A terceira edição do TEDxISTAlameda decorreu este sábado, 8 de Abril, no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico. Às dez e meia, o movimento no Pavilhão Central já fazia prever um dia bastante dinâmico e recheado de actividades. No átrio, encontrava-se uma piscina de bolas facultada pela GFI, dentro da qual os participantes eram convidados a resolver anagramas, habilitando-se assim a ganhar diversos prémios. “FOCUS” foi o tema escolhido para a edição deste anos, pelo que, à medida que os participantes iam chegando, eram incentivados, logo à entrada do Pavilhão Central, a escreverem nos seus cartões de identificação aquilo em que estavam focados.
Poucos minutos depois das onze, os Les Crazy Coconuts abriram as hostes da edição 2017 do TEDxISTAlameda. A voz de Gil Jerónimo e a bateria de Tiago Domingues aliaram-se ao imprevisível e surpreendente sapateado de Adriana Juliano para fazerem levantar das cadeiras um público que se adivinhava entusiástico, mas que ainda se encontrava adormecido.
20 minutos de actuação pura e dura, com palmas à mistura, chegaram para despertar a audiência. Foi então que chegou a vez de subir ao palco a primeira oradora do dia.
Com o seu ‘trans-humanismo’ (H+) e ‘humanismo científico’, Daniela Ribeiro, deslumbrou a plateia com as suas obras plásticas, que têm nas componentes eletrónicas usadas a sua principal fonte de matéria prima. Seguiram-se diversas talks com temáticas heterogéneas. De seguida, um colega da casa – o Francisco Moreira de Azevedo – avançou com uma análise incisiva ao sistema de avaliação. Uma boa educação é aquela que garante que todos progridam, veiculou-nos. E foi sem pés de lã que, citando Michael Athans (1), apontou o dedo ao IST, – “MIT students excel in independent thinking and problem-solving, while IST students are “spoon-fed”.
Foi notório o destaque dado aos temas do ensino e da educação. Para além do Francisco – vencedor do Speaker Contest – foram também convidados João Couvaneiro, distinguido pela Varkey Foundation como um dos 50 melhores professores do mundo e Filipe Jeremias, fundador do projeto ERES – projecto educativo inovador em Leça da Palmeira.
Mas já lá vamos.
Pausa para almoço: 2 horas de networking à sombra de uma tasca de tacos voaram – as horas, não os tacos. Pelo menos foi essa a perceção. Ou seria do excesso de dopamina como Joe Paton nos explicou mais tarde?
De regresso ao Salão Nobre, o “pequeno buda” Tomás Mello Breyner, fechou os olhos à plateia e fê-la, literalmente, sentir a respiração. Falou-nos do problema de saúde que atravessou no final da adolescência, e a forma como o yoga e a meditação o ajudaram a ultrapassar essa crise – “Eu sou como sou, aprendi a viver com a minha condição. Se me arrancassem uma perna, habituar-me-ia a viver sem ela”. Mencionou ainda a importância desta prática no ensino e a forma como a mesma pode ser uma mais-valia desde a infância.
Depois do yoga, o foco voltou para a educação. João Couvaneiro trouxe-nos a sua “School in the box”, e explicou-nos como uma escola pode, literalmente, caber numa caixa. Elucidou-nos da importância de as escolas formarem cidadãos, produtores e, mais que isso, criadores.
Em suma, pessoas felizes.
Como seria de esperar, dada a casa anfitriã em questão, houve ainda espaço para a tecnologia – desde a inteligência artificial como potencial criadora de música, passando pela bitcoin e acabando no mecanismo da visão e tomada de decisões. Os engenheiros e futuros engenheiros da plateia tiveram material suficiente para saciar a sua sede tecnológica.
O dia contou com mais um momento musical promovido por Mistah Isaac que fez as meninas presentes na sala palpitar. Surpreendeu tudo e todos com “Maria”, uma linda ode às tantas Mariamas guineenses que, com a colonização, foram rebaptizadas de Maria. O rapper, músico e poeta angolano radicado em Portugal desde os 11 anos, aproveitou ainda para declamar dois poemas, marcados por uma forte visão crítica à sociedade.
Com o público a chorar por mais, Mistah abandonou o palco e deu o lugar a Filipe Jeremias. O arquitecto de construções que passou a ser ‘arquitecto de pessoas’ lançou as perguntas sobre o ensino que ninguém soube responder “Porque tem uma aula 50 minutos?”, “Porque aprendemos todos da mesma maneira, se somos todos diferentes?”. Se as duas primeiras coisas que aprendemos a fazer são andar e falar, porque é que a primeira coisa que ouvimos na sala de aula é “Cala-te e senta-te!”. Sintomas de um sistema de ensino com alunos do séc. XXI, que são ensinados por professores do séc.XX, com métodos de ensino do séc. XIX baseados numa cartilha filosófica do séc. XVII. Ficou lançado o debate.
O evento estava estruturado em três partes, entre as quais os participantes tiveram tempo para conviver e para tentar resolver o desafio lançado pela organização, o qual era constituído por 10 enigmas espalhados pelo Pavilhão Central. Se, inicialmente, “FOCUS” nos parecia vago, os comentários positivos dos participantes à saída do evento tornaram nítido que esta edição do TEDxISTAlameda conseguiu de facto captar o foco das cerca de 100 pessoas que decidiram passar este sábado solarengo no Instituto Superior Técnico.
*Este artigo não segue o novo acordo ortográfico.
Texto: Afonso Anjos & Inês Mataloto