Porquê?

Autoria: Anónimo

Sinto e sou, neste momento. O sangue flui pelas minhas veias dilatadas, o calor emana da minha face febril. Mas às vezes não… às vezes sou pequeno, a minha cabeça enevoada só serve para comprimir o meu pescoço, os meus olhos baços olham para dentro e para o Além, em busca de algo, de algum propósito ou definição, que não lá está. Não só não está lá, como pode nunca vir a estar, e este pensamento apenas me difunde ainda mais. Sinto-me espalhado e distante, o meu Eu estará algures no meio desta poça de pensamentos? Não… Já muito procurei e ele permanece ilusivo, esconde-se atrás dos móveis, das portas, do espelho até. Sinto a mão a desfilar para trás e para a frente, mas ao mesmo tempo não poderia estar mais distante.

É nesta realidade que um se pergunta “porquê?”. E que pergunta é esta, se o simples facto de surgir é indicativo de que algo está muito mal? Mas este reconhecimento não é suficiente para nos elevar deste mundo plano e nos dar a cor com que sonhamos. Não… esta pergunta leva-nos numa viagem pelo poço abaixo, a perseguir a luz que nada mais é que o ténue reflexo do luar. Lemos, ouvimos, e pensamos sobre este dilema. Todos têm uma resposta e nenhuma delas fala connosco, porque as palavras só conseguem chegar aos nossos ouvidos, mas a nossa carapaça é dura e não as deixa passar. Assim é melhor, porque as palavras não nos fariam nada bem: as poucas que entram ficam cá dentro perdidas, em busca da estabilidade da frase que, quando formulada, nos apenas diz para continuar a descer.

E é este o problema daquele que indaga os Motivos Maiores, a demanda que parte de um sítio muito diferente que qualquer interesse científico ou curiosidade infantil, pois, para aqui chegar, já esse fogo morreu há muito, e apenas um relâmpago pode reacender a nossa alma, e o seu estrondo fazer-nos olhar para cima, para fora do poço, para o céu e para as estrelas.

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