Música clássica no Técnico – a história da CEIST

Autoria: Catarina Andrade (LMAC) e Leonor Castelo (LMAC)

No passado dia 21 de março, tivemos a oportunidade de conversar com Clara Simões e Simão Leal, a presidente e o tesoureiro, respetivamente, da Camerata de Estudantes do Instituto Superior Técnico (CEIST), sobre a criação e o funcionamento deste núcleo, assim como os desafios que enfrentam.

À primeira vista, a música clássica e o Técnico parecem viver em mundos distintos, mas, no final do ano letivo de 2021/2022, um grupo de amigos decidiu desafiar esta ideia e criar um núcleo que permitisse cultivar e partilhar o seu gosto pela música clássica com todos os estudantes. E, desde então, o lema da Camerata mantém-se inalterado.

Clara teve conhecimento da Camerata através de alguns cartazes de divulgação, afixados nas paredes do Técnico, e foi nessa altura que tentou contactar o grupo (via e-mail). Não obtendo resposta, Clara explicou que decidiu ligar a um amigo que conhecia alguém na orquestra e acabou por conseguir marcar uma reunião com alguns membros. Nessa altura (ano letivo de 2023/2024), a direção antiga da CEIST não demonstrou grande interesse em dar continuidade ao projeto. Apesar disso, Clara e alguns elementos, que não faziam parte da direção, queriam manter este núcleo vivo, e, para tal, decidiram aceitar cargos de chefia cada um. Outro problema relatado nessa reunião foi a falta de ensaios regulares, especialmente devido à dificuldade de arranjar um sítio para ensaiar e também à falta de confiança no potencial da CEIST.

Num espaço de duas semanas, tiveram o primeiro ensaio “numa cave do pavilhão de Informática, nos anfiteatros, onde ensaiam as tunas – foi caótico”, relembra Clara. Um dos maiores desafios da Camerata continua a ser encontrar um espaço de ensaios, pois as salas disponíveis no Técnico são limitadas e “altamente concorridas pelas tunas”, acrescenta Clara. A solução temporária partiu do grupo de Teatro, GTIST, que cedeu a sua sala para os ensaios, nascendo daqui uma parceria e amizade entre os dois núcleos.

O primeiro concerto aconteceu dois anos após a criação da Camerata, na sala do GTIST e contou com 7 músicos, “Nós achámos, e eu fiz bastante força para isso, que iríamos fazer o concerto seja com 4 pessoas, seja com 3, não interessa, vamos fazer qualquer coisa”, disse-nos Simão, entre gargalhadas. E, com esta iniciativa, o grupo conseguiu trazer mais duas pessoas para a orquestra, “Grande parte dos novos membros e a atração que temos ganho foi muito à base deste tipo de divulgação [concertos]”, acrescenta Clara.

Um nome fundamental para a continuidade deste projeto é a engenheira Fátima Rodrigues, que segundo Clara e Simão, tem sido essencial na divulgação e coordenação do grupo. Graças a este contacto, surgiu a primeira parceria com a Universidade de Lisboa, que convidou a orquestra para tocarem na cerimónia do Doutoramento Honoris Causa. “Serviu para divulgar o grupo, porque estava lá muita gente com cargos muito importantes”, explicam. Seguiram-se atuações em cerimónias do Técnico e da ULisboa e o primeiro contrato financiado, com o Departamento de Bioengenharia: “Foi a primeira vez que eu me apercebi que podemos arranjar maneira de financiar isto [a Camerata]”.

Quando questionada sobre o apoio do Técnico e da AEIST, Clara respondeu: “Sinto que há uma certa negligência do Grupo Estudantil nesse aspeto. […] Em relação à Associação de Estudantes, especialmente à direção antiga [2023/2024], se eu posso dizer que nos ajudaram a arranjar espaços? Não. Nós tivemos sorte porque o Grupo de Teatro nos quis ajudar”. Simão acrescenta: “É muito frustrante, porque em julho já temos os concertos marcados […] só que nós não sabemos onde e quando são os ensaios”. Porém, reparam que a nova direção da AE e  o Conselho de Gestão do IST têm mostrado mais interesse em ajudá-los a encontrar um local para ensaiar.

A angariação de novos membros é outro desafio. Ao contrário de outros núcleos que oferecem formação, a Camerata exige experiência prévia: “Nós temos um niche de pessoas que, por acaso, toca música clássica e já é experiente. […] Acredito que haja muita gente que não saiba da nossa existência”, afirma Clara. Simão reforça: “Um problema que nós temos é que 75% dos nossos membros são amigos de amigos, e a coisa construiu-se dessa forma […] gostaria de receber mais candidaturas espontâneas”. Para combater isto, a Camerata marcou presença, pela primeira vez, nas feiras de receção aos novos alunos e noutras iniciativas, além de reforçar a sua participação nas redes sociais.

A conciliação entre a música e os estudos não é fácil, especialmente num ambiente académico exigente como o Técnico. No entanto, para Clara e Simão, o esforço dedicado à Camerata valeu sempre a pena. Sobre este equilíbrio, Clara comenta, entre risos: “Eu sou apologista da frase ‘Quem corre por gosto não cansa’. […] Nunca me arrependi de passar horas a mandar e-mails para tentar conseguir que alterem a hora do ensaio”. Para Simão, todo o trabalho e dedicação culminam em momentos de realização pós espetáculo. “No concerto do final do ano passado, […] numa igreja bastante grande, […] senti um grande orgulho. […] Todas as dores de cabeça valeram a pena.”, comenta.

Por fim, Clara e Simão refletiram sobre o papel da música clássica e deste núcleo no Técnico. Sobre este tema, Clara pensa que a presença da Camerata tem como propósito alimentar o interesse dos apreciadores de música clássica, oferecendo-lhes mais oportunidades para consumirem este tipo de música. Contudo, Simão reconhece que ainda existe um certo distanciamento entre o público jovem e a música clássica, muitas vezes vista como inacessível: “Há um pouco o estigma um pouco elitista que a música clássica é para ‘pessoas mais velhas ou ricas’, o que eu acho que é falso, porque cada pessoa pode apreciar qualquer tipo de música, inclusive música clássica. Acho que o nosso papel ainda é bastante pequeno nisso, quando comparado com outras orquestras, mas dentro do Técnico temos um grande papel”, ao proporcionar um espaço para estudantes apaixonados por música e permitir a todos assistir e apreciar este género musical.

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