo com as crianças, apenas as tentamos trazer para o momento presente. As crianças costumam estar bastante agitadas – o que está, em parte, relacionado com a era digital em que vivemos – e, depois, quando se tentam concentrar, é um problema, o que dificulta a tarefa dos professores. Assim, o que nós tentamos fazer é resgatar as crianças para o momento presente e fazer com que elas percebam que têm de se concentrar, que é bom estar concentrado. Depois a parte da meditação que conecta com o coração e com a essência não é muito abordada. Por vezes falamos um pouco sobre o coração, mas nunca sobre Deus, religião ou filosofias deste género do bem e do mal.
Como é que reagem as crianças quando meditam pela primeira vez?
É muito engraçado! Nós trabalhamos com crianças pequenas e, tudo o que é novo para elas, é relativamente fácil. Elas adoram! É um momento no qual elas dizem que se sentem mais calmas e mais felizes. Já tivemos feedbacks super engraçados, como “É o tempo para o coração respirar”. Elas pedem aos professores para fazer meditação antes dos testes. De certa forma, parece que as crianças sabem que precisam destes exercícios; sabem que estão super agitadas e isto é bom para elas. É fantástico ver como as crianças alinham nisto!
E os professores também alinham, ou é mais difícil convencer os professores do que convencer as crianças?
É! O nosso desafio é esse mesmo: convencer os adultos de que as crianças têm de fazer 5 minutos de meditação. Por exemplo, professores de Matemática e professores de Ciências não estão muito para aí virados, então às vezes não fazem. Às escolas que aderem ao projecto, nós pedimos mesmo que façam todos os dias; nem que seja só tocar numa taça tibetana, que faz um sonzinho “plim”, e deixá-las em silêncio. As crianças precisam de aprender a estar em silêncio, porque elas estão completamente agitadas de um lado para outro, cada vez mais. No fundo, é normal as crianças estarem agitadas, berrarem, etc; mas, quando se chega a um extremo, já não é tão normal. Nós tentamos resgatá-las para a calma, para que elas consigam estar mais concentradas na sala de aula e, consequentemente, o processo de aprendizagem seja mais fácil.
A meditação também pode ser uma mais-valia em casos clínicos?
Sim. Para crianças que sofrem de autismo, por exemplo, a meditação é uma grande ajuda. É mais difícil para elas fazerem-no – por exemplo, fechar os olhos muitas vezes é difícil -, mas nós tentamos dar uma força e explicar que é importante. Há várias técnicas para as ajudar. Claro que nós não vimos pregar que a meditação é a salvação e que podemos parar de tomar medicação – não, nós queremos incluir a meditação aos poucos! Estamos só a plantar uma semente.
Achas que a meditação poderia ser útil aos estudantes universitários?
Sem dúvida. Nós estamos a pensar em começar a vir também às universidades. Neste momento também já estou a trabalhar com alunos da Oeiras International School – que vão ter os exames finais exames do secundário no final deste ano lectivo -, a qual me contratou para ir todas as semanas à escola fazer sessões com os alunos. Nas universidades é igual: quando nos acalmamos, as nossas ideias arrumam-se; quando estamos em stress, as nossas ideias dispersam-se.
Na tua talk, falaste ainda sobre o teu problema auditivo. O problema resolveu-se?
Não, continuo com o problema; a minha visão da situação é que mudou. Eu continuo a ouvir o zumbido e ouço mal, mas aceitei a minha condição – é assim que eu sou. Às vezes posso não ouvir bem, mas, em vez de ficar chateado comigo mesmo, aceito-me. Se me cortassem uma perna, também não ficaria à espera que a perna me crescesse, teria de aceitar a minha condição. É assim que eu sou e vivo feliz.
E-mail: tomasmbreyner@gmail.com
Site: tomasmellobreyner.com
Entrevista: Inês Mataloto