Elegia a Eduardo Lourenço

Autoria: Samuel Neves, MF (FLUL)

Ó pombinha nívea, que sabes Tu das viagens ao céu?

Paira no ar álgido e dolente

Eflúvio nupcial e silente,

Que flutua no vento noturno

Sob o sombrio luar soturno.

Ah! São cantos de rouxinol

Anunciando o jucundo arrebol…

Pulula Tua cantata no céu astral!

Escutá-la é beber do Santo Graal!

Ó pombinha nívea, que sabes Tu  das viagens ao céu?

Nasceu condenado à morte,

Não sei se por azar ou sorte,

O menino de liberdade na palma.

Leva-o contigo! Salva-lhe a alma!

Suas palavras são fogo ardente

Na alma pura de quem as sente.

Ah! Como a sua poesia flui,

Tão serena me penetra e ablui!

Ó pombinha nívea, que sabes Tu das viagens ao céu ?

Como é possível tanta mudança?

Tanta é que mata a esperança…

Ó vento funesto que mágoas derrama!

Ó vento pútrido que minha alma inflama!  

Venha o Espanto ao mundo dos mortais!

Vinde! Vinde ofuscar nos homens os ais!

Como cabe tanta dor no meu coração

Do tamanho de um punho cerrado em vão?

Ó pombinha nívea, que sabes Tu das viagens ao céu ?

Leva-me ao cume do monte

Para contemplar o horizonte…

Para olhá-lo com encanto 

E adormecer meu pranto.

Deixa-me sentir o silêncio barulhento!

Deixa-me sentir a presença do seu alento!

Ainda O sinto movendo a Vida

No labirinto da Saudade sentida!

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