Why I Didn’t Report: Testemunhos 4

Testemunho 1: Anónimo

Sou rapaz. Quando tinha 14 anos fui beber com uma familiar e a sua namorada (23 anos). Adormeci e acordei a meio da noite com a rapariga em cima de mim. Foi a minha primeira vez. Demorei vários anos a perceber a gravidade da situação e quando contei a essa minha familiar, ela disse-me para guardar segredo e nem terminou a relação.

Testemunho 2: Anónimo

No verão em que tinha 10 ou 11 anos, fui passar uma semana à casa de férias dos pais de duas amigas minhas. Íamos as três todos os dias às piscinas públicas da zona que eram relativamente perto de casa e estavam sempre cheias de gente. Um dia, completamente nublado e meio chuvoso, fomos, mas não estava lá ninguém. Como pensávamos que estávamos sozinhas pusemo-nos as três a lutar na toalha, umas em cima das outras a rir, brincadeiras normais. De repente olho para trás e está, um pouco mais afastado, um homem a masturbar-se e a olhar para nós. Pegámos em tudo e corremos o mais rápido que pudemos para casa. Foi das primeiras vezes que realmente não me senti segura. Na altura não dissemos nada a ninguém, nem falámos mais sobre isso, não sei bem porquê, talvez não quiséssemos lidar com o assunto. Hoje sou a única que se lembra deste episódio ter sequer acontecido.

Testemunho 3: Anónimo

Foi numa saída à noite, estava num bar com amigos a conviver normalmente. No nosso grupo estavam também alguns amigos de amigos, que não conhecia. Fui simpatizando com um destes rapazes que não conhecia, começámos a falar, e como lá dentro o barulho era muito alto, fui lá para fora com ele para conversarmos melhor. Quando saímos, não estava mais ninguém nessa rua. Ele empurra-me contra uma parede, agarra-me e aperta-me com força, de maneira a eu não conseguir sair, e começa a insistir freneticamente para eu o beijar. Eu pedi muitas vezes para ele parar, mas ele não parou. E com o tempo foi ficando mais agressivo. Comecei a sentir o desespero e dei-lhe um beijo forçado, e nesse momento consegui escapar. Não sei o que teria acontecido mais se não tivesse conseguido. Quando cheguei ao bar, encontrei uma amiga minha e, como é mulher, pensei que ia compreender o meu medo. Mas ela disse-me que a culpa era minha. Que eu não deveria ter saído dali sozinha com ele. Que, antes de ter saído só com ele, deveria ter pensado que isso me poderia acontecer. E não contei a mais ninguém, com medo que dissessem outra vez que a culpa tinha sido minha.

Testemunho 4: Anónimo

Há 1 ano e meio, no metro, linha amarela, sentei-me num dos lugares junto à janela, mesmo no canto da carruagem. O metro encheu, estava entretida no telemóvel até ter sentido uma mão na minha perna, olhei para o lado e estava um senhor imóvel, pensei: é da minha cabeça. Passado uns dois minutos, senti de novo uma mão a percorrer a minha perna, escolhi-me toda junto à janela. Metro cheio, fiquei com medo de me levantar, olhei para o rapaz da frente, mas não sabia o que fazer/dizer. Resumiu-se numa viagem de metro com a mão do senhor sempre junto à minha perna.

Testemunho 5: Anónimo

Era super nova. Tinha dado o meu primeiro beijo com ele uns meses antes, mas nem tínhamos falado sobre isso. Numa festa com amigos, com muita bebida à mistura, acabámos num quarto a beijar-nos. Mas era só isso que eu queria. Eventualmente, sem qualquer tipo de autorização ou de sinal para mais, ele pôs a mão dentro da minha roupa e começou a tocar-me. Fiquei assustada. Eu não estava pronta para aquilo nem queria que fosse com aquela pessoa. Fui-me embora dali. Durante meses aquela situação vinha-me à cabeça como um pequeno trauma e durante anos e anos não conseguia olhar nem falar com ele como deve ser. Outros amigos perceberam que o beijo tinha acontecido, mas sempre quis evitar o assunto e acabei por nunca contar a ninguém que tinha estado numa situação que odiei. Sempre achei que na sua opinião iria estar a exagerar e que se calhar até tinha dado sinais. Mas hoje em dia espero que toda a gente perceba que um beijo só não é consentimento para mais nada se a pessoa não for explícita sobre querer algo mais. Eventualmente acabei por o perdoar na minha cabeça porque um dia ele perguntou de uma forma inocente porque é que o odiava e eu percebi que ele na altura se calhar era só um puto estúpido sem noção das coisas que se calhar também tinha bebido demais.

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