Como adequar a formação actual no IST aos desafios do século XXI?

Autoria: Diana Oliveira


Em Janeiro de 2018, o presidente do Instituto Superior Técnico, o Professor Arlindo Oliveira, deu início à CAMEPP, Comissão de Análise ao Modelo de Ensino e Práticas Pedagógicas, com o intuito de fazer um estudo sobre as ditas práticas, dentro e fora das portas da instituição, a nível nacional e internacional. Tornou-se incontornável a crítica e observação exteriores de que um típico aluno do IST podia concluir o curso com um indubitável conhecimento na área da engenharia, mas não muito mais para além dela, não enquanto “cidadão do mundo”. O relatório que resultou deste estudo e que propõe um novo modelo de ensino está disponível[1] para leitura desde Setembro de 2018, momento a partir do qual se iniciaram três processos de iteração entre a CAMEPP e todos os envolventes, professores e alunos, estando a versão mais actual e revista também disponível, no site do Conselho Pedagógico (CP)[2].

Foi, portanto, nestas linhas que, no passado dia 1 de Julho, o Diferencial aceitou o convite da Comissão Executiva do CP e esteve presente na Sessão de Esclarecimento sobre o Novo Modelo de Ensino a ser implementado nesta escola, o MEPP 2122. Às 14h30 de uma segunda-feira, em plena época de exames, a apatia por parte do corpo de alunos era menor que a aguardada e entregou inesperadamente um anfiteatro cheio de curiosos e intervenientes, prontos para perceber como a mudança os afectaria, a eles e aos outros. A sessão focou-se, em particular, no PERCIST, os Princípios Enquadradores para a Reestruturação dos Cursos de 1º e 2º ciclo do IST 2122 (um documento também disponível no site da instituição[2]) e nas suas 12 ideias-chave, unidas pelo seguinte lema: manter do nível de qualidade de ensino pelo qual o IST é reconhecido, aumentando a flexibilidade e reconhecimento dos diversos percursos académicos. De forma muito sucinta, não só se pretende intensificar a componente prática do ensino em prol da teórica, como se pretende o desenvolvimento de soft skills, a integração de cadeiras opcionais nas áreas das Humanidades, Artes e Ciências Sociais (HASS) e o melhoramento das condições de ensino, quer a nível de infraestruturas quer de recursos, como em relação à Secretaria.

Daqui partiu-se para o calendário escolar que acompanhará toda esta mudança. Se o actual divide o seu tempo em, a nível semestral, 14 semanas de aulas, 1 semana de preparação para exames, 3 semanas de 1ª fase de exames, e depois, outra vez, uma de preparação e outra de exames de 2ª fase, o calendário vindouro divide o seu tempo em 7 semanas de aulas, 1 semana de estudo, preparação ou discussão de projectos, 1 semana de exames, e, outra vez,  7 semanas de aulas, uma de estudo/preparação/discussão, uma de exames, outra de preparação e, finalmente, outra de exames. De sublinhar que o objectivo principal é fortalecer a avaliação contínua e enfraquecer a avaliação pontual e cronologicamente final dos exames, sendo também nesse sentido que se inserem os dois novos tipos de Unidades Curriculares: UCs a funcionar em períodos de 7 semanas e UCs a funcionar em períodos de 14, havendo algumas conjugações previstas com os dois tipos para os semestres. Esta proposta de calendarização mexe, inevitavelmente, com o sistema de créditos actual, propondo-se invés um sistema de múltiplos de 3 créditos na creditação de UCs, algo que pode ser lido em maior pormenor na documentação já mencionada.

Resumindo também a secção seguinte, foram apresentadas as mudanças a ocorrer no 1º ciclo, destacando-se as ditas HASS, sendo que obrigatoriamente 9 ECTS terão de ser usados desta forma (3 em gestão e economia e 6 numa opção livre, ilimitada em termos de escolha, desde que pertencente a uma escola da Universidade de Lisboa), e um projecto integrador de 1º ciclo – o culminar do conhecimento adquirido na licenciatura – com três possíveis opções, a primeira do tipo Capstone, a segunda relacionada com investigação e a terceira em ambiente empresarial, estagiando. Já para o 2º ciclo destacam-se a creditação das actividades extracurriculares (3 ou 6 ECTS), a funcionar em modelo passaporte, e as opções existentes para a dissertação: para além da tese científica (único modo até então de dissertação) serão também possíveis a realização de um projecto numa empresa e a realização de um projecto do tipo Capstone.

Todas estas mudanças não surgirão sem o back-up necessário, antecipando-se a criação de comissões para cada assunto, desde as relacionadas com as actividades extracurriculares e as HASS até às com os projectos integradores de 1º e 2º ciclo, e até Março de 2020 deverá ser dada a aprovação final, prevendo-se o kick-off para Setembro de 2021.

Com uma mudança estrutural desta magnitude, surpreendente seria a aceitação de todo este projecto sem contestações ou dúvidas e foi precisamente esta a secção que, percentualmente, ocupou mais tempo da sessão. São preocupações como se os tempos disponíveis para passar à acção todas as mudanças estruturais mencionadas e simular o MEPP serão suficientes, se os espaços de estudo sofrerão melhorias ou se é tudo “fogo-de-vista”, a aparente falta de preocupação com o corpo de alunos em Doutoramento, entre outras. Em adição, o rompimento do grau de Mestrado Integrado (a maior parte dos cursos do IST encontram-se neste grau) em isoladamente Licenciatura e Mestrado, mostrou-se uma fonte de inquietação muito relevante para os alunos. Se só a Licenciatura encontrar segurança debaixo da asa da luta pela propina mais baixa, e se ela sozinha não assegura, como posto em causa pertinentemente por um aluno, o conhecimento ou estatuto de um Mestrado Integrado (e, portanto, não assegura o mesmo leque de oferta de emprego), então o possível custo de um Mestrado revela-se uma clara preocupação.

Ainda há tempo para os alunos intervirem activamente nestas mudanças, informarem-se, questionarem os órgãos devidos. Há uma palavra que só aos alunos pertence e o CP reconhece isso – reconhece esse papel – e apela a uma participação activa, disponibilizando-se para esclarecer todas as dúvidas[3] relativas a este assunto tão relevante, um verdadeiro ponto de inflexão na cultura do IST, em que todos somos variáveis desta função, quer o reconheçamos quer não.


Notas:

[1] CAMEPP Final [.pdf ~3,4 Mb]

[2] Conselho Pedagógico – Modelo de Ensino e Práticas Pedagógicas

[3] Para questões relacionadas directamente com o PERCIST: mepp@tecnico.ulisboa.pt

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